Monday, March 30, 2009

1. O cabelo comprido serve para duas coisas Segundo Últimas Análises:
Disfarce – não se é reconhecido como o mesmo desde o verão passado;
Orgulho – se o cabelo se aguenta é porque há boa água neste país e menos motivos de angustia.

2. A minha irmã tem um cabelo muito bonito.
O Pedro quis mudar para Norte e retirou o que tinha.
O Ricardo aparou as pontas e parece igual, mas já não está escalado.

3. O que eu mais gosto de fazer é não escrever e ficar todo o dia a ler.

4. O que eu mais gosto ainda é de não me sentir culpada por ler e não fazer mais nada.

Friday, March 27, 2009



Wednesday, March 25, 2009



Não esquecer Ada Lovelace.
Quando tenho sonhos entre Portugal e África, vou ao Ceuta.

Sunday, March 22, 2009

DOMINGO






Electricidade
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Um micro apagão aconteceu ali mesmo quando me deitei num banco do jardim com uma profunda satisfação em dormir ao relento e atirei uma pedra ao lampião com o objectivo de o partir. Este acontecimento, de abrir um buraco escuro numa cidade violentamente iluminada agrada-me e confesso que não foi o primeiro, muito menos será o último apagão vindo de alguém com sono e com o sentido prático de dormir em qualquer lado. Preparado para dormir, aconchegado com os alguns pensamentos a rondar decido por um menos intenso, talvez o resultado do dia, ou os planos do dia seguinte ou o passado recente ou qualquer coisa mais simples. Imagino como sou visto: um jovem a dormir num banco de jardim com bom aspecto. Quantas pessoas dormem nos bancos e nas praças com bom aspecto? Poucas, realmente. Tenho umas sapatilhas brancas pouco usadas, umas meias de tenistas com duas riscas verdes, umas calças de fazenda vincadas de cor beije, finas e de malha larga que deixam passar o frio, um cinto castanho, um pólo braço e uma camisola de malha com gola em “V” também verde. Estou confortável e só tenho frio nas pernas. Os pés estão bastante quentes. Tiro as sapatilhas e descalços as meias suadas. Coloco-as ao meu lado no relvado. Sei que com os pés quentes não consigo dormir. Meto as mãos para dentro das mangas e abraço-me para voltar ao sono. Estou preparado para dormir. Passa alguém que me vê. Tento ouvir os comentários. Demasiado longe, não pude reter uma palavra. As vozes anularam-se com os motores dos carros. Passam carros todo o dia e à noite há muita actividade nesta zona. Insisto em esquecer o som dos motores para ter condições para dormir. Entretanto escuto um caracol que se arrasta pelas folhas que estão no chão. Tenho a certeza que é um caracol porque gosto especialmente deste animal. Faz o seu percurso passando transversalmente pelo meu banco. Demora. Escuto a lava que adere às coisas e que o faz mover. É curioso pensar que os caracóis têm filhos por um orifício na cabeça – como os escritores e os artistas, tudo lhes sai pela cabeça. Enfim, volto-me com a barriga para cima e as mãos cruzadas no peito e concentro-me na respiração, abro a caixa torácica e fecho-a outra vez. Aos poucos vou abrandando o ritmo da respiração, tento levar o corpo a mexer-se o menos possível. Quase que adormeci embalado pela folhagem miúda que se agita cá em baixo e pela copas pesadas das árvores. Passa novamente alguém, um casal, falam alto, parecem bêbados. Devem ter saído de algum espectáculo. Os passos da mulher abrandam perto do banco, escuto-a a dizer: “Acho que devíamos chamar a policia, o que faz um tipo com bom aspecto aqui deitado, no meio desta escuridão?”. Levanto-me subitamente, com os olhos a sair das orbitas e os braços estendidos e prego-lhes um susto.

Onde eu estava mesmo, era deitada no quintal dos meus pais, ao meio dia, com um casaco grosso de carapuço vestido, mesmo fazendo muito calor, a ouvir sons: da água dos canos que passam por baixo do terreno, das televisões ligadas que vinham do interior das outras casas, dos pássaros a apanhar as migalhas que a minha mãe deita no chão, dos aviões a meio da rota, o som das cozinhas, as vozes dos adultos e os berros das crianças. Estava com os olhos fechados e as mãos por cima da caixa torácica. Os meus pais aproximaram-se e perguntaram-me porque estava ali há tanto tempo – “O que fazes?”.

Friday, March 20, 2009



Patrícia H explica que escrever é difícil, não tanto pela complexidade da escrita, mas da ideia. A escrita deve ser directa. A ideia não.

Thursday, March 19, 2009



(dia 27 aqui no porto)

Tuesday, March 17, 2009

Conflict
Animals are as important a part of nature as the trees and grass and flowers. There is some evidence, in addition, which suggests that contact with animals may play a vital role in a child's emotional development.
Resolution
Make legal provisions which allow people to keep any animals on their private lots or in private stables. Create a piece of fenced and protected common land, where animals are free to graze, with grass, trees, and water in it. Make at least one system of movement in the neighbourhood which is entirely asphalt-free- where dung can fall freely without needing to be cleaned up.

