Monday, April 30, 2007

What it today means to be artist in Portugal?

O que significa ser artista hoje em Portugal?

123 comments:

Anonymous said...

Significa acordar ás duas da tarde, ver um documentário sobre as chitas do Kalaari, comer umas sandes de queijo, e ir ao Via Catarina compar mortalhas, regressar e fazer um desenheco. Mas só porque hoje é dia do tabalhador, caso contrário seria bem mais stressante.

Anonymous said...

(pois, diário... vendo as coisas por um feriado!)

nos dias restantes, significa estar a recibos verdes, e pagar à segurança social por mês: 200€! por vezes mais (!!!!) do que aquilo que recebes...

ser artista significa MUITAS coisas, e TODAS elas dependem do emprego que conseguiste arranjar! (artista a tempo inteiro, incluido!)

significa tb, que és livre para não pagar a segurança social, porque afinal... quem é que consegue ter valores em nome próprio?

e significa, por fim, que vais passar grande parte do teu tempo mental, entalado entre significações...

ser artista em portugal, não significa ABSOLUTAMENTE NADA, excepto para o próprio!

(hã! e significa que até no dia do trabalhador, se trabalha!)

bom feriado a todos (os que o podem gozar!)

Anonymous said...

Isso é tudo verdade e esse gajo não merece a sorte que tem. Ainda por cima é bonito!

E desenha como um DEUS...

Proletários das artes! Unidos ninguém nos vencerá! Todos para Serralves! Vamos decapitar o PODER!!!

BEBIDAS GRÀTIS PARA TODOS!!

Anonymous said...

He, He! Estava a brincar, Isabel.

Estiveste bem em levantar certas questões em Serralves, mas penso que se deveria ter falado também de outras coisas, nomeadamente:

1- Porque é que aparecem tantos trabalhos de gajos de Lisboa no livro do Von Hafe, quando são quase todos uma merda? - O espírito burguês que exala das "obras" de Carlos Correia, Carlos Lobo, Daniel Barroca, Sónia Almeida, Bruno Pacheco (que nem tem comentários para a péssima pintura que produz), quase me deu a volta ao miolo. Por momentos revi-me em Paulo Portas, ganhei tiques abichanados e ia mesmo encomendar a discografia completa do Luís Represas, se o Miguel não tivesse vindo com a injecção.

2- Porque é que os comissários têm todos nomes germânicos? Será o ressurgimento da extrema-direita em Portugal?

3- Onde é que o Ricardo Nicolau corta o cabelo? E porquê, Meu Deus? Porquê?

4- Porque é que ninguém escreveu sobre as mega-exposições de Oeiras comissariadas por Paulo Mendes, esse D. Quixote das artes em Portugal, nem sobre as exposições do Olímpico em Guimarães e Coimbra? Será que existiram? Quem sou eu? O que faço aqui? Que é isto que trago no meio das... Lili?

Por fim queria apenas dizer que o encapuçado que sempre víamos nos espaços alternativos a mamar cerveja era afinal o João Fernandes! Aquela barriga de cerveja nunca me enganou...

Marco

Anonymous said...

(risos)

Marco, estou a ver que já foste ao Via Catarina....

heheh

L said...

lol

Anonymous said...

A questão até podia resultar em depoimentos interessantes, mas até agora nada!

Anonymous said...

E o que é que vossa excelência tem a acrescentar?

Anonymous said...

Ser artista em Portugal é tudo menos uma profissão, a não ser para alguns sortudos e umas quantas putas...

Miguel Carneiro said...

E chulos, esqueci-me

Anonymous said...

Ups, voltei a comentar logado como Miguel C.

Uma das coisas que poderia ser uma revolução a sério na vida de muitos artistas jovens, era haver uma galeria de arte minimamente decente, que obedecesse a um projecto bem definido. Os nossos galeristas pecam por falta de critério na escolha dos artistas. Raro é o trabalho que não fica completamente descontextualizado numa galeria de arte, o que é ainda mais gritante nas exposições colectivas.

Marco

alexandra said...
This comment has been removed by a blog administrator.
Anonymous said...

Significa que têm de se esfalfar muito a fazerem as suas coisas esquisitas até chegarem a mim! HE HE HE HE (riso cavernoso).

Anonymous said...

antigamente era muito pior!!! mas o futuro também me parece tenebroso! ou se vive nas franjas ou se é uma pop star, não há meios termos. há uma escassez de classe média artística.

Anonymous said...

Significa que tenho de bater a bola baixinho se não quero perder o apoio da Câmara!
Mas muita sorte tenho eu! Há muita gente a passar fome no mundo! Perante a miséria financeira, o que importa a liberdade de opinião?

Anonymous said...

bem...

esta pergunta é feita por uma artista, e provavelmente estará a ser respondida por outros artistas:

e é triste perceber que se está a aqui a discutir, não o papel do artista, mas o seu lugar! e, na minha opinião, o lugar dele é com a obra, a sua lealdade é com a obra, não com o sistema!

suponho que concordarão comigo...

se olharem para as vossas obras encontrarão o vosso lugar: quer este esteja nas "franjas" ou num "estrelato":

MUITO triste é perceber que há artistas cujas obras obviamente se encontram nas "franjas", mas a sua ambição visa o "estrelato"!
e aqui, tenho de concordar com alguns comentários anteriores...

o problema não está na "classe média artística" (creio que a há!)! o problema está na necessidade de holofotes, impossível de satisfazer, nalguns artistas!

e na minha opinião, a ideia que saiu mais vincada da vossa conversa em Serralves, foi essa contradição: entre o lugar das vossas obras, e o lugar onde vocês querem chegar...

Anonymous said...

Para o Marco:

concordo consigo! raramente as exposições colectivas em galerias, funcionam!

pergunto:
porque é que há ainda tanto pudor, da parte dos comissários em trabalharem com galeristas? afinal, é tão evidente que alguns andam cá, exclusivamente, pelos €s!!!

Anonymous said...

Eu ia citar "o que importa é a obra" do João Fernandes, mas parece que a Cristina se antecipou.
Tem toda a razão. O que os artistas devem fazer é fecharem-se no seu atelier e trabalharem duramente, rezando todas as noites para que um dia alguém lhes venha bater à porta e queira ver o seu trabalho. À custa de tanto suor, sacrifício e dedicação, verão certamente o seu trabalho ser reconhecido e valorizado - isto, claro, se ainda estiverem vivos quando tal acontecer.
Ironias à parte, é importante que não se esqueçam que para pagarem o dito atelier e materiais, terão de ter uma actividade profissional, frequentemente a tempo inteiro, que por força das circunstâncias lhes remete a prática artística para as horas vagas e fins-de-semana. É o clássico artista de sotão, ideia romântica do início do século passado que continua a perdurar. Tudo por "Amor à Arte". É bonito, sobretudo na óptica judaico-cristã do sacrifício como forma de obter a ascensão aos céus.

Por isso, não só não vejo problema nenhum em se falar do lugar do artista e de o contextualizar, como me parece importante. E por isso também, acho que o panorama é diversificado, que haverá tantos significados como artistas e vontades. O problema que os afectará a todos, no geral, terá a ver com questões intrínsecas aos públicos culturais do país, reflexo das várias décadas de ditatura durante as quais se estimulou a ignorância e se bloqueou o acesso à informação e ao conhecimento. Parafaseando Salazar, "Portugal é um país conservador, paternalista e - Deus seja louvado - 'atrasado', termo que eu considero mais lisonjeiro do que pejorativo."

30 anos não foram suficientes para uma mudança drástica nas mentalidades, apesar da revolução operada nos direitos e nas liberdades da população.
Como resultado, quem deseja desenvolver um trabalho artístico do agrado da "burguesia" tem a vida relativamente facilitada: há poder económico e vontade de adquirir "objectos de valor simbólico" por parte de novos e velhos ricos. Há empresas sedentas de uma escultura para pôr no átrio, ou um belo quadro para pôr atrás da secretária, ou por cima do sofá para mostrar aos amigos. É o efeito BMW, Mercedes e Ferrari: objectos que servem o propósito da distinção social. Da mesma forma, as galerias, atentas a responder às necessidades do mercado, têm todo o interesse em não sair muito desse campo bafiento das "artes". O Mercado, à falta de uma Cultura de fundo, acaba por dominar completamente o meio artístico nacional.
No patamar superior, das grandes colecções e grandes museus, as apostas vão para o que é seguro de ter o aval do público. As grandes exposições são os "greatest hits" dos já consagrados, pois interessa ter o maior número de visitantes: assim é frequentemente avaliado o sucesso expositivo. A aposta no pouco conhecido é rara, considerada demasiado arriscada para valer a pena. É a mediocrização da cultura, o nivelamento por baixo, pelos níveis mais básicos de compreensão da população. Não é educação nem desafio, antes facilidade e comodismo.
Por outro lado, os projectos culturais tendem a concentrarem-se nos gostos e interesses das classes média e alta, alienando-se do seu papel educativo e social perante as franjas mais baixas da população. Há pouco interesse na formação dos mais carenciados, que são antes enfiados em bairros sociais para assim quase nos esquecermos deles. A Cultura não chega ao ghetto, nem tem um papel activo na possibilidade de transformação social. Cultura continua a ser coisa de gente rica, ou, pelo menos, de quem pode.

Perante este cenário, fica claro que qualquer artista que se dedique à experimentação é facilmente marginalizado e condenado a desenvolver o seu trabalho nas franjas do palco (ou seja, mercado) das artes nacional. Noutras áreas, a inovação ém também olhada com desdém, a não ser que seja via para ganhos económicos imediatos. Dado que o valor simbólico do objecto artístico não encontra público-consumidor para ser apreciado, o seu reconhecimento é tardio e dependente de um longo processo de legitimização por parte da meia-dúzia de iluminados que compõem a "elite" cultural nacional - os quais, quem sabe, funcionarão como o resto da sociedade, na base dos favores, do paternalismo e do amiguismo.

Em resumo, ser artista em Portugal e usufruir da independência criativa necessária à concretização do projecto artístico, é ter uma grande dose de paciência, coragem, energia e optimismo, para conseguir um emprego que lhe permita obter rendimento suficiente, de forma a manter a sua actividade nas horas livres. Ser artista em Portugal, durante ainda alguns anos, será ser artista em part-time, ou apenas aos fins-de-semana e feriados. Os que resistem a esse longo processo de sobrevivência podem aspirar a talvez um dia verem o seu trabalho reconhecido. Não há meios termos, ou se resiste ou não - é a lei do mais forte, irónico darwinismo capitalista adaptado ao mundo das artes.
Se a prática conduz à perfeição, é óbvio que se assistirmos a um grande número de artistas que vê a sua prática reduzida a umas horitas semanais, isso acabará por ter efeitos no resultado da sua obra.
Acreditar que este contexto não limita, inibe ou castra a actividade artística parece-me ser absolutamente irrealista; pensar que os artistas, e a obra que produzem, resulta alienada do contexto social, económico e político é uma visão parcial e redutora. Pelo menos a mim parece-me legítimo que estas questões estejam na cabeça dos artistas, e positivo que acabem por se revelar no seu trabalho. E parece-me óbvio, e legítimo, e positivo, que lutem pelos seus interesses.

A diferença para outros países onde a importância dada à cultura é maior será que o reconhecimento do valor simbólico da produção é mais fácilmente reconhecido; o público está mais sensibilizado para a prática artística, e tanto o Estado como os privados se encontram numa posição, e com mais vontade, de reconhecer e de apoiar os projectos culturais. Os apoios são em maior número e mais diversificados, em exposições, bolsas, residências artísticas, e um largo etecétera. De novo, acreditar que esses factores não têm qualquer influência no percurso artístico e, por defeito, na qualidade final do trabalho, parece-me inacreditavelmente irreal.

Anonymous said...

hmm parece que me entusiasmei.

Anonymous said...

Brilhante o teu comentário, Lígia. E didáctico!

Beijos,

Marco

Anonymous said...

Uma coisa que sempre me deixou um pouco perplexo foi perceber o percurso dos nossos comissários. De onde é que eles vêm? O que os motiva? Para que é que lhes pagam? Será para construírem uma imagem oficial da arte ao serviço de algum poder instituído? Na maioria dos casos julgo que sim, pela falta de risco que as suas escolhas revelam, insistindo em artistas bem comportados, artistas "de carreira", mesmo quando ainda são muito jovens.

Uma das grandes virtudes do Movimento artístico Independente do Porto, é o facto de serem os artistas a comissariar as suas próprias exposições, apresentando individual ou colectivamente conjuntos de trabalhos muito mais coerentes. Só assim é possível compreender o universo pessoal e as afinidades que existem entre os vários autores.

Não quero com tudo isto dizer que acredito na impossibilidade de haverem bons comissários, que estudem, reúnam e apresentem trabalhos dos artistas melhor do que estes seriam capazes de fazer. Mas pelo menos no que diz respeito à jovem arte contemporânea, ainda não vi isso acontecer. Pelo contrário...

E as poucas opurtunidades que há para receber apoio das instituições, através de bolsas, prémios e outros, são quase sempre desperdiçadas, na minha opinião.

Marco

Anonymous said...

Cheguei agora de LX...preciso de folego para ler os 20 comments!

Anonymous said...

Olá Ligia,

não pude deixar de sorrir com as suas ironias!
Creio que tem TODA a razão! (sem ironias!)

Reli preocupada o meu comment anterior, procurando onde teria deixado essa "ideia romântica" do "por amor à arte"... e expirei aliviada! - ela não existe no meu comment! a não ser que a criem... (eu sei que são criadores!!!)

de facto o seu texto é bastante didáctico... de uma oratória bastante treinada!
certezas não vos faltam!!! (curioso, este facto!)

Mas não me parece, a mim, que os criadores estejam num patamar acima dos restantes sectores da sociedade:
o que a Ligia descreve é o que acontece em TODOS os sectores da sociedade, em TODAS as sociedades (salvo raras excepções)!!!

"A Cultura não chega ao ghetto"

pergunto-lhe Ligia: quantas vezes já visitou um bairro social? não me refiro a confortáveis passeios turísticos de automóvel..., quantas vezes já entrou numa casa onde desde o avô ao neto de 13 anos vendem o que podem por cavalo? quantas vezes os ouviu falar sobre as suas angustias? sabia que quando se fala de arte, eles entendem? - podem não saber explicar o significado da palavra subjectividade, mas sabem o que significa no plano real!
já entrou num acampamento cigano?
já falou com eles?
já "sujou as mãos" com eles?

talvez não vos fizesse mal, uma visita a outros lugares desta sociedade! há vida para além das instituições artísticas...

- não é preciso ser agarrado, para pensar a toxicodependência.
- não é preciso ser cigano, para pensar a cultura cigana.
- não é preciso ser burguês, para pensar a burguesia e a sua arte.

e

- não é preciso ser artista, para pensar as artes, ou o papel do artista!!!


Continuem a trabalhar como tem feito até agora, porque estão a fazer um OPTIMO trabalho!
Mas desculpem-me:
o papel de vitima fica-vos mal!!!

(pensei que iria ver lutadores, e tanto na conversa, como neste post, só dá vitimas)

(peço também desculpa por esta verboreia, estou com a sensação que não me devia ter metido na conversa...)

Anonymous said...

mt bem ligia!

Anonymous said...

ligia a presidente!

Anonymous said...

