Wednesday, December 31, 2008




O primeiro livro com volume foi um sério investimento pessoal onde se sujaram e romperam as unhas.
Gostaria de fazer um manual de fazer livros onde podia explicar como é difícil fazer um objecto destes.

- O que implica trazer ao mundo dos objectos um outro objecto com um determinado valor que acrescente esse valor.
– Como se gere o trabalho enquanto colaboração; como se compartilham energias que nunca são iguais, nem em simultâneo.
– Qual a satisfação pessoal em desejar que o trabalho de alguém se torne visível e a escolha da melhor forma de o fazer.
– Como querer e ter vontade de ser radical nas escolhas que se fazem quando o mais fácil é neutralizar.
– Como reconhecer que o resultado equivale às energias que o geraram; e aceitar o resultado como para além das expectativas.




*
- desligar os aquecedores e fechar as porta: assaltos e curtos circuitos são frequentes nesta altura do ano.
- as festividades da passagens de ano: entre desconhecidos, cinco conhecidos apenas no total, todos muito bonitos.

Tuesday, December 30, 2008




xxxxxxxxxBF 09.01.09 xxxxxxxxx

Sunday, December 28, 2008

: Está um tal frio dentro desta casa que o frigorifico está desligado e os alimentos conservam-se na mesma.
- Arrastamos aquecedores pelas divisões e sai vapor das bocas.

: Temos gatos de três cores, embora nos faltem mais três para que não nos falte nenhuma – temos uma gataria arco-íris.

Acrescento principal no percurso e objecto desejado para o próximo ano,
com a minha espada rasgar um manto de forças, separar o melhor possível as reactivas e assegurar a conservação das afirmativas.

Segundo passo e derivação do primeiro, organizar banquetes harmoniosos entre fantasmas.

Terceiro, escavar covas (> crescer para dentro).

Saturday, December 27, 2008

1. Ontem de manhã acordamos a pensar em mudar de casa. Desta vez gostaria de uma casa com jardim ou um terreno à volta, um poço se possível, possibilidade de cultivo. O Marco falou-me que ia viver para fora do centro. Eu fiquei chocada com a ideia. Até ele me aliciar com os prazeres dos subúrbios de Santa Cruz, já perto do mar quem sai de Custoias.

Gostaria de ter mais espaço e isto parece não tem fim.
Quarto, quarto maior, quarto pequeno e velho com humidade, casa, casa maior, casa velha, casa pequena, casa no centro, casa na periferia, casa longe.

E os fantasmas que se deixam para trás são como as alminhas que vêem comer à mesa depois da noite de Natal. (Se não comem, para o ano têm mais fome)
Ficam com uma casa inteira por conta deles e fazem novas amizades. Comigo, é certo, que não levo ninguém (nem morto).

Enquanto falávamos em mudanças: Ontem de manhã partimos para Vila Real depois Régua, Loureiro, Caldas de Moledo e Lamego.

E os montes cresciam.
Do litoral para as montanhas.

À medida que dávamos um avanço na viagem reconstruía as viagens de todos os anos, várias vezes, ao mesmo destino: A velha assassinada; O médico louco que perdeu o filho; O relógio que enfeitiçou o homem rico; Os milagres de um santo; O casino das Caldas de Moledo, O Carvalho Araújo e a casa da família; A Flor do Adro; A Senhora dos Remédios; ...

[Não tenho a certeza, mas penso que de fantasmas percebo eu ]
O rio Corgo e o rio Douro.

2. Nestes dias acordo pelas quatro da manhã e conto o toque dos sinos no Bonfim, não é totalmente desagradável. (ouvir sinos)

Lamento apenas que não tenha ouvido o intruso que roubou as jóias arte nova à vizinha de baixo. Veio com um carrinho e estragou-nos as escadas a empurrar o cofre.

Tuesday, December 23, 2008

NÃO FAÇO JANTARES DE NATAL DESDE 2007 E SÓ VOLTAREI EM 2009


Jantar escondido,

Arrumar a roupa e separar o que preciso dar a ferro, aspirar com escovas para sair o pelo de gato, lavar o chão e a louça, comprar vegetais de todas as cores e carne. Três horas para reparar a aparelhagem, sintonizar o rádio na emissora nacional e gravar três com programas semanais com o melhor do ano de 2008.

Quatro horas a partir a carne e a cortais os vegetais. Cinco horas para sair do quarto e começar a limpeza no resto da casa. Meia hora a partir cebolas às rodelas. Escrever postais e embrulhar as revistas dos alunos para oferecer no jantar.

Esperar duas horas a comer pão com manteiga aquecido. Três horas a ler.

Chega a primeira visita que traz laranjas. A segunda tangerinas. Comer citrinos.

Chegam mais dez pessoas de uma só vez.

Contar histórias e fazer festas às gatas.
Trocar impressões sobre a Grécia. Comentar programas televisivos que ninguém vê.

Recitar poesia.
Cortar pão e embrulhá-lo com azeite. Cortar alho e acompanhar.

Beber muita água.
Contar mais história dos Natais passados.

Beber vinho com cravinho.

