Monday, December 10, 2007

VERONICA VITAL

Acrescenta-se mais um(a) à lista de nomes. E ela confessa-se:
1.
Sou realizadora de dois pequenos filmes de pornografia alternativa, não comercial, concebo enredos e guiões para filmes de outros realizadores e escrevo com regularidade sobre pornografia para diversas revistas da área – infelizmente, direccionadas para um público masculino. Ambiciono dirigir uma revista ou jornal online que aborde este tema a partir de uma nova perspectiva – certamente mais “correcta”, mais diversa e educativa.

2.
Sou uma curiosa, amadora de imagens em movimento de carácter pornográfico - não sou uma especialista em cinema, em género ou sexologia. Interesso-me pela História desta categoria de imagens, defendo uma nova pornografia e pretendo desenvolver projectos que me ajudem a encontrar uma melhor ligação com a pornografia e o seu meio.
O testemunho que aqui darei basear-se-á no meu percurso pessoal e na experiência partilhada com outros interessados em desenvolver trabalho a partir desta gaveta de imagens proibida.

3.
Nasci nos subúrbios de uma cidade relativamente pequena. Nos primeiros anos da adolescência consumi com alguma naturalidade “pornografia de quiosque” e durante um longo período de tempo deixei de o fazer motivada não tanto pela questão moral que se poderia afirmar como um obstáculo, mas por receio do efeito que já na altura aquelas imagens me provocavam - a pornografia causavam-me oscilações de ritmo respiratório e quanto mais continha e tentava normalizar, mais embaraçada ficava. Enfim, desde cedo, interessei-me pelo assunto.

4.
Actualmente tenho uma pasta de favoritos da Web consideravelmente ampla com o nome “Porno” onde estão elencados os sites de: realizadoras, produtoras, distribuidoras, actrizes, revistas, festivais, salões e blogs. Frequento com regularidade estes sítios para estar a par da actividade dos seus autores e previamente saber o que estão a preparar. A ronda à pasta é rotineira, e faço questão em não a esconder no desktop. Por vezes ocorre-me se não estarei exposta às questões legais relacionadas com a visualização destas imagens (fixas e em movimento, associadas a texto e som).

5.
Em Portugal tal como na maioria dos países europeus é permitido o consumo, dentro e fora da Web, restrito a maiores de idade, são tolerados todos os géneros à excepção dos casos previsto por lei, relacionados com a exploração de menores, casos de abuso e situações limite de violência com e sem consentimento.

As medidas de censura que existem são mais eficazes na proibição da comercialização e exposição deste material em lojas, sendo ou não especializadas, nos video clubs, nos cinemas e no âmbito do espaço público em geral. A aplicação destas medidas na pornografia que tornam o acesso tão restrito, ao bloquearem material considerado obsceno e capaz de incentivar à violência, reduz a possibilidade de contacto com um campo mais amplo da pornografia – porque generaliza e não contempla desvios.

A “pornografia de quiosque” – designação que uso com frequência para falar da pornografia de fraca qualidade, criativamente limitada, repetitiva, barata e estereotipada – através das imagens que nos apresenta, das representações da sexualidade que nos oferece, impõe-se como modelo que não está nem de acordo com a nossa sexualidade nem com o que dela se deseja. Este género (se assim lhe podemos chamar), infelizmente é o que passa no circuito de vigilância e ao qual temos mais fácil e imediato acesso.
(mais um excerto da conf. de sábado)

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