Cara Cristina, nem eu nem a Lígia, presumo, aspiramos para nós seja o que for no meio artístico "institucional". Não planeamos fazer carreira, temos outras ocupações. Aquilo que possamos fazer de artístico, não reclama à partida nada de ninguém. Falamos daquilo que conhecemos por estarmos próximos de artistas que lutam diariamente para poder continuar a produzir, e sobreviver. Eu faço banda desenhada, o meu campeonato é outro, não há sequer um mercado para o meu trabalho. Já fico satisfeito por ter um emprego que me permita editar o meu trabalho e de outros artistas, sem a interferência de terceiros. Mas não importava também de crescer, sabendo que à partida isso depende sobretudo de mim.

Se estiver interessada visite o meu blog:

diariorasgado.blogspot.com

e o blog que tenho em parceria com Miguel carneiro, meu companheiro de armas:

osgajosdamula.blogspot.com

Marco Mendes

isabel carvalho said...

Lígia,
Gosto de estar aqui e agora (assunto da minha intervenção no MS) na companhia de pessoas tão bravas como tu!

(Demorei a ler tudo com atenção! Que bom é estar de volta!)

Isabel Carvalho

Anonymous said...

Cristina, deve ter visto mal, estavam lá alguns lutadores.
Aqueles que tiveram ganas para dar uma opinião.
Não os ouviu? Devia ter prestado mais atenção.

A ideia que fiquei e que partilhei com alguns colegas foi esta:
“Afinal os artistas pensam!
Afinal não são umas crianças manobradas pelo sistema/mercado/instituições/poderio…também têm algo a dizer!”.

O desapontamento que muita gente do público sentiu deveu-se à raridade de ver o artista na linha da frente a apanhar com chumbo grosso!
Já era tempo! Fazia falta!…

Animava mais a malta!

Já agora, sobre o romantismo, não podia estar mais de acordo com a Lígia!
A verdade veio de seguida…
…afinal temos que ir ao bairro social para saber o que é a vida!
…afinal nós é que temos discursos miserabilistas!
…afinal é preciso sujar as mãos para aprender alguma coisa!
E embora eu discorde totalmente com a Cristina, diga-me, o que sabe de nós?
O que somos? De onde vimos?
Acha que nascemos burgueses?
Parecemos-lhe burgueses?

Boa tarde

Anonymous said...

è um prazer ver estas questões continuarem a ser discutidas!

Cristina:
Sim, é verdade que os artistas devem lealdade à obra e não ao sistema!
mas como dá para perceber, a desilusão arrasta-se...
não sei se há um excesso de vitimização, o que há é uma vontade de dizer que nem tudo está bem... quem nem só de obras vive o artista, e que nem só nas obras falam os artistas!
um dos factores positivos deste livro, foi ter dado (realmente) voz aos artistas, ao seu discurso, às suas questões - às suas "angustias" tb! e isto é só uma extensão do que se passa nas conversas de cafés, ou nos espaços alternativos.

percebo o quer dizer...
houve (e há!) muitas lutas e revoluções comandadas (e até feitas) no sofá!!!

mas há aqui artistas que tb trabalham no campo, que "sujam as mãos"
ver:
http://www.angeloferreiradesousa.net/
e
http://www.carlacruz.pt.to/

(e estes são só 2 exemplos, que se calhar até já conhece...)


i. r.

Anonymous said...

A liberdade que os espaços alternativos no Porto nos deram é preciosa e única.
Julgo que se está a marcar uma diferença significativa relativamente ao resto do país e da Europa. No entanto, pedia que ninguém se desresponsabiliza-se de ter uma posição critica.
Obrigada,
Um artista de passagem.

Anonymous said...

Oh querida! Sim eu já vi crianças a passar fome e essa cena toda, mas sinceramente, não é um pouco baixo esse tipo de argumentação e completamente deslocado da discussão k estamos a ter?!

O que vi em Serralves foi pessoas com duas posições distintas mas claras:

1 Pessoas que, caso não esteja bem informada são das pessoas mais activas no meio artístico. E vem a senhora agora dizer que estão a fazer o papel de vítimas!!! Pessoas que não estão caladas e que estão apenas a tentar melhorar as coisas! Para mim são pessoas de grande valor! Caso não tenha conhecimento, mas eu sei que sim, estas pessoas não param de trabalhar nem se têm sentido minimamente derrotados com uma situação adversa que é a que nós vivemos. Estamos todos muito contentes com muitas coisas que foram conquistadas mas não é por isso que vamos agora dizer que antes era tudo muito pior, e portanto estamos bem! É claro que era pior! Mas você não quer progresso?! Não quer que esse progresso seja mais rápido? O João Fernandes não disse que o problema era não se discutir as coisas? É isso que estamos a tentar fazer, e acredite que vamos falar com ele para ele dizer o que pensa do nosso trabalho.

2 Neste ponto temos gente que quer estar bem com tudo! Quer ser amigo do comissário, dos artistas, dos coleccionadores, do tipo do bar, etc.… é só paz e amor! Não quer falar. E sabe porque não quer falar? Não se quer queimar! Pois é! É que isto de dar a cara tem as suas consequências!!! Tem, tem!
Salazaristas!

Eu até podia continuar mas acho que vou lanchar!

madame M. said...
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Anonymous said...

Gostaria que esta discussão tivesse acontecido após a conferência...foi pena!
Acabou por passar para aqui. Fico contente por ter sido adiada, mas não esquecida...
Agradeço a todos a participação.

Ao que já foi dito acrescentarei à discussão apenas alguns pontos:

Partindo da intervenção da Alexandra (que vive actualmente em Berlim), afirmaria que ser artista - independentemente da nossa concepção do que é ser artista e dos objectivos de cada um, da sua localização, e as circunstâncias gerais do contexto - é sempre difícil;

Respondendo à pergunta colocada, que se referia ao “aqui e agora”, só posso dizer o que a minha experiência permite – afinal o debate baseava-se no percurso individual de cada um dos convidados da mesa;

O que senti é que esta era a hora de nos debruçarmos no nosso contexto. Estamos na periferia da periferia, e temos consciência da nossa posição, no entanto não foi por isso que se deixou de fazer mais e de tentar o melhor. Provavelmente surgiu o momento de dizer que estamos atentos.

A parte positiva é que o livro existe e que ainda há muito para fazer.

Até já!

madame M. said...
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Anonymous said...

Não é da minha responsabilidade os comments apagados, mas dos próprios autores.

Anonymous said...

como em tudo na vida... há os que esperam por boleia e os que se fazem ao caminho. A nenhum destes agrada a opção do outro, mas isto só se torna um problema quando não há mundo suficiente para todos. How often do you want your fifteen minutes?

Anonymous said...

k 15 minutos?! aki ninguem ker 15 minutos? aqui so se ker melhorar as coisas e isso implica dizer, eu tou aki, eu existo, e logo torna-se necessario o uso da palavra visibilidade. akela k fica à espera no seu buraco caladinho bem k apodrecer so k nem um cão. nem fora sabeis ser! eu nao entro em nenhum dos seus cenários. kuando era mais novo eu e os meus amigos kuando nao tinhamos ainda carro nem idade para tal faziamo-nos ao caminho mas aproveitavamos sempre k passava um carro para pedir boleia. grande cena!

Anonymous said...

Lígia, há muita gente a desenvolver trabalho artístico interventivo em bairros sociais e ilhas, através de projectos sazonais subsidiados ou organizações sociais (associações). Sei até de quem o faça diariamente em escolas, com os putos que a sociedade económica quer manter no operariado. Mas esse tipo de trabalho é profundamente desvalorizado pelo mercado (e pelo milieu) porque a sua estética não viabiliza a glorificação, o seu significado não se consuma nem esgota num resultado material, e remete-nos para uma realidade demasiado próxima - pelo menos os pobrezinhos do Sebastião Salgado são bonitos e estão tão longe, coitados, que não podemos senão suspirar em fugaz êxtase penitente.
O mainstream alternativo é o lugar do humpty-dumpty, e "l'important c'est pas la chute", mas para que lado se cai. Ou deixamos de ser mainstream, ou deixamos de ser alternativos. Ninguém tenha grandes ilusões: não se sobrevive muito tempo nesse estado de graça e "reinventar" a postura alternativa exige um cada vez maior golpe de asa. Quem se achar à altura ou encontrar em si a bravura, by all means, boldness in the attack. A institucionalização e catalogação desta "geração" anuncia (no mínimo a necessidade de) uma outra que a envergonhe. De toute façon, a vous de jouer mes amis.

Anonymous said...

A fronteira entre o alternativo e o mainstream, ou a cultura de massas, é indefinível, sobretudo para a geração youtube, que desmistificou a fama e o prestígio (ou a legitimação se quiserem)...

no decurso de toda esta discussão o que me ficou na cabeça é a tal coisa da obra enquanto problema fulcral para o artista, apesar de todas as vissicitudes e agressões externas que o possam acossar e obrigar a reagir, tomando posições políticas, mais ou menos radicais.

talvez seja altura de falar dos trabalhos das pessoas em questão, se é que estamos a falar disso. Que tipo ou tipos de trabalho produzem os artistas hoje em Portugal? Parece-me haverem suficientes pontos de contacto no trabalho dos artistas mais actuantes para poder-mos eleger algumas preocupações transversais... Gostaria por começar pela questão da nossa identidade nacional, mas como já disse muitas bacoradas hoje, das quais me arrependi bastante, preferia passar a batata quente a alguém...

O que significa hoje ser artista em Portugal?

Marco

Anonymous said...

E já agora... Porque é que a pergunta foi primeiro formulada em inglês?

Marco

Anonymous said...

Na segunda-feira à noite lembrei-me de postar uma imagem do livro a anunciar o seu lançamento. Não arranjei a imagem mas fui encontrar esta frase em (mau) inglês num sítio qualquer. Como estava com pressa para me deitar – na manhã seguinte ia para LX passar o 1 de Maio e partiria num dos primeiros comboios – postei só a pergunta. O que pareceu bem, uma vez que toda a gente, em diferentes momentos da discussão, se esqueceu do que se estava a discutir. E se calhar, mesmo agora, passados 40 comments, ainda andamos às voltas sem atingirmos no que interessa!

Para mim, está a ser muito importante “ouvir” tantas vozes - mesmo as discordantes, mesmo as que vão acertando ao lado e até as mais incómodas. Penso que a discussão poderia ganhar alguma força se fosse exterior à Web. Inclusivamente alguém sugeriu um encontro para breve, talvez Domingo. No entanto, ponderando os prós e contras de trazer a conversa para fora da Web, e tendo em conta que algumas atitudes são por vezes irreflectidas ou “a quente” (daí alguns comments apagados pelos seus autores) e tendo sido na web retomada esta discussão, talvez esta deva, para já, ficar por aqui.

Hoje estarei o dia fora da Web, tenham um bom dia!

Anonymous said...

Boa!

Aida Castro said...

O Marco acabou de me informar sobre a discussão, fico contente por finalmente a plataforma “blog” servir para uma discussão aberta. Fosse neste ou noutro qualquer blog, parece realmente fazer sentido. Depois da conversa de Serralves continuei a discussão, mas com outras pessoas que não estão aqui representadas.

Lígia: qual é a solução que prevês? A profissionalização do artista? Achas que os artistas querem mesmo trabalhar, ser “artista trabalhador”, a tempo inteiro? Por exemplo: quando tive na Holanda, em 2002, estava-se a discutir precisamente isso. Na altura (e penso que a situação continua a mesma) ser artista era uma profissão, ou seja, o artista era subsidiado com um ordenado x, uma espécie de acordo entre o Estado e os privados (era aliciante investir em arte e cultura, regalias fiscais), e em contra partida seria obrigatório produzir x trabalhos por mês. A questão dos artistas defendia a liberdade de produção e da criatividade argumentando que o artista não poderia garantir a produção mensal de x obras/trabalhos.

Penso que o apoio às artes, ao trabalho criativo, estará mais perto de uma espécie de “bolsa de investigação”. Bolsas que possam apoiar um período de anos que permitam desenvolver um trabalho aprofundado sem teres que pensar noutro emprego. Não me acredito muito na ideia do artista, que também é romântica, que tem a necessidade de produzir todos os dias, a toda a hora, e que por isso tem que apresentar consecutivamente trabalho e fazer exposições. Acredito mais no trabalho artístico como uma investigação.

Isabel: acho a ideia do encontro boa, com lanche de domingo (cada um traz o seu), para se estar calmo. Ou então num café...

Manuel Santos Maia said...
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Anonymous said...

esqueci que este fds é muito complicado, mudanças de casa, obras, escrever textos, ....

Anonymous said...

Para anounymous...

"1- Porque é que aparecem tantos trabalhos de gajos de Lisboa no livro do Von Hafe, quando são quase todos uma merda?"

Para dar uma dimensão nacional ao produto. Parece-me obvio.

Ser artista no Porto é um auto-de-fé.

Anonymous said...

Pós-Moderno é depressivo,
Depressivo é depressão,
De pressão?...
Mas eu pedi de garrafa!!

Anonymous said...

o contexto geográfico é relevante para ser artista ? é muito diferente ser-se o que se é em Salamanca, Teerão, Belfast, Ottawa? ou o que muda em Portugal é a dimensão dos subsídios e programas de apoio? O que nos diferencia é só o factor financeiro de suporte à profissão?
e depois de se ultrapassr o limite etário administrativo de concorrer a apoios ? parece-me que a questão é semelhante e válida para se SER e sobreviver em SER_SE não só artista como outra coisa qualquer, com algumas dúvidas da minha parte: ser artista é uma profissão como investigador ou dentista? Olhem o que está a acontecer aos nossos investigadores, a partir dos 38 aninhos estão fodidos, não há bolsas nem programas comunitários que lhes paguem o ordenado..c'est la vie, a sociedade tardo-capitalista é assim. Daqui a 10 anos vamos ver quem de novo reclama, quem são os vossos opositores naturais, aqui, ali ou além.

Maria Assis

Anonymous said...

Isabel, sabes que é também com muito prazer que estou aqui nesta discussão. Suponho que no fim da mesa em Serralves vos disse (a ti e à Carla) que acho que a discussão foi muito importante, por haver uma abertura ao público sobre aquilo que a vós, artistas, vos ocupa e preocupa. E agradeço-te por teres tomado a iniciativa de trazeres esta discussão para a blogosfera, espaço aberto à participação de todos, e que há já algum tempo temos sabido aproveitar não só para recreação mas sobretudo para expormos trabalho, lançarmos ideias, abrirmos colaborações enriquecedoras e tecermos críticas que julgamos construtivas. A internet e a blogosfera têm sem dúvida dado uma importante contribuição para a nossa aprendizagem geral e para o crescimento pessoal, ao longo destes anos que a temos vindo a frequentar.

Faço votos para que esta discussão continue a trazer bons frutos para todos, e que não vos falte a coragem para continuarem a lutar por aquilo em que acreditam e por aquilo que vos é merecido. Já sabemos que as coisas demoram o seu tempo, mas que em vez de isso vos fazer esmorecer espero que sirva para acertarem passo com as vossas necessidades e com as diversas realidades circundantes. É bom que a organização que façam se vá adaptando às diversas etapas do(s) percurso(s), e seria positivo se entre todos conseguissem uma maior união para lutarem em conjunto pelos modelos que mais se adaptem às vossas necessidades (utópico talvez, mas é o que eu penso). Em relação a financiamentos e tal como referi no meu comentário anterior, há exemplos diversos de modelos de financiamento cultural no estrangeiro; suponho que parte da efectividade desses modelos é a própria diversidade que encerram, o que não só permite maiores oportunidades, mas também uma maior probabilidade de adaptabilidade por parte dos indivíduos. Seja qual for, é um longo caminho a percorrer.

