Sunday, September 28, 2008

CATASTRO-SOPHIE COMMANDS THE SEA
No Fim de semana: auto-combustão da minhota mais pequena do mundo e a charlatã medrosa. Inesquecível.
(performance partilhada, partida e usada)

Friday, September 26, 2008

uma flecha na testa no wordpress, obrigado Mário e Sr. Ostra.
Há uns tempos uma amiga minha disse-me que já não saia como antes, que preferia investir em conversas que mereciam a pena. Desde então assinalo todas as conversas que são assim, densas ou ligeiras, curtas ou demoradas, mas que, pela intensidade, nos satisfazem com o tal “ merece a pena”. E com rigor, no meu vocabulário, uso a expressão com alguma raridade.

Na sexta feira passada aconteceu estar a conversar com um amigo e, a certo momento, ele ter dado exemplos de como se conseguiam, lá fora e cá em Portugal há uns tempos atrás (se bem que eu não me lembro) de forma totalmente inovadora, apoios financeiros para projectos artísticos. O momento chave foi: ”burocracia, para quê?”. O entusiasmo com que falava, mostrava que todo o seu interesse recaía apenas sobre um só aspecto - na forma como era feito o pedido e como muitas vezes era usado para o desenvolvimento de um projecto artístico em si. Estou de acordo, novas propostas serão bem-vindas, principalmente as mais criativas para a desburocratização dos processos de financiamento e para, consequentemente gerar crise no meio.

Alguns argumentos serão necessários para expôr este ponto de vista. A burocracia excessiva não atesta qualidade da proposta apresentada nem faz justiça às capacidades e competências do seu autor; o preenchimento de inúmeras folhas de candidatura e a utilização da linguagem verbal não faz justiça às propostas de projectos nas áreas da música, da dança, da performance, do teatro, da pintura, do vídeo, das publicações; os critérios de avaliação não são os mais adequados; a burocracia cria uma imagem de seriedade e legalidade que pode ser facilmente manipulada de acordo com vários tipos de interesse e favoritismo; a selectividade considerada essencial constitui uma ameaça à liberdade de expressão, logo, empobrece o que o público recebe enquanto arte e cultura; entre outros argumentos.

Genericamente, a burocracia é entendida como uma forma organizativa, uma ordem que se estabelece, que nos devia ser minimamente útil. Mas não é, na prática da sua aplicação porque se torna rapidamente numa forma de exclusão relativamente arbitrária.

Na construção da minha opinião, estimulada pela tal conversa “da pena”, pesou a constatação que a burocracia, como processo de aceder a financiamentos públicos e semi-públicos ou privados, tal como a conhecemos, está desactualizada.

Existem duas propostas concretizáveis que considero interessantes. A - apresentações de propostas e provas de competências nos formatos que o artista considere mais adequado não recorrendo necessariamente à linguagem verbal para isso; apresentações orais que ajudem um júri (competente e isento) a melhor avaliar ambos os factores. B – apresentação mínima de um diploma de ensino (não é obrigatório que seja na área) e de uma proposta que demonstre iniciativa própria; aprovação de todas as propostas apresentadas às quais seria oferecido o mesmo valor.

Entre as vantagens de propostas semelhantes, a promoção da diversidade cultural parece-me a mais importante.

(texto a ser continuado, um dia, destes)
Volto da Croácia no fim de semana para apresentar, com a Girafa, a mulher mais pequena do mundo em carrinho de rolamentos.
Sinto falta das minhas gatas.
Sinto falat de poder entrar em sítios onde estou proibida de ir, mas protno! Que posso fazer!?

Wednesday, September 24, 2008



1.Persona Persona Per-sona! Vou às boas raparigas. Alguém se junta?
2.Politica Personal e Social: casamento só com uma mulher.
3.Eu gostava de escrever para revistas suspeitas todas as semanas.
4.Que opinais vosotros?

Entretanto a Isabel vai ordenar leituras e meter livros nos correios.

Friday, September 19, 2008

ALVA E AURORA

Wednesday, September 17, 2008


Parte I
Conto do século XIX, para (a Ana) ler nas viagens de comboio

Sou uma casa com três pisos – se não fosse eu a contar o que vou contar não se saberia o que tinha acontecido, porque no final não ficou aqui ninguém para escrever uma linha ou gravar um som. Quando me descobriram, no estado em que estava, abriram-me ao público – nem a múmia, nem os outros cadáveres os impressionaram. Tiveram que desenterrar alguns objectos escondidos, cuidaram de os limpar e envernizar, encobriram o cheiro com perfumes e revelaram as minhas ruínas.

