Thursday, September 24, 2009


Tirei um ano para passar mais tempo com a família. A seguir precisei de mais um ano para estar comigo e com a família. Mais outros serão necessários para resolver tantas questões que nos últimos anos têm estado presentes, mas que eu não consigo resolver. Gostaria muito de evitar responder que estou numa fase de auto-conhecimento, mas posso pelo menos afirmar que estou numa fase de conhecimento. Sem dúvida que é o tempo que faz falta. E honestamente não quero perder mais tempo em vão. Dar aulas é valioso, é uma experiência singular para todos os que se dão aos alunos, mas é também uma tarefa ingrata quando nos damos conta que nos diluímos ano a ano. E muito pior quando sentimos que podíamos fazer um trabalho melhor do que fazemos se tivéssemos um horário menos sobrecarregado. É a responsabilidade de formar, sem formatar. Criar cérebros pensantes, em vez de reprodutores. É preciso e necessário. Tenho-me cruzado com quem acha e é da opinião que é uma asneira pôr em causa a estabilidade financeira, os pequenos confortos, a certeza de um futuro. Pois foi a pensar no futuro, foi a ponderar nos meus desejos, para mim e para os outros e em aspectos realmente importantes que eu tomei a decisão. Não fui sequer corajosa, bastou-me colocar em cima da mesa alguns momentos dos últimos anos para me aperceber que não havia alternativa. Encaro o que vem com expectativa porque realmente não sei o que vou encontrar por aí – o desconhecido é isso, uma aventura imperdível para o melhor e para o pior. Parto com a certeza que todos os caminhos são possíveis, mesmo os do retorno ao início – com mais experiência, com outra convicção, talvez. No ano que passou surgiu a exposição dos "Emissores Reunidos". Tinha que ponderar se o que queria fazer e dizer era possível a partir do lugar em que me encontrava – há cerca de dois anos não entro no Museu por divergência com o Director, sou a única artista que publicamente o enfrenta. O convite foi entendido por alguns como um aproveitamento do Museu, que assim neutralizava a artista, por outros como um aproveitamento meu (da artista) uma vez que estava a ser recompensada por todo o esforço “por lá entrar”. Para além destas, ainda surgiram algumas ideias sobre o convite mais originais, que constam por aí – uma delas, foi contada pelo próprio Director que me confessou que lhe disseram “como foi possível convidá-la se ela nem entra aqui!”. De facto. Não entrei. E agradeço que nunca me tenham dissuadido de o fazer. Embora nunca me tenha ocorrido ter algum problema com quem trabalha no Museu, ficou apenas claro, nesta experiencia, o seu elevado grau de profissionalismo. A questão tornou-se, para mim, apenas esta: posso fazer e dizer o que quero neste outro lugar que vou ocupar, neste espaço cedido ao Museu? Posso seguir criticando-o e exigindo o que considero serem reivindicações justas para os artistas? Ficou provado que sim. Sem cedências. O trabalho, a meu ver melhor conseguido, foi o bar. Aí consegui construir um espaço amplo para que se pudesse reflectir sobre a produção cultural – aqui e agora, porque não estou noutro sítio nem em outro tempo. O bar foi também o trabalho mais intelectualizado a vários, vários níveis que promoviam esses mesmos múltiplos níveis de leitura e atenção. O restante trabalho é de outra ordem, talvez, menos explicável, com menor projecção exterior – são de facto íntimos. Os vídeos reflectem um ano de confronto com o tempo, com a reflexão ponderada sobre aspectos da minha vida pessoal e social. Desmontada a exposição – o bar inactivo ficará permanente – deparo-me com tempo. Tempo livre para várias coisas, entre elas, ser atacada por uma hiper-sensibilidade, quase irritante, a tudo a que tenho acesso (acentuado pela constipação que me bloqueou os movimentos). E de repente deparo-me com um aspecto que até há bem pouco tempo apenas ao de leve me bloqueava – a vida no Porto é asfixiante. O que sobressai numa das primeiras saídas à rua, após sinais de melhoria, é que o Museu é quase um mal menor neste panorama – apesar de que em breve não precisará muito de empurrões, arrasta-se para as ruínas a olhos vistos, pelos seus próprios meios. Não é de hoje a não existência de distinção entre estratégias de disposição, promoção, aparato, entre o Museu e a Arte que se mostra cá fora, mas neste momento, carecem as duas de qualquer coisa ainda mais grave – diversidade. A falta de diversidade a mim, asfixia-me. A acrescentar a isto, a falta de crítica, de forças activas que irrompam neste contexto. Neste aspecto sinto que nos escapam da memória os anos de 1990, da arte política, do feminismo em força, da pretensão à ruptura. Actualmente há uma espécie de censura, mais que uma falta de crença nesta pluralidade de discursos, que me parece a mortal para um panorama com algum interesse.

1 comment:

Li said...

xiiiiiiiiiiiii