Tuesday, August 05, 2008


1. Na noite passada estive a falar com um amigo de quem estive afastada durante muito anos. Andávamos perto, atravessamos as mesmas passadeiras, demos milho às mesmas pombas, apertamos as mesmas mãos e bebemos do mesmo copo, mas não chegávamos a ter uma conversa que se comparasse à de ontem.

Começamos por falar sobre outra pessoa e através dessa pessoa (ausente) começamos a falar de nós mesmos. A conversa durou sete minutos.

Gostei muito e por isso agradeci-lhe. Hoje de manhã recebi um bilhetinho no fakebook (plataforma de troca de folhinhas de cheiro, pré-ciclo, que nos obriga a dizer o que fazemos, o que pensamos e a trocar amigos à bruta! sistema de controle pior que os cartões magnéticos dos pontos do supermercado e que eu simplesmente renego tanto quanto posso) era uma coisa tonta, sem relevância, mas aproveitei para ver o que ele andava a fazer. - O mesmo que fazia quando tinha 14 anos. O mesmo imaginário, a mesma habilidade para fazer desenhar.

Fui aos correios a pensar no que se mantém e no que se altera e porque se mantém e porque se altera. A minha maior pré\ocupação é a monotonia do que nunca se altera. Pelos visto ele resolveu isso. Mantém-se a acreditar no que é e no que não poderia ser diferente. Este episódio fez-me retroceder uns anos.

2. Com a preparação do projecto da publicação, comecei a ler literatura antiga e deparei-me com o tema da educação das raparigas (sec XVIII). Acabei por atravessar este assunto com o episódio anterior. A educação é uma deformação que nos acontece até certo ponto. Depois, com sorte, torna-se uma escolha. A mim educaram-me a ser só sentimentos e a acreditar. Então eu concebi uma imagem do universo simplificada que naturalmente não correspondia à dos Atlas. Da primária para o ciclo, perdi a professora Narcisa, ganhei cinco outros professores e uma ainda por cima morreu. Tinha também novos temas para estudar e o mais complicado foram as Ciências. Que desafio este que me impuseram, saber que afinal no centro da terra não era nem o sol nem o inferno; que haviam vulcões que pareciam o purgatório; que o Céu não terminava num tecto formado por nuvens; que a água da chuva era a mesma que cai na relva e que depois se esfumava para o ceú; que existiam dinossauros (quem é que tomava conta deles, Adão? Eva? Moisés?); que depois deixou de existir vida, mas depois voltou outra vez e não tinha sido nem no dilúvio nem na separação das água; que nós talvez derivássemos de animais que por acaso eu tinha visto no jardim zoológico da Maia! Naturalmente reprovei em matérias da natureza. E o professor chamou a minha mãe: “a sua filha é tão brilhante quanto confusa!”.

3. Li um catálogo da yoko ono e tirei apontamentos e associações.

4. Se eu pudesse mudava o ringtone do meu telefone para a Whitney Housten: greateste love of all - Everybody searching for a hero / People need someone to look up to / I never found anyone who fulfill my needs / A lonely place to be / So I learned to depend on me.

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