Se há muitas e discutíveis diferenças entre ser artista ou ser outra coisa qualquer, há também diversas coisas que (n)os unem, e a necessidade de ver o trabalho reconhecido é uma delas. Não importa se se é sapateiro, talhante, arquitecto ou empregado de fábrica: todos temos um desempenho melhor ao saber o nosso trabalho apreciado, e ao vermos-nos remunerados pela sua concretização. O facto de por regra isso não acontecer, sobretudo quando há informações suficientes para se estabelecerem as inevitáveis comparações com o estrangeiro, cria naturalmente mal-estar, numa classe que, convém não esquecer, não é de burros. Rebater estes argumentos com um "trabalhassem mais", ou "o vosso trabalho não é necessário" é um escape extremista revelador de uma profunda ignorância e que não conduz a lado nenhum.


Dois comentários específicos gostaria ainda de deixar: em relação a Jack lecrack, chère monsieur, concordo em absoluto com a análise referente à questão do trabalho artístico de intervenção social. Ainda há dias conversava com diversas pessoas sobre uma pessoa por quem tenho muita admiração e respeito, a Catarina de Sousa; tenho a certeza que o trabalho (invisível) que ela está a elaborar está a mudar a vida a muita gente, uma oportunidade que, sem ela, concerteza não teriam.
A questão dos mainstreams e alternativos mantenho-me fora dela, porque nunca me interessou. Quando a meter os patins a esta geração pela sua institucionalização e catalogação, eu pelo menos espero/acredito que quem tem dito coisas interessantes o continue a fazer. E por muitos mais anos.

Maia, ia escrever algumas coisas em relação ao muito interessante comentário que aqui escreveste ontem, mas infelizmente apagaste-o! Tenho realmente pena, porque me pareceu interessante e bastante coeso, e a tocar numa série de pontos fulcrais. Espero que o voltes a publicar de novo.


Maria Assis, ser artista num ou noutro lugar é naturalmente diferente, não só pelas formas como isso afecta o corpo de trabalho (resultando o trabalho artístico de uma dialética com o exterior, das vivências que têm, daquilo que os rodeia, etc); mas também porque os obstáculos que os artistas têm ou não de ultrapassar para conseguirem concretizar esse mesmo trabalho têm, inevitavelmente, influência na sua produção (tal como já foi exposto aqui em diversos comentários).

Anonymous said...

A talho de foice nas apreciações e no valor do trabalho, Isabel e Pedro, aproveito ainda para vos dizer que estou a reler a vossa Satélite Sputnick, a qual me está a dar um prazer imenso. Acho importante realçar que a produção (artística, editorial, etc) tem uma continuidade temporal relevante: as coisas podem ter uma determinada importância na altura em que são produzidas e apresentadas, mas a qualidade possui uma dinâmica que lhes permite continuarem a educar-nos e a influenciar-nos ao longo do tempo.
Às vezes pode parecer que naquilo que fazemos andamos apenas a lançar sementes ao ar, algumas são comidas pelos pássaros, outras como-as eu ao pequeno-almoço, outras germinam e acabam mesmo por dar frutos e flores. É importante a coragem e a força de as continuar a lançar, porque, literalmente, nada é infrutífero, tudo vale a pena quando a alma não é pequena, etc.

Um grande obrigada e beijitos nerds desde a estação orbital C-2.

Anonymous said...

"is it so wrong to crave recognition"? Acho que não. Toda a gente gosta de sentir um quentinho no peito, toda a gente gosta de mimos. Há até quem goste de se mimar. A satisfação é diferente para cada um: realização pessoal, reconhecimento da qualidade (material, técnica, teórica...) e "valor" (pertinência, eficácia, permanência...) do trabalho, alcance (público), reverbação, reciprocidade, frequência/diversidade da actividade sexual, experiências gastronómicas, viajar... eu sei lá. Falando do artista, somos invariavelmente conduzidos até ao indivíduo - e, no limite, ao seu umbigo. Se para uns é suficiente a simples possibilidade de "materializar" as suas intenções, outros haverá para quem o envolvimento de terceiros é indispensável. As diferentes orgânicas do trabalho de cada um não diferem em legitimidade (claro que alguns poderão trabalhar precisamente em torno desta legitimidade no plano teórico, moral, histórico, político...). Pode haver mais ou menos sinceridade, maior ou menor nobreza nas intenções. Mas em última análise não me parece que um artista "alternativo" possa, por este título apenas, posicionar-se num jogo da glória moral. A contribuição que faz é de sua exclusiva responsabilidade e estará sujeita ao escrutínio do tempo como qualquer outra - em retrospectiva, apresentar-se-á em igualdade de circunstâncias com os "consagrados". Talvez seja ingénuo pensar assim. Talvez dependa dos objectivos de cada um, talvez seja esta a unidade de medida pela qual absorvemos o que nos rodeia. Mas se falo em mainstream alternativo, ou em mainstream versus alternativo, é por achar que apesar de tudo há diferenças fracturantes no assumir de uma ou outra postura, no ambicionar este estatuto (chamemos-lhe assim) ou aquele. A discussão dessas diferenças lançaria polémicas que julgo não serem benéficas aqui e agora (e reservo-me o direito de não me achar à altura ou simplesmente não me apetecer) - refiro-o pela cíclica renovação que o "mainstream" e as instituições operam por apropriação das estéticas e processos marginais. O que é crime cedo se torna imagem de marca de grupos económicos, empresariais e instituições culturais. A cultura gerada em pequenos círculos sociais (marginalizados e punidos por essa expressão cultural) acaba por nos ser servida para consumo. O "meio" cultural exerce de alguma forma uma simbiose conveniente e conivente com este sistema predatório, sendo notório que chega a reproduzir também os seus modelos de organização e funcionamento, alegando a necessidade de crescimento para assegurar a sobrevivência. E à medida que isto é cada vez menos uma novidade, é também cada vez mais difícil saber se estamos a ser, voluntariamente ou não, parte desse processo. Talvez a única alternativa seja deixar de viver, na medida em que qualquer expressão é passível de apreensão e reutilização. Se não queres ser interpretado, bem ou mal, não fales. Contra o medo e a auto-censura, propus por isso a reinvenção dos processos e referi a dificuldade crescente desta iniciativa - que, à semelhança desta discussão (e aqui partilho por inteiro a responsabilidade), se caracterizará por muita parra e pouca uva. Cada um continuará a contribuir da forma que entender - e o essencial é isso: continuar.

Uma nota mais pessoal. Haverá quem goste de se ver no catálogo de Serralves. Não censuro isso. Se lá estivesse também ia gostar mas sentiria que tinha morrido enquanto artista. Ia sentir-me em criogenia. No mínimo teria necessidade de repensar todo o meu trabalho até á data, já que de certo modo estaria num término processual. Talvez seja apenas insegurança, mas o reconhecimento é para mim um presente envenenado: sabe bem mas deixa um travo amargo. É elementar - o agravamento de um ciclo que se percorre em cada intervenção feita. Mas isto sou eu que gosto de perseguir a minha própria cauda (ou umbigo). Em todo o caso os devidos parabéns (já tardavam) aos que lá estão representados, sem ironia. Muitos com mais "mérito" até do que o catálogo sugere. E se esta "geração" ameaça cristalizar-se, concordo contigo lígia: ainda tem muitas e boas para mandar, e parece-me que não está a fazer nada mau trabalho a abrir caminho para a próxima fornada. E chega.

Anonymous said...

Falou e disse! Olé!

Anonymous said...

Eis um blog onde devem ter chovido visitas até mais não.
Sou eu também um visitante e um espectador do que têm dito; sou atento à cena artística que se vive aqui, mas também sou participante quando acho que o devo ser.
Com a autoridade de quem participa nos confrontos e que dá o corpinho à causa, com a falta dela por não estar no espírito de dar a cara, venho aqui com a folha de presenças na mão.

Porque não apareceu mais malta!? Onde estão os inconformados, os insatisfeitos, os outsiders, os anónimos, os esquecidos, os menosprezados, os animados, os realizados, etc?? Não têm mais nada a dizer!?
Desconfio bem que não são os artistas (ainda não dei conta de caras conhecidas! Isto bem que parece um quarto escuro!) que estão aqui em peso a prestar o seu depoimento, estarei errado? Estes, estão a ver, a assistir ao fogo, e se lhes tocar talvez avancem, ou então escondem-se!
Mas este assunto não lhes diz respeito? Estaremos a falar de batatas? Será isto menos politica? Será isto menos vital? Não compreendo...
Ser inconformado é ter fé!

Anonymous said...

Querido Jack LeCrack: Não é à toa que o amo...

Anonymous said...

Fé?! Quem luta não luta com fé, luta com convicções e pragmatismo! Pode parecer paradoxal, mas qualquer tipo de activismo (artístico, não artístico ou assim-assim) necessita, evidentemente de convicções, mas tb de um pragmatismo inabalável! As convicções, essas temos de lhes dar um abanão de vez em quando, para não transformarmos a exigência em intransigência.
O pragmatismo, esse sim, tem de ser inabalável, porque qualquer activismo pressupõe eficácia ou então transforma-se em mera retórica.
A fé é cega e qualquer comprometimento político (chamem-lhe social se a política vos fizer muitas cócegas) precisa de olhos bem abertos, cabeça no ar e pés bem assentes na terra. E, principalmente, muito menos ego...
Não discordo que se deva discutir o papel do artista e o seu lugar e gostei muito da intervenção da Lígia (brilhante mesmo), mas vejo pouco discutir-se o papel e o lugar da arte, de uma forma pragmática. Não estou a falar de discursos estéreis sobre "o que é a arte?", mas sim do papel de uma arte comprometida e, principalmente, da sua eficácia. Porque a mim, sinceramente, é o que me preocupa.
Falou-se por aí em sujar as mãos e levar a cultura ao ghetto. Eheheheheh! O ghetto não precisa que os iluminados lhe levem cultura, o ghetto precisa é de ter voz, o ghetto precisa é dos recursos e dos mecanismos para poder elaborar sobre a sua própria cultura. O ghetto precisa de deixar de o ser. Isto tb é válido para o ghetto cultural/artístico/independente da cidade do Porto…
Já agora, parabéns a quem resiste!

Anonymous said...

"What it today means to be artist in Portugal?"

I'm so sorry. I don't know what to say

Anonymous said...

parabéns a quem:
- respira
- vê
- reflete
- e faz...

(somos todos nós!)

é preciso ser mais do que resistente, é preciso andar para a frente!

Anonymous said...

resistência

substantivo feminino


1. acto ou efeito de resistir;

2. qualidade do que é resistente;

3. força com que um corpo reage contra a acção de outro;

4. capacidade de uma pessoa de resistir a esforços físicos ou a contrariedades;

5. recusa de submissão; oposição;

6. aquilo que estorva ou dificulta; obstáculo;

7. forma de repelir um ataque; defesa; reacção;

8. figurado ânimo; força; coragem;

9. figurado teimosia;

10. ELECTRICIDADE fio de liga especial, de elevada resistividade, disposto sobre uma substância isoladora e destinado à passagem de uma corrente eléctrica, para aquecimento;

11. MECÂNICA uma das forças aplicadas a uma alavanca;

12. MEDICINA grau de imunidade a uma doença;

13. MEDICINA qualidade de um microrganismo que não é afectado pelos antibióticos;

14. PSICANÁLISE tudo o que se opõe à livre associação de ideias e ao progresso da cura;

15. PSICOLOGIA oposição do paciente aos esforços feitos para revelar os complexos ou os sentimentos recalcados;

ELECTRICIDADE resistência eléctrica grandeza física, característica dos condutores eléctricos, cujos valores são dados pela razão entre o valor da diferença de potencial estabelecida nos terminais do condutor e o valor da intensidade da corrente que o percorre, quando no condutor só há transformação de energia eléctrica em calorífica;


resistência passiva reacção não-violenta e não-provocatória a um ataque inimigo;


(Do lat. resistentìa-, «id.»)

Anonymous said...

zoina! zoina! zoina!

merdinhas said...

O que significa ser seja o que for em Portugal?

Anonymous said...

significa que és um merdinhas

Anonymous said...

E depois da edição do livro e da mesa redonda em Serralves.

Na arte como na antiga RDA - Estado que desapareceu quando a sua burocracia mudou de lugar - os cidadãos não podiam ter em simultâneo três características: convicção (acreditar na ideologia), inteligência e honestidade. Se tinham inteligência e convicção não eram honestos; se eram honestos e convictos não eram inteligentes; se eram inteligentes e honestos não tinham convicção.
O colapso da ética, acontecimento tão aterrador para todos os que pensam, passa despercebido para muitos cuja vida decorre a todo o momento ao longo de uma sucessão mais de “tem de ser” do que de “deve ser”. Isto é, mais de necessidades do que de princípios.
A sobrevivência impõe como regra ser garantida até ao fim do dia de hoje ou do dia seguinte.
A sobrevivência consiste em as coisas não ficarem piores agora do que ontem.
A sobrevivência é essencialmente conservadora.
As pessoas estão mergulhadas até aos cabelos na luta quotidiana pela sobrevivência, não sendo capazes de sentir a necessidade de codificar o seu entendimento do bem e do mal sob a forma de um código ético.

Anonymous said...

código ético = moral

Ética - racionalidade prática

Anonymous said...

ética

substantivo feminino


1. FILOSOFIA disciplina que procura determinar a finalidade da vida humana e os meios de a alcançar, preconizando juízos de valor que permitem distinguir entre o bem e o mal;

2. princípios morais por que um indivíduo rege a sua conduta pessoal ou profissional; código deontológico;

3. moral;

4. ciência da moral;


(Do gr. ethiké [epistéme], «a ciência relativa aos costumes», pelo lat. ethìca-, «id.»)

Anonymous said...

pragmatismo

substantivo masculino


1. FILOSOFIA teoria segundo a qual a função essencial da inteligência não é fazer-nos conhecer as coisas, mas permitir a nossa acção sobre elas (H. Bergson, filósofo francês, 1859-1941; W. James, filósofo americano, 1842-1910; E. le Roy, filósofo francês, 1870-1954);

2. FILOSOFIA teoria segundo a qual a verdade de uma ideia reside na sua utilidade, definindo-se pelo seu êxito (W. James, filósofo americano, 1842-1910; J. Dewey, filósofo americano, 1859-1952);


(Do gr. prágma, -atos, «acção», pelo ing. pragmatism, «pragmatismo»)

Anonymous said...

Porque raio a acção tem de rivalizar com a moral?

Ser-se pragmático não significa não ter um código ético.

Ter um código ético dogmático e imutável significa ser-se intransigente ( e em última análise pouco inteligente).

Anonymous said...

Não rivaliza, existem muitas acções morais. ex: "O luis, ao confessar toda a verdade, agiu moralmente."
Mas porque razão devo agir moralmente?

Ser-se pragmático não é bem a mesma coisa que uma ética pragmática. ex: "O Pinto da Costa é um homem bastante pragmático e tem um código ético"

Ter um código ético dogmático e imutável significa ser-se moralista.

Anonymous said...

A moral refere-se ao comportamento normativo cujas leis foram definidas externamente ao indivíduo. A moral impõe, do exterior, as regras do comportamento e da ação.

A Ética é outra coisa :)

Anonymous said...

...assim, para lá do pudor:

E. Sousa: Nascemos ambos em 1921, eu conheço-te razoavelmente. Tu não me conheces. Achas bem?

J. Beuys: Acho péssimo.

E. Sousa: Conheces algum português?

J. Beuys: Sim...O Pinheiro, o Costa Pinheiro!

E. Sousa: Pois...que vive em Munique. Também o conheço.

Anonymous said...

bolas... já não consegui ser o comment nº 69! :(

Anonymous said...

