Monday, January 04, 2010

Prefiro a periferia

Mas ela não me escolheu

Saiu um jovem algemado e seis policias da estação de metro do Bolhão – era cabo-verdiano e na noite de ano novo teve um ataque de nervos e chorava em frente à Culturgest porque um homem de nacionalidade portuguesa lhe queria enfiar uma garrafa no olho;
Uma cantora ofereceu um conjunto de borboletas vivas à filha por altura do aniversário;
Na loja de cópias, um senhor  tirava cópias a uma colecção de recortes de notícias sobre o Amor, publicadas no Primeiro de Janeiro – na vandoma aprecem muitas vezes este tipo de colecções amarradas por uma cinta de papel – reparei que o senhor estava bem disposto e que era muito parecido com a fotografia da pessoa que se apresentava ao lado dos textos.

Ensaio para um texto que poderá ser muito mais curto do que aprece aqui.
O que se pretende: explicar economia a partir de outra perspectiva; colocar a economia em debate avançando com propostas possiveis. 
E ainda, o maravilhoso amadorismo sem o qual não havia escapatória. 


O valor de um livro  
Há dois anos que editamos e vendemos os nossos livros. De um modo claro averiguamos o valor de cada um através da simples divisão do valor de impressão pelo número de exemplares – nem mais nem menos. Tentamos não excluir ninguém pelas suas fraquezas económicas. No entanto com o tempo, reparamos que a nossa ideia do valor de um livro divergia demasiado do valor real do mesmo (isto é, contabilizando todas as etapas processuais, e não por comparação ao mercado livreiro ou aos circuitos de book arts, que pouco nos dizem). Concluímos que não é pelo valor ser baixo que conseguimos chegar ao público e, ou passávamos a pensar no valor de raiz, ou estaríamos condenados a fazer deste o último livro.  
Quisemos então reflectir sobre o valor singular dos nossos livros, mas primeiramente pensamos se queríamos mesmo continuar a fazê-los (ser editores/produtores) e consequentemente, se queríamos comercializá-los (ser comerciantes). Dispensaríamos a consequência lodosa, mas sim, avante com os livros porque isso nos dá prazer (que é o mesmo que dizer que precisamos de os fazer). Concluímos então que, ainda que pensar num outro valor significaria metermo-nos num aborrecimento de cálculos e equações, não tínhamos escapatória. Ou era isso ou a pedinchice – uma vez que as nossas economias já foram gastas. Há uma longa tradição em endividamentos por conta de editores excêntricos que se arrastam em dividas e com uma cauda de livros, ainda assim, por vender. 
E poderíamos nós escapar a isso? Tentamos manter-nos numa relação, ainda que de amantes-amadores, relativamente saudável com a editora (...). Enfim, não sabemos onde chegaremos.  Mas se calhar podíamos passar ao lado da moeda? Claro que poderíamos fazê-lo desde que a gráfica aceitasse que lhe pagássemos de uma outra qualquer maneira. Até agora preferimos o pagamento em livros a quem o aceita, por exemplo aos autores que os podem vender/oferecer/trocar mais tarde, mas nem sempre isso é aceitável. Não deixamos (mas desejamos) de integrar uma economia, ainda que pequena e peculiar, dentro de outra economia.  
E assim, bastou alguma paciência para chegar ao valor X a partir do qual tornamos mais ou menos claro e objectivo o que se paga quando se paga um livro nosso. O valor X é o valor da impressão. Todos os valores se definem em relação a X.   
Este cálculo, igualmente amador, decorrente da prática da economia no sentido mais básico, serve para acharmos o valor de um livro em termos relativamente precisos. Ora, mas o que vale realmente um livro que tem uma longa duração, que foi usado, enquanto objecto no qual se projectam outros valores subjectivos? Não sabemos – é oscilante e incerto.

(Calculos do valor de X mais tarde)

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