Tricotar emblemas de bandas com slogans esquisitos.

Abrir os presentes e vesti-los: CACHECOIS PARA TODOS!

- - - O livro do Mário vai ser lançado dia 9.

Ontem fui a Lisboa em visita de estudo.

Monday, December 22, 2008


L, não me ligues mais a dizer que há água em outros planetas!...

Sunday, December 21, 2008

"Finita", segunda ronda de leitura pela noite dentro. As imagens não eram necessárias. "Onde há prazer, o conhecimento está próximo".

Isabel, Ana, Pedro, Sabrina, Michu, Gengibra, desejam uma noite de Natal muito tranquila entre família e amigos, e recomendam os jogos a feijões e todos os teatros amadores (pf. desliguem os telemóveis).

Agradecem também todas as felicitações enviadas.

Amanhã é o dia de limpeza do ano 2008; Terça é a visita dos amigos e familiares distantes; Quarta é dia de meditação.

Saturday, December 20, 2008

Acordado desde as 4 esperei por um artista que fez uma performance às 6.
Cansado de caminhar ele dirigiu-se a uma praia erma para se deitar como um dinossauro no final da vida.

Thursday, December 18, 2008

EXPECTATIVAS

O dia de hoje começou tardiamente com a troca de desabafos sobre a discussão e crítica sobre cultura em Portugal – tudo a propósito de um jornal, de um site e de muitas associações, pseudo-instituições, comunidades que trabalham para se imporem com valor próprio e verdadeiramente alternativo.
Isto é a Europa e o mundo a sacudir-se.

O que se vive em toda a Europa por isto e por aquilo, pela política e pela vida e por isso tudo que é cultura – desenganem-se – que aqui não vai ter qualquer continuidade, nem numa escala ligeira. O que sacudimos, de vez em quando é pó – mas pouquinho.

Tenho boas noticias:
“A flecha, bela pena para se escrever” (MGL)
E sim, amanhã vai estar sol.

Wednesday, December 17, 2008

Tenho o templo de Diana iluminado num ambiento escuro, numa noite muito escura. Comprei-o ontem, com mais um jardim público na Covilhã.
Anteriormente comprava praias e piscinas, mas agora no Inverno cai-me a nostalgia destes sítios.
Não é uma aventura maior comprar flores e gatos em cima de pianos. Tenho essa possibilidade financeira e não tenho problemas morais em ter comigo o que é maior que eu.

Saindo de Benjamin e voltando à noite escura; quando um polícia mata um estudante. E os monumentos são sítios de confronto. - (racham em dois)
Quero que nunca acabe e que aqui comece, mas quero entender em que direcção correm, senão é um mal sem nome. É sempre assim. Ou nasce sem nome (está lá, mas não tem nome)ou é purificada no caminho. É tal como o som dos protestos. Ouvem-se lá, mas de qualquer forma, os mediadores calam-nos pelo caminho. Esses insubordinados - é o que vem no jornal; esses insurrectos, ouvimos na tv; esses vadios, passaram na rádio.

A Sara desistiu da Hora H, pedi-lhe que voltasse a desenhar essa história, o dia da Invasão (R.Bradbury).

Tuesday, December 16, 2008

WE ARE SO FRAGILE


1.O dia em que o spam deu jeito para perceber melhor os relógios suíços.
2.O réplicas oferece cartões de crédito. E nunca mais vi, de facto, um projecto com esse grande senhor da FRAUDE. E havia muitas ideias a circular. Verdade que é neste momento que nos é mais útil, na falta de pechinchas verdadeiras. Nem as minhas habituais lojas de ouro usado estão para baixar os preços.
3.Prenda do Presépio: gostaria de ter um jogo de Xadrez (vi um com peças em marfim - gosto do branco Marfim mas são coisas mais mortas que o ouro). E muitas playlists para renovar o ambiente.
4.Hoje comprei postais e enviei-os. À Clare. (é claire!)
5.O melhor postal, um cão com um embrulho na boca com a seguinte legenda: O PRESENTE PINTADO COM A BOCA.
6.Previsões de futuro: faço-as mas mal.
7.Para I Want discipline vou trabalhar um cenário minimal, linhas e cor.

Monday, December 15, 2008

Esqueci-me da mochila na escola cheia de papelada para ler no comboio.
Jornal e apontamentos para toda a semana. A Sara e a Cristiana podiam passar por aqui, lanchar comigo e davamos um passeio.
Recomendo desembaraço de ano no Batalha e purificação na fonte seca.