Fartos de artistas conspiradores. Queremos artistas inspiradores!
C.Pazos

Anonymous said...

ética é o que nos impede de nos matarmos uns aos outros.
é a eliminação gradual da lei da selva.
E poderá ser um sistema politico lá para 2500.

Anonymous said...

Não me parece...

para impedir o crime existe, a política e o direito.

Ética é outra coisa :)

João Fernandes said...

Achas para a Fogueira, sem medo do fogo ou de alguma cornada virtual inesperada

Trabalhando com Arte no contexto da direcção de um museu, entendo que nada do que acontece num contexto artístico me deverá ser alheio, o que não quer dizer que me interesse igualmente por esse tudo quanto acontece. Pelo contrário, os Museus são instituições selectivas por definição na suas programações e colecções, tendo igualmente a obrigação de serem democráticas na sua acessibilidade. Ora algo que faço questão que aconteça com o Museu de Serralves enquanto eu nele trabalhar será a aplicação do critério de jamais escolher um artista para a sua programação de exposições pelo simples facto de esse artista viver e trabalhar na cidade em que o museu se encontra. Não programo artistas nem por bilhetes de identidade nem por passaportes. O que não quer dizer que “ignore deliberadamente” para utilizar a expressão da Isabel Carvalho no debate de Serralves, os “artistas locais”. Por um lado, procuro não os considerar “locais”. As suas obras interessam-me ou não em função de outras questões que considero mais relevantes, como a natureza e a singularidade das obras que realizaram até ao momento em que começarei a trabalhar com eles. Procuro não me eximir à obrigação de saber o que se passa na cidade em que vivo e trabalho, assim como em outras muitas cidades do planeta. Claro que em todos os locais há “locais” que praticam expressões artísticas que considero epifenómenos de outras expressões artísticas, o que não me interessa de todo para a programação do museu. Não tenho a arrogância nem sequer a ambição de estar em tudo quanto se passa, o que me seria obviamente impossível. Assumo opções sem a sobranceria de as considerar as únicas possíveis. Não me assusta o confronto de ideias: sempre considerei que a arte propicia confrontos e não consensos, incertezas e não certezas.
Nessa medida, saúdo a vossa discussão neste blogue, o que não quer dizer que ela não me tenha decepcionado pelo seu simplismo, facilitismo, preguiça intelectual, alarvidade boémia de meia tigela travestida de discurso contestatário. As águas estão agitadas, o que é sempre melhor do que estarem paradas, à espera de pescadores de águas turvas. No entanto, as águas não deixam de estar turvas: perdoem-me que vos diga desde já, caros(as) artistas, que, em muitos casos, essa discussão enferma de muitos dos problemas que reconheci em alguns dos vossos trabalhos com que tive ocasião de me confrontar: a arte que fazem não é nela o problema essencial, mas sim um problema secundário; a autocomplacência, a autoindulgência e a autocomiseração são por vezes insuportáveis. Falam muito mais de problemas de vida ou de sobrevivência do que de problemas estéticos, conceptuais, ou até ideológicos.Claro que o bife, seja ele de bovino ou de soja, será sempre um problema com que todos nos confrontamos. Não será no entanto essa a questão que vos levou a fazerem obras de arte, espero eu. O tom traquinas ou irreverente não esconde o despeito de se sentirem marginalizados, aliado a uma iliteracia de escrita e ideias que não confundo com genuinas atitudes contestárias ou históricos discursos “underground”. De boas intenções anda o inferno cheio e os cemitérios estão cheios de idiotas que com elas morreram, diz a vox populi, que talvez não vos fizesse mal consultar mais vezes. Se acharem que isto não é assim, convençam-me do contrário, com obras, actos e palavras menos devedores ao ressentimento de ainda não terem encontrado o vosso lugar ao sol...
Se um dos problemas do contexto da cidade do Porto e de Portugal em geral é a inexistência de suficientes espaços de programação onde um artista possa encontrar situações de apresentação do seu trabalho, tal não desculpa que qualquer momento de exposição não deva deixar de ser único na sua exigência, uma ocasião a agarrar para construir obra e não só para assumir uma presença que será tanto ou mais irrelevante quanto só se justifique por ela mesma. Interrogo-me muitas vezes porque utilizam, sem as reinventarem, fórmulas tão estafadas como o fanzine, a ilustração de vaga referência “underground”, a ironia grosseira sobre a arte, a performance que não adianta um chavelho a uma história da performance rica em situações de provocação sexual, política e estérica que as vossas parecem apenas caricaturar. Interrogo-me porque se preocupam tanto em transmitir “mensagens” simplistas mesmo quando generosas para com os problemas do mundo, abdicando tanto da especificidade de um discurso próprio das possibilidades da arte que nenhum outro discurso poderá substituir. O Duchamp dizia que a obra de arte se identificava por ser completamente destituída de “intenção”. Ora muitos(as) de vocês parecem ter apenas intenções... Questiono-me porque é que usam tanto o inglês como língua nos vossos trabalhos, quando tantas vezes o dominam tão mal e os vossos públicos são tão portugueses, quando não portuenses...
Há idades para tudo e o que parece positivo quando se começa pode tornar-se insuportável à medida que não se progride. Muitos(as) de vocês parecem estar sempre a começar da mesma maneira, sem confrontarem as suas obras com as que já existem feitas por muitos outros em várias latitudes e longitudes, sem as confrontarem com vocês mesmos, com o que fizeram antes ou farão depois. O facto de trabalharem uns para os outros, em circuito fechado, não vos estimula a discussão crítica, mas antes favorece a palmadinha fácil nas costas, a cerveja bebida em conjunto sem o travo na boca da discordância frontal e corajosa. Posso encontrar-vos, beber convosco, ver os vossos trabalhos, mas não esperem de mim que seja mais um do grupo, ou a vossa porta para a visibilidade ou a consagração. Sempre estive disponível para encontrar no vosso trabalho motivos de sobra para o meu entusiasmo, mas até agora ainda não os descobri. Ora eu tenho achado extremamente importante que não fiquem parados, que mostrem o vosso trabalhos em cafés, ruas recônditas, casas abandonadas ou sótãos particulares. Saliento-o a todos os que me perguntam sobre a situação no Porto. E, no entanto tudo isso ainda me sabe a muito pouco...
O que vos preocupa não é tanto a visibilidade, mas antes o reconhecimento e a consagração. Ora perdoem-me que vos diga que considero que estas três questões deverão surgir como consequência natural da especificidade de uma obra, ou então de muito pouco vos servirão. Não será por existirem ou insistirem que valerá a pena serem artistas. Aliás, algo que não vale a pena de todo é ser artista para ser artista, não sei se me estão a entender. Eu sei que o mundo da arte está cheio de histórias de sucesso e de insucesso, glórias fátuas, dinheiros e famas alimentadas económica e socialmente pelo mercado, pelas instituições e pelas várias instâncias particulares que nele operam, do crítico ao curador e ao director de museu, do coleccionador ao jornalista ou ao dealer. Se são esses os vossos sonhos, não precisarão de mim para os discutir. Sou-lhes bastante indiferente, o que não quer dizer que não deixe de lhes estar atento, ou que ignore que as minhas funções me confiram uma forma de poder de legitimação. Há artistas cheios de fama ou de reconhecimentos vários aos quais sou completamente indiferente, assim como há artistas ignotos ou esquecidos cujas obras me interessam vivamente. Gosto de obras de arte que coloquem problemas à arte e ao mundo que, até elas acontecerem, não tinham ainda sido colocados da mesma maneira que elas agora o fazem.Gosto de obras de arte que não têm a pretensão ilusória ou ingénua de conseguirem mudar o mundo, quando nem sequer se conseguem confrontar com a necessidade óbvia de se mudarem a elas mesmas. Há demasiadas obras de arte neste mundo, penso por vezes. É uma grande responsabilidade adicionar imagens às imagens que conhecemos, assim como acrescentar formas, espaços, lugares, objectos a todos aqueles que proliferam e circulam por inúmeras feiras de arte, leilões, museus, centros de arte, galerias, bienais, instituições, etc. Para quê? Porquê? Como? Eis perguntas sem resposta a que cada um de vocês terá no entanto que encontrar a sua resposta de artista. Repito que a minha atitude perante a arte não é a única possível, nem sequer tenho a pretensão de que seja a mais justa ou necessária. Ela será individual, subjectiva, feita de acertos e de erros, de tentativas, de falhanços e de sucessos, de encontros e desencontros.
Mais do que artistas “alternativos” (seja lá o que isso for...), parece-me q ue vocês procuram antes fazer a alternativa, no sentido tauromáquico da expressão que designa os jovens toureiros no momento da sua primeira apresentação na arena, para utilizar uma expressão em desuso, politicamente incorrecta, que vos poderá espicaçar a cornearem-me valentemente.Têm feito muito para aparecerem e pouco para se assumirem com propostas que vos sejam únicas. Suponho que é tempo de se dedicarem muito mais ao trabalho de se porem em questão e reinventarem o vosso trabalho em vez de se abandonarem ao facilitismo de pensarem que “o inferno são os outros”. Vale a pena enfrentar corajosamente os vossos próprios demónios. Procurarei sempre estar atento e disponível para conversar convosco e com outros artistas. Gosto do que faço e discutir o que acontece com a arte nos nossos dias será sempre importante para mim. Acho apenas que é mais importante discutir o que é ser artista e fazer obras de arte, pensá-las e reflectir sobre elas do que discutir do modo como o fazem “o que significa ser artista em Portugal”, começando por lançarem a questão em inglês – “what it today means to be artist in Portugal?”. Mais uma vez, erro de alvo e de estratégia se me perdoam a minha opinião.
Sempre ao vosso dispôr (para muito, se bem que não para tudo...),

João Fernandes
Director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves

Anonymous said...

Não sei se vai levar ou não uma cornada, mas se o inferno forem os outros, como Sartre o escreveu, então vai ter que dividir o quarto de hotel com estes artistas locais e sem ar condicionado nem ligação à net! Ainda bem que eu estou no outro ao lado...

Maria Assis, cidadã glocal

Anonymous said...

O comentário do João Fernandes é mesmo paternalista!

O pior é que tem razão...

Anonymous said...

na mouche. na escola avaliavam-se alunos "ao kilo" em certas disciplinas, e alguns habituaram-se ao condicionamento: trabalha e serás recompensado. na versão actual: aparece e serás reconhecido. o paternalismo não é totalmente imerecido... embora, vá lá, uns o mereçam mais que outros :D

Anonymous said...

Falam muito mais de problemas de vida ou de sobrevivência do que de problemas estéticos, conceptuais, ou até ideológicos.

Não sou artista. Visito Serralves regularmente. Pago os bilhetes para assistir às conferências e para ver as exposições. Gosto de fazer isso na minha cidade.

Talvez seja ingénuo da minha parte, mas acho estranho que se oponha assim vida e sobrevivência a problemas estéticos, conceptuais ou ideológicos. Estes últimos serão sem dúvida vazios sem os primeiros.

Se esses critérios de "menos vida e menos sobrevivência" fossem aplicados criteriosamente à escolha dos artistas internacionais para expor em Serralves, o Museu estaria vazio na maior parte do tempo.

Poderia ser usado como salão de chá onde as pessoas de cultura se encontrariam para lamentar a inexistência de arte, de cultura, e literacia em Portugal,e como isto é tudo um caso perdido.

Seria no fundo a mesma coisa que é agora numa versão mais barata e honesta.

V.M.

Anonymous said...

k desilusão sr joao fernandes... nem imagina o kuanto me desilude! peço desculpa por usar "k" em vez de "q"

Anonymous said...

ai que o porto faz lembrar tantas aldeias de portugal,
com um director a defender o seu discurso e os outros todos a fazerem-se de entendidos
é como realmente falar da guerra do Iraque e como nós temos lemos os jornais, somos realmente os mais entendidos da matéria, a santa ignorância à vista dos mais entendidos...
e o que realmente significa toda esta conversa num blog?
sinto um vazio, um verdadeiro vazio...

Anonymous said...

Nos Estados Unidos, eles têm a Acção Afirmativa para garantir que alguns artistas estrangeiros, minorias raciais ou mulheres possam expor no meio dos "Dead White Males".

Em Portugal, temos a nossa própria Acção Afirmativa que permite que às vezes um ou outro artista português labrego e iletrado possa expor no meio das pérolas de importação, escolhidas a dedo no mercado internacional da arte.

A carreira de comissário de alto nível em Portugal está cheia de decisões arriscadas e inéditas: Rauschenberg ou Bacon? Thomas Hirschorn ou Luc Tuymans? Até fico com insónias com a responsabilidade! O que faria o Nick Serota no meu lugar? E o Todoli? Ai jesus...

Anonymous said...

Quando eu tinha 11, 12 anos, andava numa escola chamada Escola Preparatória Dr. Leonardo Coimbra Filho, que era paredes meias com o actual Museu de Serralves. Na altura não existia Museu nem Casa de Serralves, apenas a Quinta do Conde.
Entre nós e a Quinta havia um muro alto com vidros espetados no cimento. Estávamos terminantemente proibidos de passar para o outro lado do muro, mas , volta e meia, lá aparecia um coração destemido que se aventurava para lá das ameias. Era sempre severamente punido (pelo menos é assim que a minha imaginação o recorda).
A Quinta era para nós um lugar mítico, dizia-se que havia um bosque maravilhoso com um lago fantástico perdido lá no meio, guardado por cães ferozes e armadilhas de fogo (lembro-me muito bem disto das armadilhas, porque ficava a pensar como raio se faziam armadilhas de fogo).
Andávamos nós a brincar pela escola, um belo dia, quando correu a palavra que a Quinta agora era pública e toda a gente lá podia entrar. Nós, que éramos crianças, levamos a coisa à letra e toca tudo a saltar o muro e a correr pelo jardim. E a imagem foi bonita! A canalha toda a correr para o Paraíso (mais uma vez, é assim que a minha imaginação o recorda, às tantas éramos só 4 ou 5…).
Claro que não chegamos sequer ao lago (que eu até duvidava que existisse), viemos todos recambiados.
Por sorte, a nossa professora de Educação Visual era uma fixe que sabia da nossa ansiedade por ver a Quinta, quando chegou o dia da aula dela levou-nos lá. Mas ainda não foi dessa que esta criança de pouca fé viu o lago. Não nos deixaram entrar. Não me perguntem porquê, eu não percebi, tinha acabado de me cair um dente, um molar que ainda nem estava a abanar e ficou preso no caramelo, por isso eu deitava sangue pela boca. Lembro-me que fui choramingar à professora e ela (que costumava ser tão carinhosa) correu-me, disse qualquer coisa sobre o meu dente ser uma insignificância comparado com a Arte.

Estava para aqui a fazer contas… Tsssss… Parece que já passaram 20 anos…passaram mesmo… Não tarda nada ando para aí a dizer que no meu tempo é que era bom.
Agora tenho 32 anos e confesso que ainda gosto de lagos e lugares míticos. A vantagem de crescer é que agora as chicotadas psicológicas paternalistas não têm sobre mim o efeito que tinham nesse tempo, quero lá saber que o João Fernandes (se é que ele andou mesmo por aqui) ache que eu me preocupo mais com o meu dente do que com a Arte. Quero lá saber das razões ocultas que possam ou não presidir ao texto. Quero lá saber das manobras de bastidores e da justiça ou injustiça moral do senhor. Quero lá saber se ele é hipócrita ou convicto. Estou-me nas tintas para o João Fernandes (como me estava nas tintas para o Conde, o que eu queria era saber se havia Lago).
Mas porque é que eu disse que o João Fernandes tinha razão no seu discurso do tipo Maria Filomena Mónica? Não é certamente pelo, esse sim tão estafado nesta Quinta, discurso da excelência e da inovação. O que me preocupa é que se começa a tornar evidente que esta geração (atenção que não me estou a pôr de fora) corre o sério risco de envelhecer sem chegar a amadurecer e isso não acontece só na Quinta da Arte.

