Wednesday, July 02, 2008


1. Localizar uma comunidade ou “cena” artística não é o mesmo que dizer que essa comunidade artística é “local” no sentido em que é muitas vezes associado o termo – conjunto de autodidactas que trabalham para caracterizar, através de produções artísticas em diferentes campos, ou tornar característico, pelo pitoresco, o sítio onde vivem e trabalham.

A comunidade à qual me referirei e à qual pertenço, distingue-se do ser “local”, por não o querer ser determinantemente e também porque lhe é impossível. Pelo amplo conhecimento que adquirem os seus elementos mais activos, através das diferentes instituições por onde se movimentam, da formação escolar aos museus e galerias que frequentam e com os quais se relacionam, a facilidade com que saem do local para outros lados, o acesso à informação escrita e à troca de impressões com artistas, curadores, críticos e outros, constitui-se uma visão mais alargada do meio artístico que extravasa os limites objectivamente geográficos e os meandros locais.

No entanto, parece-me fundamental localizar a experiência artística genérica, aglomerado de experiências de diferentes proporções e consequências, da comunidade, que ocorrem num dado sítio. Ignorar a localização ou não querer localizar-se é o mesmo que não estar aqui no pior sentido. É fazer de conta que isto não nos serve e que existe um sítio melhor, algures entre a realidade e a imaginação e cobiçar um sítio ideal desconhecido. Não nos livramos de nos projectarmos sempre mais além (aliás, é desejável que assim seja, sem dúvida), mas não será inconsequente viver nesta ausência de sítio? Da percepção do “aqui” como uma abstracção não resultará numa falta de postura crítica sobre os condicionalismos nos mais diversos cambiantes, sociológicos, políticos, culturais? Não nos levará à ignorância, inocentemente ou por conveniência emocional, à falta de participação na construção de um sítio?

O resultado provável é precisamente tornar o “aqui” pior e é alimentar a ideia que nunca será melhor (provavelmente, também nunca piorará excepto se a falta de localização for generalizada) e isto remete-nos para a definição de provincianismo, sem margem para muitas discórdias sobre a aplicação do termo. Tornamo-nos provincianos se a admiração pela imagem exterior nos levar à obediência cega a essa mesma imagem (e ao que nos chega dela), através do mimetismo por exemplo, da aceitação dos laivos de civilização que nos aparecem, sem participarmos “aqui” e sem a força de participarmos em sítio algum, com efeito e consequência. A admiração aparvalhada induz numa falsa pertença, com a qual se pode conviver durante muito tempo, o que poderá ter efeitos desastrosos, para o indivíduo, como para a comunidade em que se insere – porque não cresce nem se produz nada de próprio.

A quase inexistência de instituições mediadoras e de agentes promotores, legitimadores também, do valor da comunidade e das suas produções que se interessem pela promoção e difusão das obras, condiciona o acesso a um público mais alargado. Se por um lado e até há pouco tempo, isto se devia à escolha e decisão dos próprios elementos da comunidade, que conscientemente se excluíam das instituições e do que uma possível inclusão significaria, recentes acontecimentos vêm demonstrar que são as instituições locais, em nome dos seus representantes, que se abstêm de ter qualquer tipo de relação com a comunidade – exceptuando as oportunidades, definidas estrategicamente, de demonstrar precisamente o contrário. Aliás é destes a primeira, mas não a única, responsabilidade, da não-localização e das consequências deste posicionamento – que é o mesmo que dizer pouca ou nenhum diferença faz estar “aqui” ou acolá.

Se a comunidade enquanto alternativa, se afirma na convicção que é alternativa ao criticável sistema artístico, com o qual não convive bem, a consequência mais flagrante é a perda de público – como também de realidade. A falta de plataformas de difusão eficazes que estabeleçam a ponte entre produção e fruição, que promovam e assegurem a qualidade relativa das obras, incapacita a inclusão de novos públicos sendo o único público, o público directamente interessado, ou seja, os artistas que pertencem à mesma comunidade ou com a qual têm graus de “parentesco”.

2. Ora, a questão do público e a sua caracterização genérica, coloca-se aqui como posição fundamental a explorar para localizar o fenómeno: o artista é o público, aqui e em sítios com características semelhantes.

(excerto do texto para a revista voca* -- faltam 3 paragrafos e mais umas notas, sexta feira sai o resto)
* Comprem a revista que tem óptimo aspecto!

5 comments:

Anonymous said...

comprar; onde?

isabel carvalho said...

Sexta feira no passos manuel no lançamento e depois não sei!

Posso perguntar às editoras e postar mais tarde.

Anonymous said...

eu já vi o pessoal dessa foto!! são os que estiveram no palácio de cristal a fazer um pick-nick no ano passado! AH!

VOCA said...

A Revista Voca está à venda na Matéria Prima - Rua Miguel Bombarda e na Faculdade de Belas Artes do Porto. Brevemente divulgaremos outros pontos de venda.

VOCA said...

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www.revistavoca.blogspot.com