Saturday, December 13, 2008

- “Carbonária, no estúdio zero, por três artistas, foi a melhor actuação de teatro em muitos muitos anos.”
- “Prova o quê?”
- “Que o acrescento exterior é isto, traz qualidade, novidade também. É assim em todas as áreas - estendem os seus limites com o confronto da experimentação arriscada efectuada por alguém não especializado. Não me distraí um minuto de tal maneira a peça fixou a atenção dos meus fígados. Quer dizer, fui agarrada no presente, nessa experiência.
- “E mais?”
- “No final bati palmas porque gosto de responder assim e porque me apetecia tanto agradecer. Aliás, agradeço-lhe muitas vezes. Hoje é o ultimo dia (prometi que não colocava isto aqui) e por isso sacrifico o meu dia para que possas ver a peça. Fico no Porto, mesmo com chuva e o céu tipo cinzeiro.”
- “Vens comigo? Nós já lemos o livro, não sei se te recordas....”
- “Porque não? Vou comprar o almoço que é mundano e libertador (tarefa para a qual fui especialmente dotada) e tratar das gatas - agora não importa o livro”

Friday, December 12, 2008


"la fontaine enquanto fazia azeite pensava nas fábulas - isso é artesanato;
O operário não pensa em nada, não constroi nada na sua cabeça, daí os as fábricas se consumirem com psicologos. O meu pai era idustrial, mas era ingenuo não conhecia os efeitos"

Do artesanato e da idÚstria, re-interpretação a partir da memória, M de Oliveira na Antena 1.


- NUNCA PERCAS UMA HORA DE SOL: NUNCA PERCAS UMA HORA DE NEVE; ESCREVE OS TEXTOS DA TUA MEDITAÇÃO: MESOS, O QUE É SECRETO, CRESCE.
Maria Gabriela Llasol

Thursday, December 11, 2008

EVENTO PROGRAMADO PELA CLARE


Entertainment & Arts - Books & Literature

Description:
The Performance Re-enactment Society
Is an occasional collective of artists, archivists and researchers, who use archival documents and audience’s memories to revive past art experiences and create them anew. Their collaborative performance re-enactments are acts of conservation and transform past works into new events.

Done any good books lately? Gilles Deleuze wrote that, "Books are not for repeated reading but should be used to do other things." Over four Acts, you are invited to join the Performance Reenactment Society to enact instruction-based artworks and make them happen again in the contemporary scene. Together we’ll be making some original artworks and remaking past happenings. We’ll be producing multiple versions, inspired by the artists who made the books in the exhibition. Drop in or join us for the series.

Wednesday, December 10, 2008

Escorregar na água. Espelhos de água. Amanhã desenho isso. Eu a escorregar na água de gelo derretido.
Apanhei dois sustos com neve, um em 1998 e outro em 2008.

“Imagina o melhor chutney barrado nas costas de um sapo!, isso é vida...”
“Então eu lambo-lhe as costas”


“E se fosse um bolo rei? Se não gostares de frutas cristalizadas?”

link para as imagens na galeria qazul.

Lê Laurie(1), para mim. “A man in a room, gambling”.
O cérebro de laurie fala-lhe coisas impressionantes, o homem é monótono, entretém-se com truques de cartas. Eu vou lá lamber disfarçada para não parecer mal. Mas

É importante ler. Para não perder nem um segundo sem se ter vivido em muitas linhas (nada paralelas) em simultâneo e para encher a linha em que se vai.

“Se tivesse oportunidade de perguntar alguma coisa a quem soubesse as respostas todas, perguntava: “estive enganada por quanto tempo?””
A verdade que se procura e viver em verdade.
Lista de perguntas a fazer, amanhã também.


(1)

I don't know about your brain- but mine is really bossy I come home from a day on the golf course and I find all these messages scribbled on wrinkled up scraps of paper and they say thing like: why don't you get a real job? or: you and what army? or: get a horse. and then I hear this voice comin from the back of my head uh huh (whoa-ho) yep! it's my brain again and when my brain talks to me, he says: take me out to the ballgame take me out to the park take me to the movies cause I love to sit in the dark take me to tahiti cause I love to be hot and take me out on the town tonight cause I know the new hot spot.

SzOlennya ArT Csene

Tuesday, December 09, 2008


Primeiro motivo de boa disposição durante semanas: uma editora decidiu formar-se como ONG para continuar a publicar. Segundo, mudei de quarto e escrevi o quarto poema. Terceiro, ...)

Sunday, December 07, 2008

Depois de ter metido a ideia do urso e do pedregulho arremessado à cabeça fui ao teatro e decidi que já não volto a ver peças da SK; as melhores representações, ainda assim, mesmo com tiques (tacs), são daqui. De ontem não tirei angustia nenhuma, nem senti fracasso, nem que a hora se aproximava. E decisão acertada porque o êxito da SK é tão industrial canibal que já é entretenimento e não catarse. Mais tarde dormiu o urso sobre o pedregulho que está sobre o crânio esmagado do jardineiro.

Saturday, December 06, 2008

Para participar é preciso enviar sinopse, escrita ou gravada em audio.

Friday, December 05, 2008

Thursday, December 04, 2008

CRU É SINCERO: o caminho da cabra!

As raparigas ainda tocam guitarra e os lindos calhau!
O melhor pelo NECK.

AS LENDAS E AS FONTAINHAS

Era uma vez um Urso que se escondeu do mundo e vivia completamente sozinho num bosque. Depois de algum tempo, ficou melancólico e agitado. Saiu, então, para andar e encontrou um jardineiro, que também levava vida de ermita, mas já ansiava companhia. O urso mudou-se para a cabana dele.