Tem graça, não me lembro do dia em que entrei pela primeira vez em Serralves e vi que afinal sempre havia Lago. Mas ainda hoje, quando desço o jardim e ele aparece, fico surpreendida. Não há uma única vez que o veja que não pense “E não é que havia mesmo Lago!!”

Anonymous said...

Caro João Fernandes:

Tendo em consideração as palavras que escreveu é admissível concluir que nenhum artista nesta cidade tem valor e que tudo o que foi realizado ao longo destes últimos anos foi um esforço inconsequente, infantil e desprovido de seriedade intelectual e ideológica.

Assim, pergunto-lhe porque a instituição a que pertence deu cobertura às exposições "Busca-Pólos" e ao respectivo livro "Salão Olímpico 2003-2006" e ainda ao livro "Propostas da Arte portuguesa. Posição: 2007" onde grande parte destes artistas estão representados. Se não há nada de relevante e sério a acontecer, porquê perder tempo a apoiar e promover estas exposições e livros?

Estou de acordo que há no Porto artistas melhores que outros, mais originais que outros, mais relevantes que outros, como haverá também uns mais finórios e aldrabões que outros. Não acho no entanto, que deva cortar a direito sobre este conjunto de pessoas, correndo o risco de fazer cair em descrédito a própria instituição a que pertence e o seu próprio trabalho.

Cada um enfiará o barrete que entender, mas sei que nem todos enfiarão o barrete que João Fernandes pretende colocar-lhes.

Anonymous said...

Lamento mas estou demasiado cansada da fuga para frente, meia bola e força. Continuo a achar que mais vale ser uma cadela que uma galinha, mas não contem comigo para cadela de guarda... E tb estou um bocadinho farta que as pessoas não se assumam.

Anonymous said...

João Fernandes,

Começo por lhe agradecer o ter aparecido nesta discussão e ter contribuído com um comentário. Informo-o que esta discussão surgiu espontaneamente no meu blog, na passagem para o dia 1 de Maio, na continuação da conferência em Serralves e do lançamento do livro “Propostas da Arte Portuguesa”. Pessoalmente, eu preferiria que fosse marcada uma reunião no espaço dito real onde todos os presentes contribuíssem activamente na reflexão do tema em debate. Até ao momento não houve disponibilidade para que essa reunião fosse marcada, nem um sério empenho em organizá-la.

Imagino que para todos nós, mais ou menos habituados ao meio da Web, reconhecemos as suas vantagem e desvantagens, como também os limites que lhe são próprios. Com a experiência que tenho de situações semelhantes, asseguro-lhe que este meio não é o melhor para se manter uma discussão com interesse e relevância. No entanto, talvez por saber à partida que este não era o sítio certo, confesso que fiquei surpreendida com algumas participações. Criarei sempre mais expectativas sobre encontros e confrontos reais do que fóruns na web.

Espero que em breve se reúnam esforços e vontades para nos sentarmos em qualquer sítio a falar abertamente dos assuntos que nos preocupam, fazendo o possível por expor aos outros a nossa opinião e abrindo, por outro lado, a nossa capacidade de entendimento do outro. Convidá-lo-ei também a estar presente. Se tiver disponibilidade, apareça; se não puder não lhe levo a mal. Lembrei-me de fazer um simpático pic-nic nos jardins de Serralves. Se for permitido merendar aí fica já prometido, se não for, deslocamo-nos a uma sombra fresca num outro jardim qualquer.

Quanto ao comentário que nos deixou, expresso novamente a minha perplexidade quanto à forma como remete o assunto para Serralves e para si. Confesso-lhe que este e outros equívocos e más interpretações só se tornaram claros no dia a seguir e não estou admirada que este seu comentário seja o início de muitos esclarecimentos que terão necessariamente que ser feitos.
À saída da conferência tentei explicar-lhe que o texto que li e a continuação que dei ao assunto não passava somente pelo Museu e pelo Director do mesmo. Gostaria que acreditasse de uma vez que não lhe cabe a si embandeirar todos os problemas dos artistas desta cidade. Tente perceber que é uma questão de política cultural! Generalizada. Que nos afecta a todos. O querer puxar o assunto para o apadrinhamento (ou não) de Serralves deixa-me um pouco cansada. É sempre a mesma história. Claro que lhe perguntei a sua opinião sobre os artistas do Porto, mas enderecei por três razões, pela sua condição de Director do mais importante Museu da cidade e do país, porque estávamos precisamente nesse Museu e por respeitar a sua opinião. Tenho quase a certeza que estamos de acordo que mais espaços de exposição, diversos, com estruturas organizativas semelhantes às galerias culturais, aos Museus, aos Centros Culturais, aos espaços geridos por artistas, ou com novas estruturas, talvez concebidas por nós, seriam muito importantes para todos.
Não coloque nos seus ombros este peso!
A sua posição no comentário que fez, a que assumiu e que para mim não é verdadeira, é de pai. Certamente que muitos o poderão ver assim, os que querem e fazem depender a sua vida do chamamento do Museu ou aqueles que anseiam perpetuar a figura paternal e autoritária de um pai que os chama à razão. Não faço parte de nenhum dos dois tipos descritos. Ao contrário do que se entendeu com o termo “visibilidade” (mais um equívoco por esclarecer), não o insiro na lista das minhas prioridades para ser visível, certamente que tem razão quando diz que devíamos falar mais, concordo, seria muito importante confrontar o meu trabalho com a sua opinião, mas não quero que se compreenda essa aproximação como uma tentativa (desesperada) de ser apadrinhada. Por outro lado, o exercício de poder que faz no seu comentário, servirá a muitos para se auto culpabilizarem do que fazem ou do que não fazem. Haverá muitos a quem sabe bem, de vez em quando, que os ponham na linha. Este não é de todo o meu caso. Não enfio a carapuça.

Existe uma certa dose de perigo no seu comentário, que é precisamente o facto de exercer poder e desse exercício ter respostas. Da minha parte, estarei atenta. Não me revejo totalmente no que escreveu e não me reconheço no que diz. A minha consciência leva-me a considerar muito triste o papel do artista eternamente criança, mantendo-se numa infantilidade irresponsável sendo incapaz de tomar opções quer seja no seu espaço, quer seja na Instituição que é o Museu.

Pensando no todo por vez da parte, os apontamentos que faz a um grupo, no qual me insiro muitas vezes sem perceber se o que nos une é o dado geracional, se é a localização geográfica ou as preocupações que partilhamos, são muitos tristes! Se me confrontaram, alguns dos participantes, elementos do público e amigos presentes, após a conferência com o travo amargo que lhes deixou a minha intervenção, digo-lhe que o seu comentário é profundamente triste, desolador e imensamente deprimente. Confesso-lhe que não encontro melhor forma de descrever o que li. No meu texto, lido em Serralves, e publicado no livro, parti do princípio que eram as preocupações comuns que nos definiam como grupo, falei no plural, falei por me senti segura estando integrada. O facto de estar ou não é motivo para uma outra conversa e para futura reflexão minha pessoal, o que é oportuno referir são as tais preocupações que me continuam a roubar algum tempo e dedicação. Essas que são minimizadas e ridicularizadas por si.

Em último caso, a responsabilidade que tem sobre as nossas preocupações é a que decidir ter. O seu papel perante os nossos dilemas, os nossos casos particulares ou de grupo é o mesmo de um cidadão preocupado com o panorama cultural (enfraquecido como tem estado), mas é também o de um Director de Museu, figura de referência da nossa cultura capaz de alterar e poder melhorar o contexto artístico local e nacional.

Conte com o convite para o pic nic.
Até breve.

Isabel Carvalho

Anonymous said...

o jet-set underground prova o fruto amargo da sua pequenez

Anonymous said...

Caraças, Isabel, se o comentário do gajo não serviu para mais nada, serviu para te ouvir falar assim! E quem fala assim não é gago!

Anonymous said...

Mas alguém lhe pediu alguma coisa? O Sr. está a enfiar a carapuça, não está? Em algum momento do texto alguém lhe pediu seja o que for? É tão infeliz a forma como termina o seu texto.

Anonymous said...

Acho que o JF levou a coisa demasiado a peito, ninguém estava a falar de Serralves em particular em relação à falta de locais e oportunidades para trabalhar enquanto artista, nem à espera que ele fosse o salvador da geração. Falei no contexto geral, e daí as cidades ou o país terem mais reponsabilidade ... pois não há uma política de apoio aos artistas portugueses, como por exemplo na Holanda o há em espaços de exposição municipais onde há cotas... O espaço do rés-do-chão do Witte de With (TENT)é disso um exemplo: claro que isso é possível porque há espaços de múltiplas funções em todas as cidades médias, no que diz respeito à arte contemporânea - que falta em Portugal. Mas depois, diz-se, da Holanda não vem arte interessante, ou seja ... nomeiem lá artistas holandeses, "globetrotters" ... eu digo, mas que importa isso!, a Holanda tem um contexto artístico incrivelmente dinâmico, com espaços geridos por artistas, residências (estas de extrema importância para os contextos pois determinam um mobilidade e crescimento dos artistas) espaços intermédios financiados pelos municípios, ou fundos nacionais, fundações, instituições -- (não menciono galerias comerciais -- sei-- mas daí normalmente vem pouco inovação ou discussão para o discurso artístico - regra geral, não quer dizer que não haja excepções)... referiu -se o caso da Dinamarca se não me engano, na discussão na Biblioteca de Serralves a quando do lançamento do livro ...o excesso de subsídios arruinou tudo o que havia de interesse na arte dinamarquesa ...
Não sei... mas caramba...voltaremos assim ao ideal romântico, só a obra do artista desgraçado sobreviverá?

e falando em arte e exposições::::

Sinto falta de comissariado de interesse e criterioso em Portugal, não há assim tanto... ou melhor é raro...

Há uns anos, em conversa com um artista de Glasgow que me dizia ser artista, ou continuar a ser artista porque o convidavam para projectos, ou seja só trabalhava por haver um objectivo, um contexto... Na altura pareceu-me do outro mundo... eu que achava que o fazia porque não havia outra escolha -- andar por aí a pensar no mundo, no que me rodeia e a arte saía-me como produto desse pensar e investigar, mas como tornar esse pensamento público?

E se ficar muito tempo sem me convidarem a participar em qualquer projecto ou exposição, em que me medida afectará o que faço?

...
se não há contexto para o trabalho, cria-se?

Anonymous said...

o jet-set underground prova o fruto amargo da sua pequenez

talvez, mas prefiro:

o submarino voador prova a sardinha doce da sua grandeza.

(faz menos sentido)

Anonymous said...

eh eh eh...todos a lavarem a roupa suja...os punks a fingirem que são punks...os betos a fingirem-se okupas é sempre a mesma história, os contra as instituições mas completamentes depedentes destas mesmas, num fundo é uma performance mesmo mal feita
é a prova da pequenez que o Porto t~em tão forte, entranhada em cada esquina
Porto maravilhosa cidade, mas sempre de passagem...

Anonymous said...

...comentários de passagem e tangencialmente dedicados a coisa alguma, esvaziam totalmente a discussão!

Anonymous said...
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isabel carvalho said...

Ups, apaguei sem querer o ultimo comment...podes posta-lo outra vez!?

isabel carvalho said...

Hoje estarei o dia fora da Web, tenham um bom dia!

Anonymous said...

Sr. João Fernandes,

Não há diferença nenhuma entre um cosmopolita e um provinciano, excepto a maneira como se comporta no seu próprio país.

Anonymous said...

vocês as 2, a mim não me enganam!
a vossa conversazinha já me enoja!

o bom disto tudo é que mostraram aquilo que são! - interesseiras. o "quanto mais me bates, mais gosto de ti" não resultou com o J.Fernandes! e ainda bem...

neste canto da net, podem ter os vossos amigos a bajular-vos... mas para mim, a situação é clara!

Anonymous said...

"Haverá muitos a quem sabe bem, de vez em quando, que os ponham na linha."

que LATA!!!

Anonymous said...

100 comentários!! (trocadilho)

Anonymous said...

Em primeiro lugar peço desculpa por não ter comparecido na tão falada mesa redonda em Serralves em torno do lançamento do livro “Propostas da Arte Portuguesa – Posição 2007”, portanto qualquer coisa que possa dizer neste texto que já foi dito é puro desconhecimento de causa da minha parte. No entanto, e após 100 posts sobre o assunto, senti-me no dever de escrever algo sobre o assunto quer no papel de artista quer no papel de gestor de espaços culturais em Guimarães (Laboratório das Artes, Sala de Espera e Espaço Transportável).
Não foi a primeira vez que esta temática foi abordada em Serralves, vindo-me à memória uma insólita conversa na biblioteca de Serralves onde João Fernandes expunha algumas questões relacionadas com a gestão do museu quando, inesperadamente (pelo menos para mim), se iniciou um discurso por parte do público relacionado com a problemática artística portuense, com várias críticas direccionadas à suposta centralização lisboeta, gerando-se um conjunto de opiniões generalizadas de que Serralves deveria ter um papel mais importante no que respeita aos artistas da cidade do Porto. O que se calhar é que o público não sabia que cerca de 70% dos presentes eram exteriores à cidade. Eu, como cidadão vimaranense, deixei a cadeira com a nítida sensação de que o que estava a acontecer não era mais do que manifesta falta de agrado perante o responsável por aquela instituição, da continua e desnecessária rivalidade entre artistas do Norte e do Sul do país, quando deveríamos estar todos a batalhar para uma arte portuguesa com visibilidade internacional de crescente qualidade. Quero acreditar que o que está a acontecer aqui no blogue é praticamente a mesma coisa à qual assisti.

Entretanto, ao ler o texto de João Fernandes, (confesso que fiquei bastante surpreendido por manifestar-se publicamente na web) verifico que estou de acordo em vários pontos, demonstrando, como em outras situações, a sua excelente capacidade de comunicação, deixando bem claro a sua opinião, com algumas “espinhas” no meio que ficarão na garganta de muitos. No entanto acho importante referir que a realidade é muito distante daquela que se julga ser. Se Daniel Buren diz que o ateliê funciona enquanto lugar único onde o trabalho se faz, privado (na grande maioria dos casos), um lugar fixo de criação de objectos, já o museu funciona enquanto lugar único onde o trabalho se vê. Mas esta ideia de que o atelier é o lugar onde o crítico de arte, o comissário de exposições ou o director de um museu vai seleccionar as obras para figurar nesta ou naquela exposição é, na minha opinião, bastante castradora e “quadrada”. Os espaços informais (ou alternativos) funcionam cada vez mais como atelier aberto à criação e experimentação ideológica, sendo importante visitá-los, respirá-los, compreende-los e, fundamentalmente, enquadrá-los num contexto (espaço/temporal e necessariamente financeiro). Ninguém mais do que os artistas sabe o que é difícil ser-se artista em Portugal. Daí a naturalidade que se reúnam em grupos, criem projectos e espaços de forma a que lhes garanta estabilidade e inevitavelmente visibilidade. Mas serão assim tão poucos os apoios? Verifico que quase todos os artistas de uma geração que iniciaram uma profunda revolução nos espaços expositivos do Porto já pertencem a uma galeria, já expuseram nalgumas das mais prestigiadas instituições (no Porto, Lisboa, Guimarães e Coimbra), lançaram-se livros (dois deles com o forte apoio de Serralves – Olímpico e este último editado por Miguel Pérez) e são descritos em vários artigos do jornal Público contando com a presença constante de críticos e comissários de exposições em elevado número das suas actividades. Esta é a perspectiva de alguém que vive fora dos grandes centros urbanos.
Não posso deixar de referir a importância que tem o facto de um director de um museu de arte contemporânea entrar neste “jogo” de palavras, atribuindo (ao meu olhar) um carácter performativo, legitimando qualquer atitude dos intervenientes nesta discussão, onde qualquer “intenção” deixe de o ser, passando a existir como um acto consumado.