Ajudaria se houvesse um calendário com um dia marcado para mostrar quando é que tudo começou. De qualquer maneira, penso que deve ter sido por volta de Maio, com sol e calor. Sou testemunha material do sucedido, mas mais do que isso, confesso que fui cúmplice.

No início tinha cinco quartos revestidos de papel castanho padronizado todo diferente, o chão coberto de alcatifas, duas grandes varandas, um jardim, duas casas de banho, uma cozinha, uma sala, corredores e um sótão. Alguns armários, mesas e o número de cadeiras básico, quatro bancos, louça, talheres, peças de cera, porcelana, vidro, madeira, que decoravam a sala – mais nenhum sítio tinha decoração. Uma casa típica da altura que tinha pertencido a um comerciante e que mais tarde foi arrendada.

Segundo a minha orientação, o sol atravessa-me diariamente. O sol é o elemento mais atractivo desta casa – dizem que irradio luz. Nos quartos entra uma brilhante luz matinal, na sala e na cozinha a luz do entardecer, pelas varandas recebo a luz mais forte.

Duas das moradoras, Aurora e Alva, tinham perto de vinte anos, eram típicas raparigas a viverem por conta própria numa pequena cidade portuária, profissionalmente ambiciosas, que saíam à noite, com amigos e romances, estudavam e liam, praticavam desporto e eram atentas à vida cultural da cidade. Conheceram-se aqui por casualidade e, antes que se imagine o contrário, não se davam particularmente bem. Em relação aos outros com quem compartiam o espaço, eram companhias agradáveis, prontas a partilhar histórias e cigarros, mas não se pode dizer que fossem afáveis. Alva contrastava com a personalidade de Aurora por ser tímida, observando com cuidado tudo ao seu redor. Aurora era impulsiva e com um comportamento que se podia considerar, para a altura, excêntrico.

Em Maio a Aurora saiu com um rapaz e a Alva com uma rapariga. Assisti à chegada das duas, por volta da mesma hora, já perto do amanhecer. Cruzaram-se na cozinha prontas para se deitarem. Já o sol se levantava aos poucos e em breve os raios entrariam sorrateiramente para inundar todo o espaço. Conversaram sobre si mesmas e acabaram por confessar as suas incertezas sobre o futuro. Entenderam que tinham muito em comum. Tinha-lhes sido até então impossível compreender e explicar certos acontecimentos e fenómenos pelos quais tinham passado e concluíram que precisavam de tempo e de espaço para se concentrarem – pelo menos em alguma coisa.

Aurora disse: “Com o sol que faz durante o dia, o que me apetece é não voltar a sair daqui!”, Alva concordou sorridente.

Não houve realmente, a partir do encontro entre as duas, um plano. O que aconteceu foi de improviso – até ao final. As duas em consenso propuseram aos restantes moradores a abolição do pagamento da renda, as obrigações de abrir e fechar a porta da entrada e decidiram dar novas funções aos compartimentos, nomeadamente aos espaços privados, permitindo, inclusive, que os corredores pudessem funcionar como dormitórios.

Os três moradores foram saindo por incompreensão das novas regras e por falta de simpatia pela nova ordem das coisas. Estavam confusos e deixaram-nas sozinhas para o início da construção de um puzzle de ligações que ocuparia os meus três pisos.

Aurora e Alva dialogavam em perfeita sintonia como se fossem a mesma pessoa com a vantagem de serem duas cabeças a funcionar (criativamente). Arrastaram a cama do sítio e amontoaram as peças de mobília – por baixo as maiores e mais pesadas, em cima as pequenas e leves. Levou-lhes dias a preparar o espaço e a esvaziá-lo tanto quanto era possível. Duas mesas redondas foram colocadas no centro da sala e num dos quartos, respectivamente, para que, durante o empreendimento, acompanhassem a luz natural.

Os livros e as bibliotecas rareiam neste século e não são acessíveis ao público em geral. As duas tiveram a vantagem de descenderem de famílias economicamente capazes de lhes permitir este luxo e por isso estavam habituadas a ocupar os seus tempos livres com leituras. Mas dos livros só lhes interessava agora a possibilidade de arrumar ideias e não os livros em si. Daí preferirem chamar cadernos às folhas de registos que preencheram compulsivamente durante meses.