O jardineiro tornou-se eremita porque não tolerava tolos; mas como o urso mal falava três palavras por dia, ele podia continuar com seu trabalho sem ser perturbado. O urso costumava ir caçar e trazia alimento para os dois.

Quando o jardineiro ia dormir, o urso sentava-se ao seu lado, todo dedicação, a espantar as moscas que tentavam pousar-lhe no rosto. Um dia, porém, uma mosca aterrissou na ponta do nariz do homem e se recusou a ir embora. Furiosíssimo com ela, o urso achou uma pedra enorme e conseguiu matá-la. Infelizmente, ao fazer isso, esmagou também o cérebro do jardineiro.
A. Dreama Tish is shipping to France
Porque é que alguém atravessaria um país!

Mesmo as coisas toscas têm significado. Mas o melhor é quando escapa.

Hoje decido acabar com um livro de uma vez por todas.

A ambiguidade, sempre do lado da ambiguidade.

Wednesday, December 03, 2008

Those that don't know how to dance, whose spirits are too rigid to conquer the stiffness of their bodies, they are the ones who make dance as an inferior activity, a secondary art, like the decorative arts, like pottery and cooking. That's what happened to our culture, stiff an stuffy, which has privileged purely intellectual activity

Tuesday, December 02, 2008

Monday, December 01, 2008

Conduzi 1700 kilometros.

Águias, terras planas e outras montanhosas.

Para além gozei de sorte.
Para cá o que custou foi a falta de luz no Marco de Canaveses e a estrada a sumir-se e a engolir tudo o que estava à mão.

Pensei que ia ver espectros na estrada, mas só geleia de gelo.

Um fim de semana de teoria queer, feminista, transformista, marxista, onde se conjugar planos para destroçar o Universo.

E os malditos arquivos e os benditos Balcãs (e as Balcãs).

A Rússia é vermelha e branca dizia eu ao Dmitri que nem imaginava o meu regresso.

Contava mais, mas tenho o mesmo computador há 5 anos e não é portártil.
Está frio e tenho que ir comer caldo de peixe.

Por outro lado, se estás sozinha e neva, tens rádio e sem bateria de telemóvel, se o ambiente está tão seco no carro que tens os lábios esfolados, imagina-te num carro, a nevar lá fora, com rádio, sem bateria de telemovel e o ar está tão seco que mal respiras, e isso não era pior? Passou logo.

Wednesday, November 26, 2008

Uma vez é vez. Volto entre sábado / domingo.
O monte é bonito, mas longe.
Dois passos para a frente e outros para trás.

Tuesday, November 25, 2008


O indisciplinado, Genesis P-Orridge deu corpo ao tema “I want discipline” dos Throbbing Gristle em palco. O registo da performance mostra-o como: sóbrio ao mesmo tempo que parece estar possuído ou tomado por qualquer fenómeno paranormal; ausente e introspectivo ao bater com a cabeça numa coluna, como muito comunicativo com o público ao beijar um fã (que lhe responde com singulares contorções do tronco); maquinal na repetição intercalando com gestos bruscos e destruidores associados a subidas súbitas de tom. Embora inseparáveis para a concretização do acontecimento, os elementos - o som, a palavra e a performance - têm pesos diferentes. A repetição da letra, como as oscilações do ritmo da voz que profere a palavra “discipline” e da bateria, é desarmante – muitos fãs da musica industrial acusam este tema de insignificante dentro do contexto da banda, no entanto nunca dela se esqueceram (lembra um cântico espiritual para alcançar algum estado mais elevado de existência).

Assim parece que a performance ganha um papel de destaque. A associação entre a performance e a disciplina lembra, inevitavelmente uma marcha militar, mas, em G P-O só podemos ver um militar em transe a exigir o que dele supostamente se exige, percebendo-se bem o alcance do confronto através da paródia – G P-O vestiu-se muitas vezes de militar antes de iniciar o seu processo de transformação de identidade. Outra associação possível indica a performance como uma disciplina da Arte, com um campo crítico e um percurso histórico, que classifica, cataloga e inscreve no seu manifesto conceptual acções caracterizadas pela espontaneidade, indisciplina e revolta. E é neste ponto preciso que o evento “I want discipline” acontece - uma noite relâmpago dedicada às performances em palco com referências identificáveis da História da Arte e da Cultura Popular.

Entrega de propostas até dia 15 de Dezembro 2008.
Cartazes à solta pela FBAUP
Quinta-feira de madrugada: partida, largada.
É um inferno imaginar que não há nunca interferências.
Daí a volta estar marcada para sábado à noite.

As viagens encantam-me. Se me perder tanto melhor, desde que não seja muito.

Levitar ossadas nas aulas é assombroso.
Fazer presépio é outra coisa.

A Teoria do Medalhão a aplicar - está integralmente disponível.

Sunday, November 23, 2008



predilecções para já, eu vou para a Venezuela às custas de dar referências falsas e ao brasil (de passagem) no verão, festejarei o meu aniversários entre desconhecidos; mais uma tribo canibal vai ser descoberta e vão ser encontradas imagens bastante interessantes sobre adoração solar. Sentido de humor não falta.
ps. ganhará o prémio edp o gustavo sumpt.a.