Luís Ribeiro

Anonymous said...

Como o Luís eu também falhei a mesa redonda em Serralves e também considero esta vitimização encenada e decorada com estratégias confrangedoras de ambição e sobrevivência política como um piscar de olhos, uma sedução à instituição, à figura de um homem, o director, que afinal apoia os movimentos de artistas e de espaços alternativos que aconteceram nos últimos anos no Porto. Como o Luís apontou e muito bem: Busca polos, catálogo do Salão Olímpico e arte portuguesa, posição 2007.

M.Assis

Anonymous said...

Estes artistas dão muito trabalho...no futuro escolha só os bonzinhos!

Anonymous said...

Bom noite,
Consegui aceder agora à internet e não terei tempo para responder a tantos comentários, mas terei o cuidado de matar uns coelhinhos de uma cajadada só.
Voltamos às diferenças das conversas dentro e fora da web. Não vemos os rostos, não vemos quem chega e quem sai. Não sabemos de onde vêm as vozes! Sempre levei isto com boa disposição e a minha capacidade para aguentar certo tipo de comentários menos agradáveis é elevada. No entanto, parece ser tempo de vos dizer que a conversa continuará noutro lado. Agradeço terem passado por cá, terem dado uma vista de olhos no meu singelo blog, mas está na altura de limpar a sala de serpentinas e arrumar as tralhas! Se quiserem ter o trabalho de continuar com a conversa nestes termos iniciem um blog. Terei muito gosto de me pronunciar sobre este e outros assuntos.

Da minha parte, tal como prometido, convoco o João Fernandes e quem quiser aparecer para um pic nic no jardim. Que tal Sábado de tarde? Às 18h? Eu estou disponível e levo toalha.

Este blog manter-se-á com esta pilha de comentários acessíveis para quem os quiser visitar, mas daqui em diante passarei a moderá-los. Não é uma medida insólita (ai, que ainda pegam nisto para dizer que se trata de um atentado à liberdade de expressão!), é aliás bastante normal e na prática quer dizer que podem deixar os comentários que entenderem, mas estes serão moderados antes de serem publicados. Acontece que só não se vê de imediato o comentário deixado, mas de resto fica tudo igual.

Assim, apaziguam-se as águas turvas e só se turvam as águas quando for necessário!
Apenas a espontaneidade será abalada, mas se calhar é pelo melhor, esfriam-se as ideias antes de se saltar para aqui para escrever disparates!

Tenho a sensação que esta velocidade não ajuda muito a concentração na leitura atenta dos comentários.

Desconfio mesmo que o meu comentário não foi lido.

A ver por muitos que se seguiram. Realmente estão todos a debruçar-se no papel do Director do Museu, se este está ou não a cumprir as suas funções para com os artistas do Porto e arredores, deixando bilhetinhos de honesta (não desconfio desta parte) solidariedade, quando a questão a discutir não é esta!

Eu bem disse ao JF que isto era perigoso, há no meu comentário anterior um parágrafo dedicado ao “perigo” que se adivinhava iminente. Se como Director pode fazer a diferença, acho que sim; se vai fazer maravilhas por esta aventura que é ser artista, acho que não. Para além do JF querer acarretar o peso (também referido, peço desculpa pela repetição), a verdade é que tem razões para isso, pelo menos a ver pelos que correm em sua defesa.

E teimam nos mesmos clichés de que o artista anda atrás da instituição, que encena, que falsifica, que isto e aquilo! Ai, que tontice para a qual não há paciência. Porque é que estas ovelhas não se deitam a pensar na vida em vez de infernizar a dos outros com tão má consciência?

Com algum receio (ui, as interpretações malvadas!), tenho que dizer ao JF que lhe dou razão, pelo lado que ele menos desconfia. A discussão começou com a vontade de falar abertamente das coisas como elas são, a partir do mote lançado pelo livro e afinal, o feitiço virou-se contra o feiticeiro! Por isso, o que lhe digo é que embora nunca, mas nunca tenha dissociado a minha reflexão da minha prática, o que continuarei a fazer, acho que é altura de me concentrar no meu trabalho e salvaguardar-me (como tantos fizeram desde o início!) abrandando o passo e a vontade de partilhar com os outros certos assuntos.

Turvam-se as águas, se der para aí, de novo no pic nic.

Isabel Carvalho

Anonymous said...

Para mim, deixou de haver diferença entre Serralves e um livro da Taschen.

Serralves revela a sua condição de parque temático para mostrar aos petizes essa coisa da arte internacional, um Portugal dos Pequenitos dirigido pelo sr. director, um coronel sanders vermelhusco e folgazão que tem sempre tempo para a criançada.

Hey, Mickey!!!

Anonymous said...

...Brilhante!

Anonymous said...

Venho só deixar algum items não tratados.
- Qual a estratégia dos escassos museus ou centros culturais que trabalham com a arte contemporânea em Portugal? A maioria deles tem os ditos problemas de miserável sobrevivência que João Fernandes apontou aos artistas da Invicta. Do Museu do Chiado até ao CCB, vemos a agonia. No que respeita a Serralves que não vive à mingua os argumentos de João Fernandes viram-se contra si mesmo e contra a instituição que defende. Pois por mais internacional a sua programação um museu vive no essencial ligado à sua comunidade local, é para ela no essencial que trabalha. Ora se para João Fernandes a paisagem artística do Porto é o desastre que diz ser, então a instituição cultural de arte contemporânea mais influente do Porto tem prestado um péssimo serviço à cidade, tem de algum modo condicionado os jovens artistas do Porto a trilharem um caminho cujos resultados segundo o juízo do comissário de Serralves são medíocres.
Um outro ponto tem a ver com a duração dos comissários nos ditos museus e Centros Culturais. Cá têm a tentação de se perpetuar. Se circulassem, e não fossem sempre os mesmos no círculo à volta das cadeiras, teríamos uma maior pluralidade e uma riqueza de escolhas maiores e novas abordagens. E claro, não ter medo de trazer gente de fora.
Os museus e afins deviam ser peças centrais não apenas para darem a ver os tais artistas internacionais mas numa politica de internacionalização da arte portuguesa, de criarem redes sólidas, têm recursos para tal.
Verifique-se como os museus da raia espanhola são muito mais agressivos e são eles que vêm buscar artistas portugueses e da nossa parte niente. Temos que nos conectar e de criar redes fora de nós. As sinergias com Espanha, ou o resto da Europa ou com o Brasil são para rir. Mas vamos ser obrigados a saltar deste nicho, a libertá-lo desta pequenês, e essas instituições deviam estar na frente desse combate. E custava muito a Serralves dispor de um espaço que tivesse uma programação de artistas Portugueses, tentando criar novas dinâmicas no nosso tecido artístico em vez de não fazer nada e de dar argumentos aos artistas quando passam a vida a lamuriar. Bem, hoje em dia a lamúria é geral, vai de uma ponta à outra da sociedade portuguesa. Mas que espírito de comunidade e de cidade é esse!?
Mas no fundo também está em causa o elo mais fraco do governo Sócrates, o Ministério da Cultura, que se tem revelado desastroso. Já agora era bom saber o que é que um Alexandre Melo faz como assessor da cultura de José Sócrates?...
Haveria muito mais a dizer, mas nunca mais saía daqui.

Dromedário

Anonymous said...

Porque desvaloriza joão fernandes os "artistas locais" ao mesmo tempo (literalmente) que lança um livro (posição: 2007) com o selo de serralves sobre os mesmos?

Não é uma contradição: ao fazê-lo deixa bem claro que só lançou o livro para manter os artistas locais satisfeitos e disponíveis para aparecerem nas inaugurações de serralves. Dá assim a entender que só o fez por "compromisso" e não por "razões de gosto".

Quando o joão fernandes acusa os "artistas locais" de reinvindicarem borlas apenas por serem "locais" não se devia esquecer que quem deu apoios aos artistas apenas por essa razão foi ele.

Lord Shaftesbury

Anonymous said...

Eu bem sabia que não era ele...afinal não há resposta!

Anonymous said...

1.Quando resolvi participar na discussão em curso neste blogue, confesso que o meu principal objectivo foi o de contribuir para destruir a configuração previsível de uma geração de artistas ressentidos, confinados a um localismo de guetto tradutível pela inexistência de um confronto e de uma discussão de ideias, situações, atitudes, trabalhos. Corri riscos que não ignorava: teria sido muito mais fácil assobiar para o lado e ler diletantemente os queixumes que por aqui escorriam, assistindo ao seu estertor e bloqueio em relação a possíveis saídas para a presente situação.
2.Optei deliberadamente por questionar a natureza do trabalho que é feito, das exposições que são apresentadas, dos projectos que foram realizados no contexto dos chamados espaços “independentes” ou “alternativos” da cidade. Sublinhei-lhe a traço grosso muitos dos problemas que lhe detecto, sem referir algumas das virtudes que também lhe reconheço: a coragem de aparecer, persistir e insistir em mostrar trabalho em espaços difíceis, sem nenhumas condições de produção ou de apoio, o exercício de uma consciência crítica que alguns desses trabalhos manifestam, a capacidade de resistência à inexistência de uma atenção crítica, a qualidade do desenho que aflora em alguns dos trabalhos desenvolvidos, assim como as possibilidades abertas por certos projectos conceptuais nestes últimos anos revelados. Insisto igualmente nos aspectos negativos por mim descritos no comentário anterior. Acho que há muito a aumentar em exigência em relação a muitos dos trabalhos que se apresentam em tais espaços.
3.Nunca pretendi generalizar os problemas que referi no sentido de identificar com eles todos os artistas ou todas as obras que têm vindo aí a ser apresentadas. Pareceu-me no entanto fundamental referir tudo aquilo que nos poderia colocar em desacordo em vez de me refugiar num consenso fácil sobre o que nos poderia sintonizar de modo fácil e alienatório. A cada um(a) o direito de enfiar o barrete ou a carapuça. Generalizar é sempre problemático, seja em relação a aspectos negativos como em relação a aspectos positivos.O que não quer dizer que não seja inútil para tentar recentrar uma discussão que se me afigurava um beco sem saída. Nunca seria justo falar de trabalhos em particular no contexto de um blogue, mantendo no entanto a minha disponibilidade para o fazer em diálogo com quantos(as) o queiram fazer. Constato no entanto com satisfação que há quem se revolte contra as minhas generalizações, o que não me leva no entanto a desdizê-las, apenas a considerar que elas não abrangem obviamente todos os trabalhos que tive a ocasião de ver ou dos quais me chegou informação.
4.E o que é que eu tenho a ver com isso tudo?, perguntam-me alguns. Quem me convidou?, há também quem pergunte. Confesso que acho curiosas tais questões. Alguém acha que um director de museu deve trabalhar numa torre de marfim, sem contribuir para a discussão do contexto artístico onde esse museu também se encontra? Alguém acha que só o deve fazer por convite?
5.Por falar em convite, sempre achei estranho que a maior parte dos artistas mais jovens da cidade nunca me procurem para discutirem os seus trabalhos. Será timidez, será receio, será a recusa do diálogo comigo ou com uma instituição que representará uma forma de poder de legitimação que se recusa ou não se reconhece? Não é que ache que tenham que o fazer. A cada um cabe a escolha dos interlocutores devidos. Eu próprio só tomo a iniciativa de discutir os projectos que me interessam com quem me interessa. Jamais no entanto me furtarei ao diálogo ou ao confronto com quem a tal se disponha. Faço-o com artistas já reconhecidos de outras gerações, faço-o com com artistas de outras cidades pelo mundo fora (isto não é armanço cosmopolita; viajo porque me compete conhecer o melhor possível a arte que se faz, onde se faz e como se faz, dentro dos parâmetros do meu interesse e do projecto de museu que construo); porque é que tal não acontece aqui da mesma maneira?
6.Confesso que me preocupa a diferença entre o que se passa com a programação e a colecção do Museu de Serralves, e o que se passa fora do museu, no Porto. Sem falsas modéstias, têm sido produzidas e apresentadas no Museu exposições de muitos dos artistas mais relevantes do nosso tempo, incluindo muitos artistas portugueses que encontraram no Museu um espaço para apresentarem o seu trabalho dentro de um projecto internacional como até agora não acontecera em Portugal. Importantes obras de muitos destes artistas têm incorporado a nossa Colecção, várias discussões com artistas, assim como com críticos e pensadores vários têm sido organizadas. Não vejo no entanto uma consequência de nada disto nem na arte que encontro em muitas galerias de arte nem nos chamados espaços “alternativos”. Não enfio a carapuça de achar que tal se deve a um problema de projecto de Museu. Sempre considerei que um Museu como Serralves deve estar atento ao que se passa no contexto artístico da cidade em que se encontra sem ao mesmo tempo estar dependente nem ser representativo desse contexto por natureza ou definição. Preocupo-me em dinamizar a discussão do nosso projecto, das exposições que apresentamos. Sinto que, para isso, seria desejável encontrar uma comunidade mobilizada e interessada. E tenho a pretensão de pensar que tal seria positivo para essa comunidade, nomeadamente para todos os que se interessam ou dizem interessar-se pela criação artística contemporânea, ou não?
7.Tão pouco enfio a carapuça de ser acusado de pensar que possa ter a pretensão de que Serralves possa resolver todos os contextos de um contexto artístico. Há uma falta de estratégia para a cultura por parte do poder político e cultural em Portugal, seja ele nacional ou autárquico. Uma das suas faceta mais visíveis é a falta de apoio aos jovens criadores em todas as áreas culturais. Sempre defendi que deveriam existir no Porto e noutras cidades locais de programação onde linguagens artísticas possam ser apresentadas e testadas. Sempre defendi que deveriam haver programas de apoio a projectos específicos.Não creio que cumpra ao Museu de Serralves fazê-lo, só por esses locais ou esses programas não existirem. Não me defendo sequer de tal acusação, porque ela nunca me foi dirigida. Eu não sou o Inimigo, nem nenhum artista é um adversário. Enquanto cidadãos, cumpre-nos exigir ao poder político que cumpra as suas obrigações para com a cultura em Portugal. Posso no entanto alertar para o facto de os exemplos dos Estados-Providência como o holandês ou dinamarquês (os quais já eram, se bem que ainda sobrevivam alguns dos seus programas) poderem ser reconfortantes mas não produzirem necessariamente contextos artísticos particularmente interessantes.
8.Creio porém que podemos dar um contributo para tal ao estabelecer estratégias de articulação com outros espaços de arte que aparecem hoje em Portugal por iniciativa de várias autarquias. Em vez de os utilizar apenas para apresentar os pontos de vista sobre a arte que encontramos já no Museu porque não trabalhar com eles para que eles possam ser espaços de apresentação para artistas com obra iniciada mais recentemente? Porque não convidar jovens curadores a trabalharem com artistas mais jovens? Foi assim que aconteceu o projecto do Salão Olímpico em Guimarães e Coimbra como sabem. Não faço nenhum balanço negativo de tal evento, se bem que o considerasse descontextualizado se ele acontecesse em Serralves. Não estou com isto a estabelecer sequer hierarquias de valores de programas ou artistas. Estou a falar da necessidade de existirem projectos distintos com objectivos distintos para um contexto artístico português rico e diversificado.
9.Num país onde raras são as edições que assumam pontos de vista claros sobre a situação artística portuguesa, entendemos útil o convite a vários autores para editarem livros que são publicados no contexto de uma colaboração entre o Museu de Serralves e o Jornal Público. Entendemos ainda que poderíamos contribuir para a assumpção de uma diversidade de pontos de vista e não repetir o trabalho que fazemos já com os nossos catálogos, onde assumimos e trabalhamos as nossas escolhas. Defendemos a liberdade editorial dos autores que convidamos, se bem que as suas escolhas não nos comprometam em nada. Achamos até positivo que elas possam ser diferentes das nossas . Agradecemos a coragem que eles têm assumir tais escolhas. Tal acontece com o livro editado pelo Miguel von Hafe Pérez “Propostas da Arte Portuguesa. Posição: 2007”. O Miguel merece a minha gratidão pelos riscos que assumiu com a frontalidade das suas escolhas que são assinadas por ele e não por mim, mas cuja liberdade de opção defenderei sempre. O Miguel realizou um trabalho relevante que achamos que não nos compete a nós protagonizar, mas que achamos importante que se faça, conferindo-lhe os meios adequados para o realizar. Abrimos com isso uma discussão, que no entanto não está a ser centrada no que o livro propõe. Espero que ainda o possa ser, porquer acho que vale a pena.
10.Longe de mim está a ideia ridícula que possa lançar livros e exposições “para manter os artistas locais satisfeitos e disponíveis para aparecerem nas inaugurações de Serralves”. A cada um compete decidir se lhe apetece aparecer numa inauguração ou visitar uma exposição. Tudo procurarei fazer para que apareçam, acho importante que vejam e discutam as exposições, mais do que aparecer em inaugurações, mas estas são momentos de celebração da arte de artistas que vos poderá interessar conhecer, não é verdade?
11.Paternalista, eu? Perdoem-me mas nunca tive a tentação, nem jeito ou tendência para dar tau-tau aos meninos e às meninas para que encontrem o caminho certo. Sou a primeiro a acreditar que não há um caminho certo. Confesso que me incomodam projecções edipinanas na minha pessoa, o que até agora ainda não conhecera. Se tenho opinião, ela vale o que vale e serei o primeiro a considerar que não valerá tudo... Assumo os riscos e o desconforto de ter opiniões, mesmo que erradas. Assumi-las e confrontá-las não é nenhuma imposição. Às vezes acho que ainda não sabemos sequer discutir sofrivelmente o que nos interessa, apesar dos 33 anos de democracia... De algo podem estar certos: não tenho vocação para curador de uma geração, pastor de artistas, nem pretendo amestrar ou domesticar quem quer que seja, muito menos artistas de quem espero que me tirem o tapete debaixo dos pés, em vez de considerarem que o tiro eu a eles...
12.Razão tem o comentador que me critica por achar “estranho que se oponha vida e sobrevivência a problemas estéticos, conceptuais ou ideológicos”. Não me fiz entender bem: o que eu acho deveras estranho é que haja tantos artistas (não é só por cá, a chamada “arte de Bienais” está também repleta destes exemplos), que renunciem à especificidade de um discurso artístico que considero alternativo e desafiador de muitos outros discursos sociais, políticos, culturais, antropológicos, etc., para importarem versões pobres de tais discursos em termos de retórica de vida ou de sobrevivência legitimante das suas obras. O seu a seu dono: quem fala com precisão deste assunto é o Ulrich Loock.
13.O pior de tudo: ler que o “João Fernandes tinha razão no seu discurso tipo Maria Filomena Mónica”... Aaaaaaaaaarrrrghhhhh!!!! Esta deixa leva-me a questionar-me a sério...
14.As “bocas” foleiras não têm resposta, claro está. O meu trabalho é público e, como tal, sujeito a críticas justas ou injustas, certeiras ou desafinadas, venham elas de quem vierem. Quanto mais foleiras mais poderão envergonhar os seus autores. Ou não... Mas isso já não me diz respeito.

