Sunday, September 16, 2007

SMELLS LIKE TEEN SPIRIT


A pedido do Mauro escrevi este texto para a sua exposição "menos que zero" que inagura sexta em Guimarães na Galeria Gomes Alves. Espero que desgostem!
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SMELLS LIKE TEEN SPIRIT
Parte I




A adolescência é bem ou mal passada como os bifes!

É aquela fase em que nos confrontamos com a vida como ela é e em que defendemos com unhas e dentes as nossas ilusões! Damos conta que não é nada como nos livros e filmes, não é como nos contaram, não é como esperamos e como ouvimos –na altura todos nós da zona ouvíamos uma rádio pirata, à mesma hora no Domingo, uma espécie de seita a ser alimentada pela voz do locutor e era isto que mantinha o gang organizado.

A melhor maneira é escapar a essa vida que os pais nos desenharam à luz dos medos antigos – preconceito, superstição, medo irracional do futuro e temor ao Clero, no nosso caso que nascemos muito perto da Revolução.

A família terá as suas razões para nos forçar a tantas obrigações e a nos impor as suas expectativas – “que tenhas pelo menos uma vida melhor que a minha!” – e esquecem-se que nós somos outra pessoa, nova, sujeita a muitas fatalidades nas quais se inclui a imperfeição.

A questão, a dada altura, coloca-se da seguinte maneira, “E se eu não acordar?”; “E se eu não me levantar e esquecer-me por aqui...”; “E se eu não comer?”; “E se eu nunca me deitar!...”. Testam-se os limites do “tem que ser”. E o jogo é vicioso, cada dia mais uma vontade satisfeita, ou sempre a mesma, a de contrariar o destino - que se desconhece mas que pelo que se adivinha virá a ser bastante desagradável! – contaram-me que um miúdo da minha idade não queria dormir porque dizia que nesse momento não estava a viver, arranjou três empregos e às tantas da manhã caia de sono!

O conjunto de atitudes irreverentes, que começaram por ser acanhadas e com um carácter muito experimental, formam um domínio no qual o adolescente legisla opondo-se a todos os outros domínios que lhe podem fazer qualquer tipo de resistência – depois da família e a par dela, a escola, mais tarde talvez, as autoridades se o salto for maior que as pernas. Os pequenos furtos eram o passatempo, mas não sei porquê, mas davam azar, a seguir perdia sempre qualquer coisa...

Este domínio pessoal (muito particular) encontra domínios parceiros que formam no todo um reino, o da desobediência.

Aqui replica-se o que se sonhou e faz-se por acreditar que isto também é real, que também é uma possibilidade - “que importa o que se passa lá fora, fecha a porta, fecha as janelas!”, era isto e os almoços e dar cabeçadas nos pratos, ardiam os olhos e lembrava-me de pouco da noite anterior.

Para quem chega de fora a este reino as cores são negras e tal como numa sala de ensaios, o espaço está um desalinho, está nevoeiro de fumo e tem um cheiro estranho, para quem está dentro as cores são agradáveis e tudo está em plena ordem – “estamos tranquilos”, eu acreditava que estávamos ali fechados numa cave onde ninguém com menos de 17 entrava.

O que distingue as duas perspectivas é a perseverança e teimosia que é possível manter um sonho acordado. Recorre-se ao álcool, drogas, tatuagens, piercings, bulhas com e sem pretexto a cada esquina, a privações de sono e alimento, à velocidade do carro ou da mota, cabelos compridos, cabelos pintados, indumentária tipo Halloween, a pequenas armas, etc – perdi a conta dos furos que tinha na orelha, alguns foi na máquina e outros com a agulha e gelo!

Ao contrário do que se pensa, que “são todos uns tontos”, que não se faz nada, que andam na malandrice, esta é a fase de maior produtividade (não no sentido em que se entende geralmente “socialmente produtivo”), o imaginário nunca foi tão abundantemente criador e jamais se acreditará tanto nas capacidade de ser o que se deseja – “tenho uma banda, não sei inglês, mas sou o maior!”, alguém dizia.


Parte II

Pode não ser bem assim – mas eu não sei explicar-te de outra maneira. Retomando o fio à meada, à adolescência chamam-lhe um “paraíso perdido” ao qual ficamos ancorados uma vida inteira. Pessoalmente acredito nisso.

A descoberta do sexo, do próprio e do dos outros, a transgressão de tudo o que nos diziam sobre este assunto (ou que não diziam, qual das hipóteses será a pior?), é talvez dos aspectos mais fortes da adolescência e o motivo mais sincero para a revisitar ou para mantê-la artificialmente. Nunca o sexo foi tão puro, perigoso e mau – debaixo dos lençóis dava-me uma comichão e uma vontade, ui! Vivia também obcecado com seios gigantes!

Neste reino a liberdade foi conquistada, a bandeira ficou à entrada (talvez os boxers de alguém que já não vai a casa há meses), os seus limites dependem da abertura das portas ao exterior e de este ganhar lugar.

Anos passados, o melhor e o mais produtivo regresso é voltar às coisas simples (da tinta-da-china aos lápis de cor e ao papel de máquina), à rotina (talvez com menos paciência e com maior cansaço) de sair com os amigos sem rumo pelas ruas do costume - e porque não, procurar os meus pares, esses outros colegas de carteira que como eu escreveram em mesas e que foram mandados para fora da sala umas quantas vezes. Esses em quem me encontro nas suas obras, que insistem em escrever, desenhar, pintar, tocar com as suas bandas, actuar, como se o tempo não passasse.

2 comments:

mauro said...

“E se eu não acordar?”; “E se eu não me levantar e esquecer-me por aqui...”

eu ainda tento nao acordar

o single "SMELLS LIKE TEEN SPIRIT" foi o meu primeiro cd! e eu nao te tinha dito nada!

obrigado isabel. é tudo isto.
obrigado tb por partilhares este sono.

mauro said...

sabes k tinha umas nike nirvana?!
estavam todas kitadas!
na parte da frente tinha escrito "nirvana" em grande! dps tinha escrito mais cenas da banda pelo resto da sapatinha! tenho mt pena de ja nao ter essas sapatinhas.