Saturday, November 22, 2008

Arrumar coisas nos seus sítios:
Logo vou à concorrência e se lá fores manda-me uma sms. Não estou à espera, mas pode acontecer. Estou na fase da homenagem. Cuidado não é mau!
Estes (do video) são sintoma de convulsões internas. Prevejo.

Wednesday, November 19, 2008

umaflechanatesta

"Rua Vertical" sobre a C213


Arranque do texto para evento futuro: O indisciplinado, Genesis P-Orr)idge deu corpo ao tema “I want discipline” dos Throbbing Gristle em palco. O registo da performance mostra-o como: sóbrio ao mesmo tempo que parece estar possuído ou tomado por qualquer fenómeno paranormal; ausente e introspectivo ao bater com a cabeça numa coluna, como muito comunicativo com o público ao beijar um fã (que lhe responde com singulares contorções do tronco); maquinal na repetição intercalando com gestos bruscos e destruidores associados a subidas súbitas de tom. Embora inseparáveis para a concretização do acontecimento, os elementos - o som, a palavra e a performance - têm pesos diferentes. A repetição da letra, como as oscilações do ritmo da voz que profere a palavra “discipline” e da bateria, é desarmante – muitos fãs de musica industrial acusam este tema de insignificante dentro do contexto da banda, no entanto nunca dela se esqueceram (lembra um cântico espiritual para alcançar algum estado mais elevado de existência).

Tuesday, November 18, 2008

DEDICADO AO KIKI QUE NUNCA GOSTOU DOS SY


DEDICADO AO KIKI MIL VEZES

Monday, November 17, 2008

Uma possibilidade - economia dos afectos – ultimamente falam-me muito disto e se é do sentir, a mim parece-me bem.

A minha irmã está a entrar em período descrença para com os mais profundos pensamentos humanos porque estes isentaram-se da participação das mais belas damas. E ela cita os nomes com desgosto e asco, nem os seus heróis o foram de facto – sem as damas, passam todos por velhacos.

A TCP, diz que no escondido há mais liberdade. O mesmo penso eu das damas, públicas o suficiente e atravessadas.

Pois, de certeza que as damas conversavam e tinham crises existenciais profundíssimas, tanto quanto agora – que as encontramos à peneira. Umas chatas idealistas como são, devem ter feito umas boas milhares de revoluções silenciosas.

E eu escuso-me de dizer isto muitas vezes porque tenho mil defeitos culturais culpáveis ao facto de me terem deixado escolher as minhas próprias referencias. E eu escolhi, entre as boas e más companhias - se ao menos houvesse alguém que me travasse. E as damas são, sem qualquer duvida, as que mais me implicam. Os meus fantasmas também.

Saturday, November 15, 2008

Mulher com espada entre dentes

Lisboa, 11-,13.

Lá não há inverno, está visto.

Espectáculo ao estiilo vampiresco – apontamentos sobre personalidades deslocadas. “Às vezes, há noites que sou predadora” (enfim, citações)

Pintura, pintura e PINTURA, três exposições de Arte em tempos de crise, mas com mérito próprio. 0 pontos para a galeria GB que não aposta em calhas de iluminação.

Um quarto é já uma casa também, um dia contém uma vida; comprei contos do Machado de Assis.

Patrícia vou-te enviar um presente. Afinal não babei o sofá.

Um espirro é um fantasma a manifestar-se.

O livro do Mário vai sair daqui a umas duas semanas.

Hoje- fazer finta ao Inverno e assaltamos a praia de tarde.

Não há preço para o tempo livre, embora dê muito trabalho. Vou precisar de meses para desintoxicar, talvez anos.

Estou muito entusiasmada com o projecto da Clare. A Arte documentada que depois morre (já se sabe), o livro enterra-a - daí refazer, actualizar performances num festival. Repetir, relembrar. Mil vezes, em mil noites. E os livros? Não podem fazer isso. Gosto muito deste eixo (curioso), performance - livros.

Aos poucos gostamos disto de viver aqui. Em conformidade com o desejável, conformamo-nos. E bem. Vejamos o vídeo...

Wednesday, November 12, 2008

- "A rapariga mais atraente que eu vi nos últimos tempos foi uma tratadora de golfinhos, num tanque - hospital, que deu na televisão".
- Encontram-se texturas bastante interessantes em papel autocolante barato.
- Aniversário no Nepalês - levo papel de carta com cheiro como presente.
- Maxia em Vigo.

Tuesday, November 11, 2008

Fortunas debaixo dos nossos pés!



1 Se eu pudesse comprava uns brincos que vi numa montra.
2 Por demasiadas vezes estou a viver o passado.
3 O pior é perder tempo nisso.
4 Vou pintar os olhos a egípcia e andar como se andasse num corredor.
5 E ler sobre turismo.

Sunday, November 09, 2008

Mesa de voodoo: num quarto vazio, uma mesa com duas canetas, uma escreve a azul e outra a vermelho.