ESCOLA DAS GATAS
breve descrição

O meu encontro com este sítio foi por acaso – imaginava tanto que havia uma Escola para Gatas como um “Teatro para Plantas”.

Nasceu a primeira gata em Março, a segunda pelo Verão e a terceira no Outono; uma cinzenta, uma preta e uma branca. A reacção mais primária que tive foi humanizar e infantilizar as gatitas: garantir o conforto com mantas e tralhas, ratinhos de lã e comidas especiais, esperar um sorriso quando se faz uma graça ou qualquer movimento parecido com um agradecimento. Enfim, eram umas “Gatas com Botas”! Ou seja, no início forcei-as a caber na minha configuração do que deveriam ser as gatas para os humanos. Durante meses não aprendi nada com elas e cheguei a descrever que a Escola era um sitio onde as meninas-gatas faziam lavores.

Um dia, quando fui regar o jardim - já agora gostava de saber, em qualquer altura, qual a opinião dos outros moradores daqui de casa que comigo devem ter tido acesso à Escola - e parei para ler um livro, a gata preta puxou-me a perna, o que não queria dizer nada excepto que ali havia sombra ou que a perna cheirava bem. E por precaução procurei saber se estavam todas por perto – tenho receio de as perder ou que se metam em sarilhos com os gatos vizinhos. Enquanto a preta se enrolava ainda na perna, a cinzenta saltava a agarrar moscas e gaivotas e a branca corria entre canteiros de plantas. Quando se cansaram deitaram-se à sombra ou perto de uma área pequena de sol.

O que isto quer dizer? Nada de mais. A Escola das Gatas é quando e no sítio onde aprendemos, sem elas nos ensinarem, a esfregar as costas no cimento, a lamber e sorver directamente o leite da taça, a passar tempo ao sol, a arranhar a madeira, a trocar afectos descomprometidamente, a dormir por aí encostados e a sair à descoberta.

Não é solidariedade para com o mundo animal. Apenas o estimo como outra forma de vida exemplar.

Sunday, March 15, 2009



No outro dia nas aulas procurei saber entre os alunos se havia uma nova abordagem estética na bd underground – até agora estávamos (ainda) a ser amamentados por Crumb e Aline, os reis da parada. Comprei um livro que me leva a creditar que há algo de novo a surgir por aí – não é a técnica, o material, nem nada que se pareça que entre no campo formal, é o modo, é a narrativa.

Literatura, sec XIX, que propõe o neo-primitivismo...
Cruzamento com a Biografia da escritora criminal obcecada por caracóis (espantosa coincidência!).

A Escola das Gatas, que posso dizer?
Uma descrição de uma escola animal?

Sobre a lista de actividades citadas recentemente, só segui o conselho de mais um livro sobre escapismo e redigi-as numa viagem de comboio.

Comboio, já não viajo de nenhum outro transporte que não seja o metro e o comboio.

Thursday, March 12, 2009

O RELÓGIO CAPITAL





Assume-se qualquer coisa de extraordinário a beijar um caracol-tempo.

[Procuro imagens de mercúrio: parti um termómetro, experimentei com luvas e máscaras, mas o mercúrio estava seco. Cheguei a pedir na farmácia, mas é totalmente impossível explicar-lhes que é realmente necessário fazer um bocadinho de mal à saúde.]

Wednesday, March 11, 2009

EU ESTIVE LÁ

Monday, March 09, 2009

(A Wanda II saiu sem lançamento
uma vez que vamos lançar uns dois
livros quando o vento estiver favorável.
A II Wanda é uma publicação impecável
com o mesmo tema da anterior por um
preço adequado. E por fim, termina o ciclo)

Friday, March 06, 2009



Tuesday, March 03, 2009


Como é sabido eu gostaria de fazer programas de rádio e não estou triste por não ter funcionado todas as vezes que tentei. Agora é a minha irmã que quer recomeçar e eu arrasto-me. Ainda agora chegamos a casa e não saímos logo do carro porque estava a dar um bom programa de rádio: uma entrevista (gosto bastante de entrevistas como as do mike kelley - qualquer dia!...). Acontece-nos isto com bastante frequência. A rádio é um excelente formato - não precisamos de fixar o olhar em nada, nem do olhar para nada - descansa.

O meu mais bonito projecto de futuro é fazer livros lidos. E isso tem vindo a atrasar-se e eu não me importo.

O que eu mais invejava em toda a gente que conhecia era o tempo.

Art for the people, WILLIAM MORRIS, guardado na cristaleira até hoje (comprado com mais dois volumes oferecidos, na Freedom Press, Aldegate East).