Sunday, June 01, 2008


Querido Peter Pan,
Sobre o assunto que falamos ontem ao telefone, eu sugeria que escrevesses um texto ou fizesses uma colagem, abrisses um espaço ou escrevesses uma música, organizasses um festival ou concebesses um manifesto. Faz independentemente de o saberes fazer: a qualidade não é prioritária. Não precisas de ser muito talentoso, precisas só de acreditar na importância do que fazes. Fora da escola é necessário que esqueças praticamente todos os limites que te impuseram. Esquece o pior da educação que tiveste, procura as tuas referências pessoais e culturais – vais reparar que o mundo é maior do que tu pensavas. Aluga um quarto ou um atelier onde possas dormir e colocar as tuas coisas. Precisas de uma grande cama, pois se acaso tens pouco espaço, sempre podes usá-la como estirador. Decora o teu quarto de forma a que fique carregado de tralha informativa. Ou então, não, deixa as paredes brancas e o espaço neutro para que penses melhor e não te distraias. Alimenta-te o suficiente e bebe o suficiente. Tenta consumir o menos possível e poupa o “papel”, terás gastos certos aos quais não podes fugir. Para te alimentares procura quintais - os canteiros camarários podem ser cultivados se ninguém se der conta. Os teus rendimentos deverão ser canalizados para o que te realmente essencial: produzir e conhecer. Se tiveres que roubar, lembra-te que podes ser roubado de seguida – se isso não te preocupar fá-lo descaradamente. Uma conduta ecológica, mais ou menos esclarecida (super-esclarecida pode levar-te a uma militância excessiva), ajudar-te-á a sentires-te melhor. Nem aqui deves ceder a ideias impostas, deves seguir o que achas que é correcto, se o fizeres estarás bem contigo e com o resto do mundo. A roupa que vestes deve ser rigorosamente escolhida – o conflito visual pode trazer sérios inconvenientes e distrair a atenção do que és. Um estilo sóbrio pode ser mais eficaz que a provocação flácida do feio e do descontraído e o aproveitamento de um estilo já conhecido e batido mais apropriado que honesto pode ter conotações que não te interessem - se apertares o ultimo botão da camisa branca ficas com melhor aspecto. Sai sozinho sabendo que terás sempre companhia – não há ninguém de menor importância, terás sempre algo a dar e a receber. Cuida dos teus amigos e coloca-os como prioridade, sabendo que estarás melhor com eles quanto melhor estiveres contigo. Com os teus amigos deves partilhar ideias e interesses – não te assustes, a discussão e o confronto são momentos essenciais. A partilha é a sustentação do que fazes. Quantos mais amigos envolveres, maior é a recompensa, porque acima de tudo esta é afectiva. Se os teus amigos forem desconhecidos simpatizantes do que fazes, estás no caminho certo e deves-te orientar por aí. Oferece com regularidade prendas a quem gostas – se te sentes satisfeito com o que fazes e se é verdadeiro essa é a maior prenda que podes dar. Se num momento de euforia te apetecer, oferece tudo o que tens e começa do zero. Não vale a pena ficares com tudo para ti – para quê? Fundamenta-te através de ideias claras e bem organizadas – a falta de argumentos torna-te mais um, com relevância menor. Sente paixão por tudo o que te interesse e defende as tuas paixões com veemência. Se te disserem que vives acelerado, se assim for, acredita que é um elogio – já poucos o fazem. Se por acaso pensares no dia a seguir, nas compensações de tudo o que és e fazes, pensa a curto prazo ou seja nos dois dias que se seguem. A antecipação do futuro poderá tornar-se num bloqueio. Aspira pouco e respira muito. Quando fizeres algo realmente relevante nem vais dar conta - porque será sincero e verdadeiro e acontecerá no momento em que estiveres totalmente sozinho, sem nada a ganhar ou a perder. Talvez seja o tempo que te vai dizer o que valeu a pena. Se por acaso, descobrires que és uma rapariga, concentra-te.

4 comments:

ariana said...

o peter pan não existe.. mas existindo não precisava ser ensinado

Anonymous said...

Isabel. O texto é teu? brutal. Posso utiliza-lo no meu blog das fotos? com a indicação de autoria e origem, claro. Gonçalo

isabel carvalho said...

sim, sim sim!

Anonymous said...

Yo soy Peter Punk, y si que existo ¿Que pasa?
k