Friday, November 07, 2008

1. A documentação afinal não existia.
2. O homem mais alto do mundo limpa as tripas dos golfinhos com os seus braços enormes.
3. A imagem do canivete é para testar imagens para uma ideia.
4. Aceitas seguir os clássicos ou danas-te?

Wednesday, November 05, 2008











Porque me perguntam tantas vezes onde está o meu trabalho e porque razão não o mostro aqui, decidi apresentar uma performance colectiva que durou 24h. Espero que gostem. Toda a documentação da performance está no final do texto.


Chegámos à estação às 6h da manhã tal como combinado. Passamos antes pela padaria e pelo quiosque, alimentamo-nos de bolos e lemos as notícias do dia, mas não trouxemos nada connosco excepto agasalhos. Na estação vieram ao nosso encontro três amigos. Abraçamo-nos com força e trocamos palavras de emoção. Éramos um grupo que não passava despercebido a quem passava na rua, pelo barulho e pelos saltos que dávamos, meia volta, no ar. Avançávamos em direcção à praia. Estava uma manhã gelada com um denso nevoeiro, mas supus logo que em breve iriam aparecer os primeiros raios de sol. Chegados à praia retiramos as meias e os sapatos, arregaçamos as calças e percorremos a areia em direcção à mar. O nosso peso fazia a areia molhada ceder e deixava marca. Eu pus-me a andar ao contrário, tipo caranguejo, a ver primeiro o chão marcado de pegadas e segundo, ao levantar o olhar, todos os outros grupos, semelhantes ao nosso, que vinham na nossa direcção. Quando paramos já estava um sol brilhante. Levei a mão ao rosto para retirar um pouco de luz aos olhos e melhor poder escolher onde nos sentarmos. “Aqui, Ali, Aliii!” Acabamos por nos sentar onde a maioria apontou com o braço. Ali mesmo, distante das rochas e numa área onde era tudo o mesmo plano. A paisagem era uma total monotonia. A areia era clara e muito fina, lavada pelo mar, sem búzios, pedrinhas ou lixo. Para a frente a linha do horizonte impunha-se. O que víamos dividia-se em duas metades: uma amarela e outra azul, areia e mar. Não havia mais ninguém nas redondezas excepto o grupo que não parava de crescer. Estendemo-nos na areia às doze, no sol alto. Cobrimos os olhos com óculos escuros automaticamente. Vestíamos todos de preto – pareceria que íamos arder dentro de instantes. Éramos já cerca de umas quatro dezenas espalhados por ali.

Quando estávamos todos instalados tive que pedir a palavra porque o meu tom de voz não se afirma por si mesmo e só a custo e por uns breves instantes consegui falar num ambiente silencioso. “Caríssimos, estamos aqui para mais uma vez assistir ao pôr do sol em plena amizade e em comunhão de interesses, espero que estejam bem dispostos e que tirem partido do dia”. Riram-se todos às minhas custas e pela minha ingenuidade, bem sabia. Mas o que eu não podia permitir era que me estragassem o dia e começasse a pândega dos vadios que nunca mais tem fim. E contra mim falo, que mesmo que os censure não posso negar que somos todos muito parecidos.

Ora, quem éramos e o que fazíamos ali afinal de contas? - quantas vezes me forço a trazer à memoria esta pergunta, para que a resposta me tranquilize. Nós somos todos os pessimistas conhecidos, um círculo de descrentes: somos os que têm a bota ao pescoço e imploram por mais, os que estão sós e afastam a única pessoa que os aguenta (a mãe?), os que perdem tudo e continuam a jogar para se endividarem de seguida, os que se magoam e voltam a lutar, os que põem álcool na ferida, os que caem e que se atiram de novo, os que não são facilmente reconhecíveis...
Somos também os idealistas, os que vivem a distâncias incrivelmente longínquas de todos os outros, somos os que vêm só com um olho o que o olho humano não permite ver, os videntes das folhas de chá e os premonitores do futuro (assim acreditamos), os que são insuportáveis à sociedade porque pensam que a culpamos (e isso não é totalmente verdadeiro), os que morrem todos os dias e renascem por milagre (pensamos que não gostar de viver é uma criancice, de outra maneira tínhamos terminado com isto de uma vez), os que desistem muito rapidamente dos seus projectos (de vida) por nunca correrem conforme o imaginado, os que desconfiam que os outros nunca têm razão...
Somos então a perfeita harmonia entre o elogio da figura da vítima e a vingança do herói, somos a vitória e a decadência, somos, enfim, o melhor e o pior que se pode encontrar por aí e na verdade não nos esforçamos muito para que nos encontrem. De facto, não pensem que é fácil encontrar-nos. Por segurança vivemos por aí exilados em casas há muito dadas como abandonadas. Nunca saímos do mesmo sitio, não sabemos o que são outros sítios e o movimento físico não nos é essencial – para quê se viajamos tanto para preencher os nossos próprios compromissos nas esquinas da nossa imaginação?