João Fernandes

Anonymous said...

Espero bem que sim, João Fernandes, porque não foi por acaso que fiz a comparação...

PS - Já agora, acho que comprendeu que eu não acho que fosse porque o discurso era "tipo Maria Filomena Mónica" que tinha razão... certamente que não é por aí!

Anonymous said...

Só mais uma coisinha, a eventual projecção edipiana que possa ser feita não é em si (a Isabel tem razão, o João gosta de carregar demasiado peso sobre os seus ombros) mas na instituição que representa, como todos os conflitos edipianos, só tem uma solução: ser liquidado!

Anonymous said...

JF:
a. A preocupação com esta actual “geração”, que receia que se torne ressentida, iria manifestar-se de alguma maneira se este assunto não tivesse sido puxado?

b. Ou, como disse “eu próprio só tomo a iniciativa de discutir os projectos que me interessam com quem me interessa”, será que por sua iniciativa nunca se falaria de arte e de artistas e de gerações, do Porto e Portugal, porque estes não lhe interessam?

c. Será que esta sua preocupação era um pressentimento que estes artistas se revoltassem (para variar)? Confesse que estes são mais durinhos de roer que os anteriores...

d. O que me parece é que fomos tirá-lo da torre de marfim...não achas?

e. Não importa se foi convidado ou se quis fazer uma apresentação pública espalhafatosa, o que me parece é que já temia que isto acontecesse, ouviu um barulhito e veio ver o que se passava. Concordo com o que já foi dito, veio aqui exercer poder e para isso precisava de audiência. Mas para quê? Porque nos quer impressiona? Para nos relembrar onde está e que posição ocupa? Para lavar a consciência? Para dizer que não precisa de nós? Que só de vez em quando se lembra que podemos ficar ressentidos? Ou isto há qualquer coisa na manga para descobrir? Adoro enigmas!

f. teria muitas mais perguntas para lhe fazer...passaria pelo Porto se tivesse oportunidade.
Até breve.

Ass. Um artista que ainda não tinha passado por aqui, mas que não resiste a reconciliações!

Anonymous said...

pareceu-me tão adequado! até na letra!

o vídeo e a música "losing my edge", dos LCD Soundsystem!

http://youtube.com/watch?v=OzuFeXYbOOo

Anonymous said...

Ler: "The conditions of sucess", de Alan Bowness, e já agora estudar um pouco sociologia da arte e comparar com sociologias de outras áreas profissionais para perceber que as constantes queixas são transversais a todos os outros sectores da sociedade. Chega de autismos!
E comissariar é tomar partido! É ter uma posição! Ficam sempre alguns de fora... E errado nisto tudo é a falta de rotatividade curatorial, a inexistência de diferentes discursos...
Provincianos são as teorias da conspiração, de achar que Lisboa é melhor ou poir que o Porto, que as coisas são pensadas nestes critérios... Estão tramados se tiverem que sair para fora do país...
Pobre é haver uma discussão destas com base em nada, em impressões apenas... fundamentos para quê? A classe média existe e revela-se nestes testemunhos, nestas verdades absolutas que partem de situações particulares para considerações gerais...
Trabalhem!!! Nada se faz sem trabalho! Nunca ouviram falar dos estágios não remunerados de anos seguidos para outras classes profissionais, advogados, arquitectos, jornalistas... sem falar em todos aqueles metidos atrás de uma caixa de supermercado, mas que não desistem de crescer...
PF

Anonymous said...
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joao said...

"Ninguém tenha grandes ilusões: não se sobrevive muito tempo nesse estado de graça e "reinventar" a postura alternativa exige um cada vez maior golpe de asa. Quem se achar à altura ou encontrar em si a bravura, by all means, boldness in the attack. "
Jack Lecrak

Aqui estamos para isso amigo.


"Olha quem ele é! Agora é que isto vai dar para o torto..."
Sim, sim... caríssimos amigos, sou mesmo eu... Qual João Fernandes? Qual Isabel Carvalho?! Agora sou eu. Para já odem arrefecer essa euforia e prestar atenção, se fizerem o favor, que eu quero falar.
Já há algum tempo que não dedicava tempo a textos, mas estas torrentes de comentários, são fenómenos raros e raramente me deixam indiferente. Esta então! É demasiado tentadora para deixar passar ao lado. Que grande público tenho... E como isto já está pela hora da morte aqui fica o meu contributo para acabar de vez com as participações, e para ao mesmo tempo propor um tempo indefinido de reflexão aos que me lêem. Para quem não me conhece, o meu nome é João Alves Marrucho, filho de José Albino Alves Marrucho e de Maria do Céu Antunes Martins, irmão de José Pedro Martins Marrucho. Sugiro um Google ao meu nome para saberem com quem se metem nestas andanças. Mas chega de introduções, e psst, tu lá atrás, se quiseres rir, conta aí a anedota para toda a gente se rir ou então sai da aula e deixa trabalhar quem sabe.

Então juntam-se à conversa sobre estas coisas e não avisam? Típico. No mínimo um e-mail pessoal! Antes o Zé Maia ainda me encaminhava, mas depois deixou-se disso, ele é contra a privatização da cultura e receia certamente que lhe apronte alguma em público. Já lhe tentei explicar que a cultura existe sem ser ordenada pelo estado, mas o homem teima em não aceitar o facto. Sem rancores. A sério! Fico mesmo contente por poder ler estas coisas aqui. Alguém comentou que a próxima geração de artistas portugueses se há-de insurgir contra a que por enquanto é documentada. Permitam-me então que a introduza, mas sem muito mais espectativas. Só o eterno presente o diz. Ante-ontem um dos poucos artistas que se prentende inserir de modo afirmativo nestas rambóias, durante um ensaio de campo para um filme sobre a minha pessoa, disse-me que andava a ler o blog errado. Só a muito custo lhe consegui sacar as indicações sobre como vir aqui parar. "-Faz uma pesquisa a Isabel Carvalho, logo em cima encontras. Agora não me lembro do nome do Blog, mas é dos primeiros." Num queria dizer o sacana. Típico. Agradeci. Ontem fiz noitada a ler atentamente todos os comentários e foi com base neles que redigi o meu.
Parece-me que a discussão, ao contrário do que foi escrito ali para trás, decorreu em tom mais do que aceitável. Por isso, pessoal, deixem-se piquinhices e admitam que a discussão vai num nível relativamente exigente.

Se bem me lembro a questão inicial era: O que significa ser um bom artista em Portugal? Significa no mínimo saber Inglês fluído, sem ironia. Verdade seja dita, nunca vi ninguém a queixar-se do Calgonit Power Ball com Protector Action e Protective Skin. Se é quadros e desenhos valiosos, implica-se... se é comunicação para massas, deixa-se andar. Isabel, para próxima quero isso em francês e com direito a uma Lap Dance. Ok? Dou-te dois euros e ficamos quites.

Apareceram algumas tentativas de resposta. Vou agarrar em algumas porque as julgo dignas de retorno e porque me permitem estabelecer um fio condutor ao meu discurso.
A Lígia disse:
"Não há meios termos, ou se resiste ou não - é a lei do mais forte, irónico darwinismo capitalista adaptado ao mundo das artes."
Apesar de realista, nesta afirmação admites com demasiada dificuldade a que me parece ser a solução mais viável para que possa continuar a existir espaço para as experiências artísticas nossas contemporâneas. A assunção do capitalismo liberal como amigo. Empresas de Arte. Estamos demasiado presos aos lugares comuns dos discursos sobre as "artes de ponta". Além destas descrições bem representativas, que tal pesarmos a sério sobre soluções igualmente integradas e realistas? Estamos num país paupérrimo e não nos podemos dar ao luxo de gastar muito com as mais finas artes.
"A diferença para outros países (...)é que tanto o Estado como os privados se encontram numa posição, e com mais vontade, de reconhecer e de apoiar os projectos culturais. Os apoios são em maior número e mais diversificados, em exposições, bolsas, residências artísticas, e um largo etecétera."
Quanto aos apoios privados, concordo que existam vontades e meios.
No entanto, neste tipo de discussões não podemos confundir vontade com poder económico assim com nunca podemos confundir cultura com Belas-Artes. Mas, Lígia, percebe-se onde queres chegar. O apoio às artes mais extravagantes na Europa, revela-nos facilidades para os artistas que lá trabalham, que também gostaríamos de ter.
Relativamente à acção do Estado: É óbvio que o Governo português tem que ter prioridades e, como é compreensível, a saúde, a educação, a acção social, as vias de transporte e comunicação de massas, podem ser consideradas mais importantes. Questões de sobrevivência... E se for necessário (espero sinceramente que nunca aconteça) cortar radicalmente todos os apoios aos museus e teatros para que quando estiveres doente e com fome possas ter um sítio decente, transporte ecológico gratuito, e uma estrada para lá chegar sem buracos, ao lugar onde te recompores. Ou tenhas internet gratuita em todo o lado, não preferirás abdicar das exposições e das peças de teatro financiadas pelo contribuinte? Afinal de contas, não são os impostos dos actores e utentes dos teatros (amigos dos actores e dos encenadores) que pagam as contas da luz do Teatro Carlos Alberto. São os dos nossos papás que nem 20 dias de férias têm para ver a 365 peças de teatro por ano. Os tempos mudaram e a cultura com eles. Acho que isto pode mesmo ser considerado um pensamento de direita pelas definições que por aí aparecem mas, caramba, é por direitos básicos. Ou é só impressão minha? Eu fui formado nas Belas-Artes e sei bem o que custa apresentar esta cara de aparente arrogância na recusa das ajudas. Assim, nos próximos tempos, o nosso papel poderá ser mais virado para a intervenção com fins lucrativos (sem esquecermos o bem que podemos trazer ao ambiente que nos envolve) do que para uma subsídio-dependência que garanta liberdade às nossas bizarras representações e apresentações escanifobéticas.

Para ver se estava a dizer algo com sentido acabei de colocar a seguinte questão a uma amiga com que estou agora: Se hoje vivêssemos numa ditadura cultural global e fosse exigida à população mundial um voto único e acerca da literatura (Letras a título de exemplo), em qual das seguintes opções votarias:
Fazemos desaparecer toda literatura que não seja manual escolar, manuais de instruções, ou textos sobre suporte digital, (entenda a erradicação completa de todos os livros que não sejam pedagógicos e a desactivação total da Internet)
Ou fazemos desaparecer todos os livros que sejam manuais escolares, manuais de instruções e a Internet?
A resposta dela é representativa do egoísmo que as classes instruídas tentam esconder, cada vez com mais dificuldade (porque o Saber ainda anda de mão dada com o Poder): "Obviamente que preferia que mantivessem o livros que não são manuais escolares, manuais de instruções ou que não estejam na internet!" Fiquei triste porque ela prefere ler o seu livrinho do Perec do que garantir que a aprendizagem da leitura seja feita mais facilmente. Artista de formação... Licenciada dentro em breve... Esse impedimento à livre reformulação cultural, é em meu ver tão mais perigoso do que qualquer ideia de direita referente à auto-sustentablidade das artes! Preferir os Snoopys aos blogues! Como pode ser tão óbvio?
Isso significaria um total atraso na evolução da nossa sociedade e não podemos ficar presos a modelos tão arcaicos.
Aproveito para afixar e tentar responder à pergunta da Aida: "Achas que os artistas querem mesmo trabalhar, ser “artista trabalhador”, a tempo inteiro?" Eu acho que não estão muito para aí virados, porque a educação artística portuguesa pós 25 de Abril armou-se de clichés de esquerda, fechou-se em copas e, então, não acreditam muito nessa solução. Pensa-se sempre que
é um esquema estranho que só para atingir riqueza pessoal velozmente. Já gozaram os gajos do Grande Prémio de Desenho "Crie a sua própria empresa", mas contas feitas, ninguém tem outra saída.