Primeiro
Lista de cadernos que Aurora e Alva escreveram, desenharam e pintaram, para descrever e ilustrar assuntos escolhidos.

Caderno das regras
As regras eram importantes e escrevê-las era indispensável. Os “não” eram mais fáceis, daí a lista extensa. Alva disse: “Lá fora é tudo não, aqui também!”
Mas a listagem integrava apenas duplos “não”.
Não não fumar, não não comer fora das refeições, não não correr e saltar em casa, não não dormir até tarde, não não tocar órgão à noite, não não... Os “sim”, o que se permitiam fazer uma à outra, ficaram em branco porque não valia a pena dizer que sim a tudo.

Caderno dos animais conhecidos
Classificaram os conhecidos por espécies de animais fazendo uso de aguarelas sobre papel humedecido. Os rastejantes ficaram associados aos mais antipáticos. Os peludos para os que sentiam dó e piedade. Os mochos aos professores; as avestruzes às senhoras aprumadas; os peixes e os sapos para certos amantes. Os morcegos, os pinguins e as cegonhas ficaram em lista de espera.

Ao chegar ao final do dia, com chapéus de plumas e sombrinhas pequenas, enfeitaram as fêmeas que se pareciam com os parentes fêmeas, com roupa a condizer fizeram o mesmo aos machos e prepararam-se para um desfile de modas – uma das curiosidades foi como os meteram sentados nas cadeiras e como lhes dobraram as pernas, a outra foi como lhes empurraram cigarros para a boca. Confesso a minha perplexidade a assistir a tamanha crueldade ilustrada!

Caderno dos haveres
Lista de haveres: classificados por cor, ano de origem, material, textura, consistência, dimensão, função, som e cheiro. Registo por escrito, detalhado, do percurso de cada um dos objectos: do fabricante ao consumidor. Partiram a louça toda nisto, mas enfim, o mais importante era classificar. É de pouca relevância, mas a Aurora cortou-se no pé com um pedaço de um copo de vidro. Anotaram que o corte era importante se tivessem que organizar conteúdos para um caderno ou actividade relacionada com “acidentes domésticos”, “pés”, “feridas” e “vidros”.

Caderno dos poemas
Redacção de poemas cantados pelo vento e ouvidos por um canudo de papel. A começar pelo som mais agudo. Alva, que tinha melhor “caixa de ar”, repetia o som que ouvia enquanto Aurora tentava encontrar as notas certas para traduzir em pauta. O suporte eram os antigos lençóis da cama – ambas, por esta altura, teimavam em dormir no corredor como morcegos, daí os lençóis não servirem senão para isto.

Caderno do sol
Apontamento exaustivamente descritivo da influência do sol na temperatura, nas plantas, nas montanhas que se viam pela janela, na cor da pele, na abertura das pupilas dos olhos, no humor, nas cores e na água. Sem recorrer a nenhum desenho. Alva tinha a pele tão branca e suave que era quase transparente, por isso era ideal para fazer os testes de exposição solar numa escala de um minuto a oito horas seguidas. A pele de Aurora era morena e dura e não tinha qualquer peso no estudo.

Caderno dos pensamentos
Anotação de pensamentos comuns e divergentes, contraditórios, singulares, aborrecidos, impróprios e obscenos, violentos e agressivos. Os pensamentos que mereciam correcção foram escritos e logo apagados com a borracha.

Segundo
Lista de actividades desenvolvidas por Aurora e Alva

Actividade 1.
Açúcar em ponto pérola transformado em algodão doce. A cozinha foi convertida numa fábrica que produzia aquela matéria pegajosa que aos baldes era colada às minhas paredes. Atiravam-se à vez a ver qual delas ficava suspensa na zona mais alta. O objectivo era caminhar nos planos verticais, mas isso não chegaram a conseguir. Não tomaram banho depois.

Actividade 2.
Substituíram algumas das minhas paredes ainda livres por colunas gregas, aproveitando as vigas de suporte e recombinando os estilos clássicos conhecidos. Para além de poderem passar entre os espaços vazados ganhavam luz.

Actividade 3.
Converteram as escadas em rampas.

Actividade 4.
Furaram o telhado e os tectos, tipo peneira, sem que os buracos coincidissem, de modo a que não chovesse ou nevasse com demasiada abundância, apenas o suficiente para reproduzirem uma estância de esqui – daí as rampas.