É o milagre do sol, que se põe para renascer outra vez, que nos faz voltar ali e é aquela simbólica ida à praia que nos permite continuar durante um ano inteiro – sim, o círculo junta-se anualmente no Inverno e naquele dia. Não constituímos uma religião pagã ou acreditamos em algum mistério da criação, porque não é verdade que exista para nós qualquer mistério na criação e na religião. Para melhor explicar terei que usar palavras e todos os outros, que estiveram ali presentes que me perdoem por fazê-lo, desmistificando o segredo (!) e por falar em seu nome.

Estivemos toda a noite por aí, chegamos à praia cedo e quando marcaram as 14h, num relógio de sol improvisado com um galho espetado na areia, a reflectir numa lata de conserva que alguém tinha no bolso do sobretudo, de óculos de sol postos, virados de barriga para cima, estavam dezenas, já quase chegávamos a uma centena naquela praia. Algumas cabeças estavam pousadas nas costas, nos ombros, nos braços, nas barrigas, nas pernas dos outros. Alguns davam as mãos. A massa escura preta que formávamos era semelhante a piche colocado nas estradas. Eu abracei-me à Lara, ao Clóvis, à Michu, ao Rolando e cruzei os pés com um desconhecido.

A biografia dos meus amigos não me importa - de que linha descenderam, de que classe provinham, o nome verdadeiro ou até a origem do nome dado, era tudo irrelevante - estávamos ali, e muitas vezes ali regressaríamos. Se nos voltaríamos a ver, também não o sabia, pois ser um idealista pessimista é muitas vezes um estado, uma passagem, não está traçado no mapa e não é uma fatalidade. Chegadas as 16h - naquela altura do ano o sol é fraco e a luz amarela alaranjada, em nada se aproxima aos tons lilases do verão, meia hora depois o sol ia cair sobre o mar com rapidez – notamos, quanto nos é possível, no pouco que vemos da horizontalidade da nossa posição, que a massa se mexe e se ajeita. Lá no fundo, nas extremidades podem estar a fazer amor ou a cantar, a coçar o corpo que aos poucos se escalda da exposição prolongada ou a tomar cuidados para não desidratar - estes são movimentos exteriores que pouco se relacionam com o que se passa no interior de cada um. Às 17h, aproximadamente, levantaram-se alguns, um pequeno grupo muito jovem, vão até à água, talvez sejam do interior do país e poucas vezes tenham a oportunidade de provar o sal. Levantei a cabeça para os ver, apeteceu-me entreter o olhar. Deitaram as mãos ao mar e como se estas fossem pás, puxaram a água até molharem a barriga. Outros levantaram-se e correram até lá também e entraram na água sem medir a temperatura ou a força das ondas. Em outros anos foi mais tranquilo, mas não me levantei para os impedir, pois, não há regulamento e a minha tendência para o ideal das coisas pode perturbar o ideal dos meus companheiros. Ás 17h e 20m, metade da massa preta estava na água. Parecia que o mar estava sujo e a imagem diante de mim era preta e laranja. Os meus amigos estremeceram do sono profundo em que caíram e também se juntaram. Sentei-me e de braços cruzados sobre as pernas assisti a ondas pretas, que vão e vêm.

Às 18h, já não os reconheci. Estavam em contra luz. Nesse dia inauguramos uma nova modalidade – precipitamo-nos todos sobre o mar para assistir ao desaparecimento do sol. Conseguem imaginar? Somos centenas, vestidos de preto, numa praia perdida, entre a areia e o mar, de mãos dadas ou abraçados com força, totalmente molhados, com as roupas coladas, as ondas a baterem-nos violentamente, praticamente imóveis, com óculos de sol, para ver o sol a desaparecer.

Às 19h, só havia um resíduo da luz que nos acompanhou durante o tempo que lá estivemos. Como náufragos dados à costa arrastamo-nos dali e entramos na cidade. Mais um ano passaria de profundo isolamento, de dias claros e escuros, de agressividade para a qual ninguém encontrava justificação, de vontade de destruir ruínas, de queimar cinzas, ordenar ordens mal dadas e seguir o curso das coisas tal como o imaginávamos.

Eu fiquei um pouco para trás. O meu grupo atrasou-se porque um rapaz emocionou-se e não se queria levantar, enterrou-se na areia e disse que ninguém o tirava de lá. Eu não o reconheci porque os óculos ocupavam metade da cara (era muito jovem e com um rosto de criança), mas quando o arrastamos até ao cimento vi quem era. Sentamo-lo no mureto, sacudimos os pés de areia, metemos-lhe as meias e os sapatos. Então, uma das raparigas encostou-o contra o peito e embalou-o: nós acreditamos na descrença e desacreditamos nas crenças; temos a esperança de mil homens juntos.

Tuesday, November 04, 2008

Saturday, November 01, 2008

Porque o difícil é estarmos juntos.

Só o entendi com o Olho de Apolo e o culto do Sol. Ela olhava para o sol de frente, com coragem e bravura e explicava dessa maneira a falta desses valores nos outros. No final – o homicídio é irrelevante – descobre-se que era cega.

Thursday, October 30, 2008

Reunião de Ouija, Chesterton e pés quentes.

Tuesday, October 28, 2008

There is a Policeman Inside All Our Heads

1. Os alimentos e as descobertas incríveis dos homens que trabalham nas covas!
2. A inacreditável experiência humana e a vida na selva (o devorante e o devorado).
3. As surpreendentes alegrias terrestres.
4. Os caldos oceanos.
5. Os corais.

