“A casa é sincera”
A partir do convite que me foi feito pelos elementos do Laboratório das Artes para protagonizar a abertura do novo espaço, decidi retribuir a generosidade e propus-me apresentar um projecto de ocupação e dinamização temporária do espaço por 15 dias ao qual chamei “A casa é sincera”.
Conhecia bem o espaço anterior, a grande casa que albergou as exposições mais interessantes de Guimarães dos últimos anos e que conseguiu, enquanto foi possível, manter um bom ritmo de actividades. A energia que este grupo de jovens artistas depositou neste projecto foi recompensada através da presença crescente de um público curioso que vinha de vários pontos do País; através de notícias e críticas que foram saindo nos jornais de maior tiragem; através de artistas que sempre se disponibilizaram para apresentar o seu trabalho sem qualquer tipo de constrangimentos relativamente às condições físicas do sítio ou pela “marginalidade” do projecto; e por fim, com o reconhecimento institucional conferido com um apoio financeiro no ano passado para a organização do evento “Teleférico”.
A casa referida está neste momento fechada e abandonada e com ela se encerra um capítulo no percurso deste grupo. Penso que com o novo espaço abre-se um novo mundo de possibilidades. Seria oportuno aproveitar esta mudança para pensar em novas estratégias organizativas para um espaço cultural dedicado essencialmente às Artes Visuais - até porque, relembro, é esta a vantagem dos espaço geridos por artistas: a de puderem arriscar em voos mais altos sem receios ou pressões desnecessárias.
Pela minha experiência em espaços geridos por artistas – como membro fundador, como artista convidada, como parasitária de espaços cuja gestão é temporária ou ainda como público – considero que estes funcionam como “castelos”: transposições físicas, concretas e reais de ambições de quem os conquista e os toma como seus. No momento em que o espaço é encontrado e aquando da sua ocupação e funcionamento, corporaliza-se nele um sonho, uma vontade de mudança (consciente ou não) do contexto em que se insere. Com o passar do tempo, e por consequência das sucessivas mudanças ocorridas dentro e fora do grupo ou indivíduo dinamizador, o castelo naturalmente transfigura-se inaugurando-se um outro momento. Em todo o processo a melhor parte é acreditar o suficiente para se erigir um castelo, a pior é esquecer que um dia essa vontade existiu.
Neste sentido ocorreu-me trabalhar num projecto que tivesse na origem a vontade de partilhar, de oferecer e receber, acreditando mais uma vez num castelo e na sua revitalização.
Nos 15 dias de duração do projecto estarei em residência artística no Laboratório das Artes e durante esses dias serão promovidos diferentes eventos abertos a todos. “A casa é sincera” será uma casa cheia de participantes que formarão no seu conjunto uma comunidade de troca sincera.
A ocupação temporária do espaço nestes moldes, apresentar-se-á como uma alternativa ao previsível funcionamento de um espaço independente gerido por jovens artistas no nosso contexto local actual.
No entanto gostaria que este fosse entendido, não como um gesto condescendente para com o Laboratório das Artes, mas como uma experiência que é em primeiro lugar pessoal e que se insere dentro de um percurso individual.
Este projecto tem como precedentes:
- todos os espaços referidos como alternativos nos quais apresentei o meu trabalho (Salão Olímpico, ZDB),
- espaços que colectivamente geri e partilhei (Caldeira 213),
- os grupos que ajudei a fundar (Zoina, Ateliers Mentol, Traste, Colectivo Alingua) e as actividades desses mesmos grupos (Ceias dos Ateliers Mentol, Satélite Internacional),
- os projectos colaborativos pontuais (Projecto Arco-Irís),
- o evento Festival Sincero (festival de música e variedades),
- os workshops que orientei,
- a minha actividade como docente (da qual faz parte essencial a partilha),
- os fanzines que fiz e outros nos quais colaborei,
- todo o espírito DIY,
- todo o sentido de comunidade que é parte integrante da minha forma de viver,
- os princípios básicos da “Há aí uma certa tendência” da honestidade e sinceridade que adoptei,
- e por último, no que acredito ser uma urgente necessidade pessoal, em sintonia com diversos exemplos de reunião temporária.
Descrição
O espaço tem dois andares: no segundo andar existirá uma cozinha onde serão servidas e preparadas refeições, estas serão gratuitas e funcionará como uma cantina às horas habituais de almoço e jantar em dias a definir, neste andar também funcionarão os ateliers/workshops; no primeiro andar, estará um palco preparado para concertos, ensaios, experiências musicais e outras manifestações performativas. Em simultâneo funcionará o meu atelier visitável a qualquer momento.
Monday, March 26, 2007
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2 comments:
vai ser grande cena! e k tal um wacky chef? "LE WACKY CHEF" tenho k traduzir wacky para frances
ó mauro bota "le cef fou" e vai ser um sucesso...
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