Actividade 5.
Acenderam dezenas de velas num quarto para jogarem ao teatro das sombras.

Actividade 6.
Desviaram a água por tubos irregulares, abertos, para que se assemelhasse a uma corrente de água natural. Os tubos passavam no meio do chão e não junto à parede.

Actividade 7.
Desenharam-se uma à outra, no corpo, a respectiva silhueta com carvão. Ficaram boquiabertas por resultar, desta experiência, um desenho sem piada nenhuma.

Actividade 8.
Agrupamento de todas as superfícies espelhadas com um fio. De destacar nesta actividade: as duas passaram horas a olhar os reflexos das maçanetas das portas. O esmalte dourado sobre o volume, consideravelmente grande da maçaneta, mostrava uma nova dimensão do espaço. Rodaram a cabeça à volta da maçaneta e não pensaram em fazer o contrário.

Actividade 9.
Dos gatos fizeram sapatos. Os animais já estavam mortos e amontoados a um canto. Estavam prontos para ir, através do túnel até ao contentor do lixo do rés-do-chão. Mas antes disso e enquanto a pele ainda estava com bom aspecto, retiraram-na para a limpar. A vaidade deu-lhes coragem. Cada uma ficou com um par de botins e uma sacola a condizer.

Actividade 10.
Construíram um tanque num quarto do piso superior, tapando portas e janelas com pedaços de madeira e pedras e impermeabilizando com sebo de porco. Nadavam nuas horas a fio.

Actividade 11.
Como existiam infiltrações nos pisos de baixo, entretinham-se a contar gotas e a engoli-las.

Actividade 12.
Castigavam-se por diversão.

Actividade 13.
Esticavam o cabelo amarrando pesos nas extremidades. Assim, caminhavam com a cabeça erguida e a coluna muito direita. O cabelo muito para trás, arrastava-se parcialmente no chão e formava um ângulo de 45º com o plano horizontal.

Actividade 14.
Muitas vezes ficavam quietas e silenciosas. Alucinavam. Uma vez, Alva contou a Aurora que tinha visto dois cães a dançar muito apaixonados. Uma outra vez viu uma paisagem povoada de dinossauros e comboios gigantes.

É muito difícil lembrar-me de tudo. Passámos anos juntos nisto, sem dar conta das estações do ano e das festividades. Num domingo de tarde assolou-se sobre as duas um imenso cansaço. Aurora e Alva estavam pálidas e mal se moviam. Estavam subnutridas e não se lembraram de comer e não tinham tido nenhum plano que envolvesse satisfazer esta necessidade. A cozinha cheirava a leite estragado e a carne podre. Ainda restavam pedaços de alimentos rançosos e frutos fermentados em cima de uma banca de mármore. Aurora meteu serrim num prato, agarrou num pombo da janela e verteu o sangue em cima. Mexeu e comeu. Alva tentou fazer o mesmo, mas agarrou-se à barriga e vomitou. Desde então não se mexeu mais. Aurora calçou Alva com os seus botins de um dos gatos preferidos, sentou-a numa cadeira em posição de faraó, voltou-a de olhar para o sol do amanhecer e escreveu no chão – Alva Joyce.

Aurora ficou comigo ainda por muitos anos, alimentando-se dos pombos e das ratazanas. Executou, sozinha, actividades com dimensões modestas, completou alguns cadernos começados e deixou outros por acabar. Deixou-me à chegada dos novos senhorios, que por herança ficaram proprietários de metade da cidade. Naturalmente que nunca mais a vi. Ao sair escreveu o seu nome ao lado de Alva, completando-o com uma dedicatória – Alva Joyce & Aurora James aperfeiçoaram-se aqui.

Tuesday, September 16, 2008

(As presentes declarações são da responsabilidade dos seus autores)

