Thursday, August 20, 2009

Antes de viajar, um dia terrível tem a ver com uma loja de cópias.
Desde as dez da manhã, na mesma zona da cidade, estive à espera que fossem digitalizadas umas imagens a preto e branco. Por duas vezes cheguei a casa com digitalizações de péssima qualidade (100 dpi? / bitmap?).

Entretanto comprei um livro: Ana haterl-ey com os guiões do programa de tv.
Depois comprei outro: de um místico e como tal não digo o nome.
Depois ponderei o segundo da Ana haterl-ey, os relatos dos sonhos, mas já o tinha na edição antiga.

Sentei-me num café e assisti a um roubo com o troco – aliás é simples, lembrar-me-ei como se faz em caso de excepção: basta uma nota de cinco euros e consumir um café num Café, voltar duas horas mais tarde e dizer “peço desculpa, enganou-se, deu-me troco de cinco euros”, de cada vez ganha-se 9.40.

Depois ouvi da rua: “lava-me o corpo”. (Nunca mais me esquecerei)

No livro da Ana haterl-ey li um depoimento do Ernesto de S que me lembrou da colecção de cartazes que vai ver agora a luz do dia.

O Mário entretanto ligou-me da estação de camionetas quando eu estava a folhear a Bravo e lembrei-me do post dele (importante ler, embora pareça mais brando que o normal) e voltei ao Ernesto de S e à Ana haterl-ey.

Depois na rua da loja de cópias há lojas de roupa, assim da Bravo cheguei à moda. O que é a moda? Porque é que a roupa comunica? Porque é que eu comunico mesmo quando não quero? Porque é que não posso, pelo menos na roupa, desfazer-me de ser interpretada?

Para que serve a roupa senão para nos abrigar e os sapatos para proteger? Então, mais uma vez, para que serve a moda?

O Mário simplifica e torna simpática esta ideia de que vivemos um tempo determinado por aquilo que é. Neste futuro revivemos o passado, o que quer dizer que o passado já era este futuro.

E assim, voltando à loja de cópias, e mesmo que pareça injusto, tenho a certeza que pelas três vezes que tive que lá voltar foi porque pensaram que as folhas que levei eram lixo. Colagens já com pixeis, sem um contorno definido, sem cor e com peças a soltarem-se. E a acrescentar ao que as folhas comunicaram, a minha camisola com pelos de gato branco, sapatos estropiados pelo calor e saca de plástico deve ter igualmente lhes dito qualquer coisa. – A Patrícia Highsmith não conseguia empregos em revistas (escrevia argumentos para super-herois de banda desenhada durante muito tempo) porque as camisas não estavam passadas a ferro.

E depois, de um dia de dúvidas, chego a casa cheia de vontade de parar de pensar na moda (devo dar muita importância, desde quando não sei) e reflicto nas actividades domésticas e lembro-me sempre da Marta e da Maria, irmãs de Lázaro. Às custas da educação, a segunda educação pós-universitária impõe-me que anule, que me esqueça que algum dia ouvi falar destas figuras. Não se fala. Mas elas estão lá e são tão mentira quanto toda a literatura e é por isso que não vou deixá-las de parte. A Marta e a Maria representam a vida activa e a vida contemplativa.

Este post é dedicado ao Mário.
Tal como prometi antes de ir de férias.

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