A solução Holandesa?
"...a Holanda tem um contexto artístico incrivelmente dinâmico, com espaços geridos por artistas, residências (estas de extrema importância para os contextos pois determinam um mobilidade e crescimento dos artistas) espaços intermédios financiados pelos municípios, ou fundos nacionais, fundações, instituições -- (não menciono galerias comerciais - sei - mas daí normalmente vem pouca inovação ou discussão para o discurso artístico - regra geral, não quer dizer que não haja excepções)..."
Eu também lá estive uns meses e achei tudo demasiado cor-de-rosa. E uma grande seca, mesmo. Voltei a Portugal porque ainda é bom poder evitar aquilo em que eles se tornaram, um país sem identidade alguma, com tudo organizado ao ponto de não precisarem de sair de casa para resolver os problemas com os amigos.
O exemplo MaqueDonaldizante, (eles próprios se figuram como campo de ensaio dos mercado americano) da Holanda apontou numa direcção que pode muito bem conter os princípios de algo positivo. No entanto falhou em muitos aspectos! A Neederladse Spoorwagen (CP lá do sítio), por exigência dum investimento público na arte, estampa réplicas de Mondriãs no interior das carruagens. Os problemas mantêm-se e muitos putos andam insatisfeitos por lá. Aqui Empresas de Arte precisam-se, dirigidas por artistas-comissários. Empresas de Arte precisam-se. Sem ironia alguma. Auto-suficiência precisa-se. Ainda exemplificando com a Holanda, é normal existirem, mesmo em pequenas cidades, "lojas" de aluguer de arte.

A questão das bolsas de investigação:
"Penso que o apoio às artes, ao trabalho criativo, estará mais perto de uma espécie de “bolsa de investigação”."
Olha que esta! agooraa!! Como pode ser considerado o processo artístico uma investigação, se raramente se propõe e, na maior parte dos casos, recusa mesmo chegar a alguma conclusão. E mesmo que o Estado caísse na nossa esparrela, como disse a Maria Assis: "Olhem o que está a acontecer aos nossos investigadores, a partir dos 38 aninhos estão fodidos, não há bolsas nem programas comunitários que lhes paguem o ordenado..c'est la vie, a sociedade tardo-capitalista é assim."
A meu ver, o significado, o papel e o resultado/obra do artista contemporâneo português não poderá contornar por muito mais tempo a profissionalização. Se queremos poder, temos que ter responsabilidade. A residência artística, por exemplo, será bem mais viável assim que os artistas percebam alguma coisa de economia, a partir do momento em que o artista contemporâneo português descubra que para sobreviver tem de produzir e viver dos rendimentos dessa produção. Se não encontrar modo inteligente e/ou belo de o fazer pode sempre dedicar-se aos galos de Barcelos coloridos com cores neon, e abrir uma loja de artesanato contemporâneo! Porque não? É relativamente seguro, garante algum retorno monetário, e fica bem em qualquer lado. No campo da música, funcionará às mil maravilhas, convidas um tipo de quem gostas do trabalho, dás-lhe guarida e um estúdio improvisado, e em troca, ele dá um concerto, fazem-se uns trocos e deixa-te um álbum para venderes.
A dura verdade é que grande parte das tipologias de arte está a ficar em desuso. O que aconteceu à Ópera, não tardará a acontecer ao Teatro, e mesmo às Artes Plásticas se nós não admitirmos trabalhar fora dos formatos antigos.
Concordo em parte com o que o João Fernandes disse aqui: "Há uma falta de estratégia para a cultura por parte do poder político e cultural em Portugal, seja ele nacional ou autárquico. Uma das suas faceta mais visíveis é a falta de apoio aos jovens criadores em todas as áreas culturais." Mas deixem-me esclarecer esta falácia com que que o Diretor de Cerralves nos pretendeu seduzir. Uma das facetas mais visíveis dessa estratégia são os crescentes cortes orçamentais à cultura erudita. Olhe, João, a importância dada aos projectos relacionados com as novas tecnologias de comunicação, subiu drasticamente, nos últimos anos. Têm feito algumas coisas despropositadas, como o TGV, que nos leva a Madrid por 20 ou 50 euros em quatro horas, quando hoje já conseguimos ir e voltar de avião em pouco mais que uma hora, por 25 euros (low cost). Já agora, tenho quase a certeza que a Mafalda deve ler isto: Porque é que não dizes ao Ministro das Finanças para falar com o da Educação para inserir a disciplina de Introdução à Economia no último ano todos os cursos secundários, Artes, Ciências, Humanidades, Informática... Salazar, o grande economista, pior, o grande protuguês guardou as contas para ele, e 35 anos depois ainda saímos da escola sem saber o que é o IRC, ou como preencher um recibo verde! Sem ofensa alguma pessoal mas, caros amigos, é nesta a classe artística em que vivemos, dominante, mas sem acção que vá para além da Arte enquanto disciplina encerrada nas suas próprias possibilidades.

Sobre isto:
"O que vos preocupa não é tanto a visibilidade, mas antes o reconhecimento e a consagração. Ora perdoem-me que vos diga que considero que estas três questões deverão surgir como consequência natural da especificidade de uma obra, ou então de muito pouco vos servirão."
Caríssimo, desconhece o meu trabalho. Não o censuro, porque como vocemessê há muitos. Mas "is it so wrong to crave recognition"? Eu ando a exigir isso aos meus amigos e às pessoas próximas que usam o meu trabalho. Tem que ver com transparência. Ao contrário do que me parece ser a postura de muito boa gente, não lho peço a si, porque sei, não tem essa competência, e muito menos me parece apresentar a solução. "A cultura gerada em pequenos círculos sociais (marginalizados e punidos por essa expressão cultural) acaba por nos ser servida para consumo." E eu já estou farto dessa treta. Peço antecipação para que a sirvamos nós próprios. Ou pensa que quero uma canequinha ilustrada com as minhas engenhocas vendida por aí (post-imigração ou mesmo pós mortum). Congratulo-o por toda a atenção que tem dedicado à malta. Se calhar até é suficiente para o que gente quer. Uma salinha no Museu? Ou um pic-nic nos jardins da Fundação?
E já agora, não lhe posso deixar passar o seguinte comentário sem um reparo pessoal:
"fórmulas tão estafadas como o fanzine, a ilustração de vaga referência “underground”, a ironia grosseira sobre a arte, a performance que não adianta um chavelho a uma história da performance rica em situações de provocação sexual, política e estérica que as vossas parecem apenas caricaturar."
Não pense que os fazedores de fanzines estão preocupados com a brava história da perfomance rica em provocações sexuais, políticas e estéreis! A cena é que a fanzine é um formato barato! De execução rápida e para esta gente que nós hoje somos, escrever, fixar, publicar em suporte físico ainda é muito importante, como certamente o é para si. São os processos de auto-legitimação a que até as instituições como os museus recorrem. Ou não tivesse Cerralves metida na agenda editorial, aliás, na prateleira, de tudo quanto é ministro e figura pública.

"No entanto, as águas não deixam de estar turvas: perdoem-me que vos diga desde já, caros(as) artistas"
Pois sim. Pois sim. Mas cada vez menos.

"Com a experiência que tenho de situações semelhantes, asseguro-lhe que este meio não é o melhor para se manter uma discussão com interesse e relevância."
Isabel Carvalho
Pshht. Quieta aí senhora. Deixa aqui estar isto que está muito bem! E já agora o que é esta coisa?
"Tenho quase a certeza que estamos de acordo que mais espaços de exposição, diversos, com estruturas organizativas semelhantes às galerias culturais, aos Museus, aos Centros Culturais, aos espaços geridos por artistas, ou com novas estruturas, talvez concebidas por nós, seriam muito importantes para todos."
Parece interessante mas explica melhor por favor.


Algumas citações mais ou menos pertinentes e devidos comentários:

"Porque desvaloriza joão fernandes os "artistas locais" ao mesmo tempo (literalmente) que lança um livro (posição: 2007) com o selo de serralves sobre os mesmos?"
Lord Shaftesbury
O desvalorizar num sei se concordo, mas o livro será porque hoje a história se escreve em tempo real e é preciso documentar.

"...não me parece que um artista "alternativo" possa, por este título apenas, posicionar-se num jogo da glória moral. A contribuição que faz é de sua exclusiva responsabilidade e estará sujeita ao escrutínio do tempo como qualquer outra - em retrospectiva, apresentar-se-á em igualdade de circunstâncias com os "consagrados". Talvez seja ingénuo pensar assim..."
Jack Lecrak
Pois é ingénuo, sim senhor. E de novo repito, a história hoje escreve-se em tempo real, e se nós já pouco escrevemos sobre os consagrados, quem nos virá escrever?

"A liberdade que os espaços alternativos no Porto nos deram é preciosa e única.
Julgo que se está a marcar uma diferença significativa relativamente ao resto do país e da Europa."
Anonymous

"como em tudo na vida... há os que esperam por boleia e os que se fazem ao caminho. A nenhum destes agrada a opção do outro, mas isto só se torna um problema quando não há mundo suficiente para todos. How often do you want your fifteen minutes?"
Anonymous

"k 15 minutos?! aki ninguem ker 15 minutos? aqui so se ker melhorar as coisas e isso implica dizer, eu tou aki, eu existo, e logo torna-se necessario o uso da palavra visibilidade. akela k fica à espera no seu buraco caladinho bem k apodrecer so k nem um cão. nem fora sabeis ser!"
Mauro
Mauro! A metáfora é boa e didáctica. Num futuro muito próximo, toda gente pedirá 15 minutos de anonimato!

"Estamos na periferia da periferia, e temos consciência da nossa posição, no entanto não foi por isso que se deixou de fazer mais e de tentar o melhor. Provavelmente surgiu o momento de dizer que estamos atentos."
Isabel Carvalho
Mais que isso, chegou o momento de agirmos resposavelmente. Aperiferia está na moda, aproveita.

"vejo pouco discutir-se o papel e o lugar da arte, de uma forma pragmática. Não estou a falar de discursos estéreis sobre "o que é a arte?", mas sim do papel de uma arte comprometida e, principalmente, da sua eficácia. Porque a mim, sinceramente, é o que me preocupa."
Catarina
Finalmente a melhor arte está a passar a assumir o seu papel comunicativo e transparecer os seus processos. O ghetto ganha com isso.

Assim findo,
Parabéns a todos os que participaram nesta discussão.
Com os melhores cumprimentos,
João Alves Marrucho

Anonymous said...

...ainda estás na dança dos 2 euros?
Bolas, não sabes aceitar um elogio!

ps: SSSSSerralves!

Isabel Carvalho

Anonymous said...

João, dá-lhe na outra mão! O autoprazer sem limites!

Aplaudo tod@s @s generos@s que dão a cara, usam a mão, tentam pensar por si próprios e ainda acreditam em alguma coisa!

Anonymous said...

Clap, clap, clap...
Muito bem João Marrucho!
Linguagem "bloguista", despretensioso, claro e eficaz...
Adorei a lap dance.
Cumprimentos
Uma artista que leu os posts e se divertiu imenso.

joka said...

hum...120 comments já diz quase tudo!
Uma frase apenas e uma reacção em cadeia, mostra mais a situação intrínseca a arte do que propriamente aos artistas(embora ela seja feita por simbiose). Arte que é uma "massa" que não deixa de fazer parte de uma sociedade global/local, de um contexto com que presentemente nos deparamos e que, se faz de acumulamentos de problemas, sendo no extremismo direccionada a nossa posição para a condição resolução/tentativa de solução - é positivo e faz parte da arte, de se ser humano e também artista...

Já apartida, não sou detentor da verdade, a não ser da minha e, mesmo assim, sempre posta em causa - faz parte do processo de evolução, conflito e consequente resolução...normal.

Em alguns comments, não sei bem quais as intenções ou objectivos por detrás mas, se não sei bem, é porque também não faz parte do meu universo de estar e de pensar.

Não sei se sou artista, ou se serei alguma vez, posso sempre ser outra coisa...porque não? a nossa missão somos nós que a definimos.

Não leio muito sobre arte, mas também será isso que nos torna menos qualquer coisa? se é que sei o que é essa coisa! Todos nós pensamos, reflectimos e temos opinião a dar...seja de culinária ou de arte!

A arte é importante?

Ao que respondo: claro que sim!
Toda a sociedade precisa de tudo um pouco para se considerar como tal, diferindo os pontos de visto sobre o que é arte ou não, o que é cultura, como ela é pensada...etc.

Soube do blogue e desta situação em "excesso"; vim tentar perceber o que se passava. Interessa-me, mais do que a arte...a cultura! Como também não tenciono sobreviver de formas artísticas, digo as coisas sem qualquer pudor. Aqui está um dos pontos fulcrais, não depender económicamente da arte para poder ter liberdade de a pensar.

Não sei bem o que é a arte, mas ela também não se define propriamente...o que, parecendo paradoxal, faz parte da arte e daquilo que ela significa, ou seja, interrogar-se constantemente, pôr-se em causa, redefinir-se.

Todos estes comments mostram alguma coisa: meramente vivacidade e que a arte não morreu. Ela está a redefinir-se simplesmente.

A minha consciente distância relativamente a arte permite-me, eventualmente, pensa-la de uma forma mais fria, na tentativa de alcançar a objectividade da sua natureza(mesmo que dentro de várias subjectividades).

Todos os que participaram neste blogue, mal ou bem, estão de parabéns! Estão em diálogo e, contra-diálogo por vezes, mas, está
acontecer, isso é o que mais importa. Faz-me renascer a história da arte, aqueles diálogos acesos dos modernistas...hehe. Mesmo a data começa a não diferir muito...embora no século XXI.

Não sei dizer muito mais!

Anonymous said...

joão da concorrência, há muito que não via alguém usar tantas palavras para dizer tão pouco. supreendeu mesmo. realmente há por aí muita gente que não tem noção do quanto tinha que crescer para merecer a consideração que tem por si próprio. o seu caso já não é de falta de humildade, mas de noção do ridículo. veja o lado positivo - esse deslumbramento adolescente tardio com a sua pessoa e a sua fraca produção vai garantir-lhe muita felicidade ao longo da vida, e muitos momentos bem-humorados ao público que procura. pela minha parte agradeço e cedo-lhe de bom grado o lugar no reino dos céus, amén.

joao said...

Pois, está mal... Vocemessê fala pouco sobre o que interessa e diz demasiado sobre mim... e sobre si, incauto, no seu anonimato. O senhor é homem, tem entre 34 a 45 anos, profissão estável, está provavelmente comprometido com o assunto de que falamos por qualquer postura que já tenha assumido, tem o gosto perro e falta de vontade para entender que aquilo que digo não tem só que ver com auto-comiseração. :(
Já agora gostava de saber o que tem a dizer sobre "o que significa ser artista em Portugal".
Sem mais demoras,
JAM

Art&Tal said...

ai que eu nao acredito

vou ler isto de fio a pavio

que gente querida

os anonimos é que estragam

podiam falar a descoberto

sem rede

receios e penitencias

cf