Amizades Seleccionadas part I
Rapaz t-shirt echo beach, mangas caviadas, arrasta um casaco de ganga com correntes fala das suas experiências:
•Perto das 23h conduzo a bicicleta até à praça e fico à espera que passes por lá. Entretanto leio um livro com a luz laranja dos focos. Combinei contigo às 23.30, mas cheguei mais cedo porque sei que, por esta hora, aparecem os tipos dos cães. Às custas de pedir emprestado um isqueiro acabamos por falar sobre cães, gatos e criminalidade. Quando tu chegas eles desaparecem. Parece que se esqueceram de qualquer coisa em casa. Vão-se embora nervosos e com os cães atrás. Tiro da mochila uma cerveja que te ofereço e baixa completamente toda a excitação anterior. Começamos por um assunto qualquer e acabamos por discutir, mas não sinto nada. Não estou nem acelerado nem aborrecido. Estou contigo. Ficamos horas limitados às regras que estabelecemos – há assuntos interditos e muitas das nossas conversas são subentendidas. Por isso talvez possa não parecer uma amizade. Mas tu compreendes-me e eu não vou ter com mais ninguém quando preciso de um conselho ou de um abraço que nunca chegamos a dar.
•Da última vez fiquei tão mal disposta por ter estado contigo que mal tive oportunidade desatei aos berros a chamar-te imbecil. "Lembras-me sempre que tu é que decides, porque podes decidir, e decides por mim, o que vou ser". Somos completamente incompatíveis porque eu é que sou, porque quero ser, responsável por aquilo que me vai acontecer. E a dúvida que tu crias cresce e eu já não sei se estou capacitado a controlar o que quer que seja. Daí, depois do ataque de nervos ter passado, os dois dias a seguir vagueio pela cidade como se nada me dissesse respeito. Fico a tentar recuperar e a pôr as ideias no sítio. Com a regularidade que nos vemos, mês a mês, ontem dei-me conta que talvez sejas meu amigo. Secretamente admiro-te e é por isso que isto se repete. Depois, tens aquele péssimo hábito de me oferecer alguma coisa. É uma generosidade de quem se desculpa ou de quem quer comprar a atenção do outro. Penso que esta é uma amizade para durar.
•Se eu tivesse um irmão mais novo seria exactamente como tu. E como teu irmão vou proteger-te.

Rapariga 28 anos, de vestido preto, colar de pérolas falso e bolsa de napa preta, fala das suas experiências:
•Cresci a dosear as emoções e a tentar aprender com os erros. No entanto, quando posso decidir não dosear e perder o equilíbrio eu sigo, vou a onde me levarem. Não me lembro ao certo de como foi a vez anterior, mas aos catorze, perdi todas as resistências e pensei, de novo, que uma amizade não tem limites. Correu mal, naturalmente e poupo os detalhes. Aos quinze encontrei uma oportunidade para voltar a experimentar uma forte amizade, desta vez com mais precaução. Resultou porque criei um reservatório de energias à parte que iam para outras direcções. Pensei, as amizades estão resolvidas, não volto a pensar no assunto, estas já não me assustam.
•Crescemos juntas e isso não basta para sermos amigas. Um dia disseste-me que não era possível mudares mas ainda era muito cedo para dizeres isso, podias tê-lo feito. Mas eu não mudo ninguém, porque não posso retirar o que há de próprio e de irrepetível em cada um. Pensei, então, que um dia ia gostar de ti como és e que nos íamos aceitar mutuamente – mas isso nunca aconteceu. Passaram-se alguns anos e desconfiamos agora uma da outra e se dialogamos é como se fossemos duas estranhas. Em certos momentos arrependo-me de ser eu mesma ao teu lado, sinto uma fraqueza, de ser sincera, porque é uma perda de tempo.
•Crescemos juntas e eu admiro-te. A ti não te prendo com emoções excessivas, não posso porque tu és igual a mim neste aspecto. Às vezes saímos juntas e eu penso que toda a gente te admira e eu fico encantada.

Outra rapariga, de botas vermelhas, fala das suas experiências:
•Penso que vejo a realidade sempre distorcida, porque tento vê-la como tu a vês. És um dos fantasmas do passado que não vai embora. E há anos que funciono com um reizinho a mandar fantasmagórico. Ontem, numa viagem de carro contaram-me dos bebedores modernos de sangue – quase vomitei na bomba de gasolina. Os fantasmas bebem sangue pensei eu?
•Dizes que gostas de mim até aos poros. Isso é bonito. Não nos vemos muitas vezes e por isso não exercitamos a amizade. De qualquer maneira, penso que não gosto de amizades fáceis, por isso esta vai sendo adormecida.
•Estávamos as duas num concerto. Tu chamavas a atenção de toda a gente e por isso meti conversa. Disse-te que parecias ser muito criativa e eras. Um horror de tanta criatividade. Não há uma palavra que não rime com outra. Acontece o mesmo com as cores e com tudo que se possa ligar entre si. Cansas-me muito e por isso estamos juntas até duas horas menos de uma vez por mês. Parecemos duas desconhecidas em momentos sociais, mas quando pudemos estar sós não perdemos tempo e somos totalmente honestas e generosas em tudo o que partilhamos. Falamos de amor como se não existisse outro assunto. Falamos de amizade como se fosse o modelo de todas as relações. Eu nunca penso em ti.
Matisse Hurt Rejection
Tradução: My-teeth-hurt;

Matisse (Letónia) hóspede é escultor after Matisse, impressionista;
Matisse, alugou outro quarto em outro canto da cidade;
É igual a: logo, vou ao dentista.
E no início começou assim:
Clare:
–“Isabel look at this (showing me a book with jokes for & about artists), it’s about your new guest! One artist goes to the dentists and says: ‘Matisse hurt’”

Monday, September 15, 2008


1. O leão de Bristol
O conselho foi generoso: ou és brava e corajosa ou não mergulhas.
2. Em breve texto sobre a amizade.

Tuesday, September 09, 2008

www.bfeditora.net

MINOR BREAST


1. Minor Breast a imprimir amanhã. E na sexta-feira a sair da Hogarth Press.
(imagem de joli compositora, uma das melhores participações)

Monday, September 08, 2008

Sunday, September 07, 2008

stressing stuff



1. Ray Bradbury – propõe como exercício refazer a história, a literatura…toda a cultura que vem nos livros através da reescrita a partir da memória. Seríamos todos Book People. Outra boa sugestão dele, “se davas um braço por alguma coisa, então dá”

2. Falta-me paciência para ler no ecrã senão lia mais sobre os “incontroláveis construtores”. Alguns são arquitectos outros empilham tijolos, pedras e materiais, compulsivamente.
1. Uma vez vi esta cidade através do olhar de um estrangeiro e desde então nunca mais deixei de o fazer. O estrangeiro era culto e muito educado, classe média alta, a trabalhar aqui apenas por uns dias. Dois sítios a eleger nesta cidade: Via Catarina (porque tem too-emotional young teenagers, com garrafas com água a fingir, pintam os olhos e de mãos dadas - sem largar em grupos de três) e o Pingo Doce de Passos Manuel (porque é uma estufa de outcasts - de todas as variedades).

2. Esculturas de sal; esculturas de neve; esculturas de açúcar.

Thursday, September 04, 2008


Existem pelo menos dois tipos de relação entre lazer e trabalho que resultam em dois modos de ser – há os que têm uma vida contrastada e os que têm uma vida criativa. O último modo define-se pela abolição da distinção do trabalho e do lazer como se entende comummente. A vida contrastada é mais comum e bem aceite socialmente, por parecer mais produtiva. Mas há muitos mal entendidos, por exemplo: as duas são regradas embora a vida criativa pareça avançar para o caos. É possível fazer escolhas, mas a inclinação natural é que determina e começa cedo a mostrar sinais de existência.
A criativa: não há trabalho, não há lazer, porque os dois momentos estão sempre em complementaridade e em equilíbrio. A contrastada: há trabalho e há lazer, separados rigidamente. Quando se trabalha “não se brinca” e quando se está de férias não se pensa. É contrastada porque ou é isto ou aquilo!

Agora, sim, desde a última vez, após a descoberta, posso dizer claramente que algumas expressões foram fortes e não era minha intenção aborrecer ninguém com o conto da cigarra e a formiga.

Wednesday, September 03, 2008

Ainda não tive tempo para o texto das férias. Só preciso de mais uns dias. Bom regresso a todos que foram buscar o sol e que me trouxeram chuva. E derreter na praça e ouvir musica nos coretos, será que já acabou?

Monday, September 01, 2008


1. Escrevi um pequeno conto do séc. XIX.
2. Sobre coisas enterradas no chão, coisas incrustadas nas paredes e jardins suspensos.
3. Sobre pessoas que falam com os padrões das paredes.
4. Mas se não gostares - eu não fico triste.
5. Amanhã vou escrever um tratado sobre o trabalho e o lazer e depositar aqui
6. Dia 1 de Setembro de 2008.
7. O último post não era um poema, era uma letra de uma canção que eu escrevi há muitos meses.
8. Contudo ainda vou escrever mais dois poemas.

CORO DA FESTA DE ANOS DA MAGALI

Nariz: Pequeno mete medo
Castanho tem ranho
Redondo dá sono
Curvado está cansado
Arrebitado está enfadado
Gigante, elefante
Feio fica a meio
Médio dá tédio
Quente...de quem mente