Sunday, October 26, 2008
























Saturday, October 25, 2008

Thursday, October 23, 2008

Não tenho. Dinheiro. Para livros. Alguém me empresta algum livro que tenha do Gary Snyder?

Coisas que cairam da minha carteira:
Limpar a carteira

- Quartéis abandonados
- Some Thames...
- Water in Milk
- Close-ups
- +bonita
- Biblioteca
- Karate para cegos é mais estratégico
- Um quarto é menos que uma casa
- Torradeiras são material eléctrico
- Que Centro Cultural?
- Generalização de Correntes
- São números de pessoas
- Falar sobre o TPC
- Dar continuidade ao que foi feito
- Corrigienda
- Aberrations
- Folkert de Jong
- Coubert
- Close-ups
- Stereo-porno

Mas há mais.

Wednesday, October 22, 2008



Tuesday, October 21, 2008

. É quarta-feira e é Outubro, meio do mês para o final. O que é que falta fazer e o que é que não fiz até chegar aqui?

. Vocação preferida, escritos sobre fantasmas para os espantar.

. Nunca acertam na cama ou no colchão quando fazem entregas.

. As camas com ferrugem por regra não fazem barulho.

. Faço compras depois de lavar a tigela dos gatos.

. O terceiro gato é um enorme compromisso.

. O JAM não deve tomar algumas verdades como ensinamentos e vice-versa. É o que eu faço.

. E é destas coisas bizarras que escrevo por aí, estão outras escondidas que só as vê quem quer – nem sequer são segredo.

Sunday, October 19, 2008

Saturday, October 18, 2008

1.
O mundo vale pelos extremos e dura só pelos meios
E continua assim:
“Vale pelos mais radicais e não dura mais do que pelos moderados”
P. Valéry

2.
Não sei o que isto (te) poderá parecer, mas dava o dedo indicador, que tanto espeta, para ir ao Brasil.

3.
A ambiguidade. Haverá certeza maior?

Thursday, October 16, 2008

TALVEZ NÃO TENHA NENHUM PROBLEMA É UMA QUESTÃO DE TEMPO


IF YOU KNOW WHO YOU ARE THEN IT'S EASY TO MAKE ART. MOST PEOPLE ARE REALLY CONCERNED ABOUT THEIR IMAGE. ARTISTS HAVE ALLOWED THEMSELVES TO BE BOXED IN BY SAYING "YES" ALL THE TIME BECAUSE THEY WANT TO BE SEEN, AND THEY SHOULD BE SAYING "NO." I DO MY STREET ART MAINLY TO KEEP ROOTED IN THAT "WHO I AM." BECAUSE THE ONLY THING THAT'S REALLY GOING ON IS IN THE STREET; THAT'S WHERE SOMETHING IS REALLY HAPPENING. IT ISN'T HAPPENING IN THESE GALLERIES.
imagem: Bliz-ard Ball Sale

O SOCIAL




1. Quando se fala no Museu, é costume dizerem-me que estou a analisar segundo o ponto de vista da artista. Exacto - penso eu – que outro ponto de localização seria possível para mim? Não é o mesmo da socióloga, da economista, da crítica, da rapariga que visita o Museu de quando em vez e por aí fora, é o meu. E é claro que o meu não é neutro. Isto faz-me sentir bem.

2. Depois dizem-me que eu não tenho razão. Em menos de dez minutos: “Pensando melhor, entendo que tenhas essa opinião!”

3. Meia hora depois perguntam-me: “já escreveste sobre isso? gostava de ler”

4. No outro dia disseram-me, à esquina da rua x, que se devia pedir uma indemnização ao Estado por incapacidade em manter os seus cidadãos devidamente educados.

5. Eu perguntei, “qual será a melhor altura para meter os papeis?”

Tuesday, October 14, 2008

textos que vertem água
e não digo mais nada -
beber sais minerais não ajuda

(reexperience sameness)

Victor - Tupitsyn *****

Monday, October 13, 2008

Sunday, October 12, 2008

//sos//

São três da tarde, somos sete sentados numa cama muito grande a comer bolos e a beber café. O meu irmão apanhou o avião hoje de manhã – só decidiu ontem à noite – e vai passar aqui uma semana. Eu entretenho o meu pai com histórias das urgências. Ninguém tem medo – parto eu do principio. E o meu pai diz: “saiu-te este sítio! Melhor que os sítios por onde andas à noite”. Já não estávamos de acordo há muito tempo. E ele continua: “antes havia um repórter nos hospitais que contava histórias sérias e foi assim que soubemos que o X tinha morrido, estava lá a fotografia dele e da rua”. Eu até tinha pegado num livro para ler, mas passei horas a ouvir as paredes com as portas de correr, a pensar que devir embora (mas qual é a “dimensão” disto?) e o resto a ver gente amarela.

Wednesday, October 08, 2008

THE END IS AT HAND

Era uma vez uma extraordinária excursão de Ss que seguia até um terra habitada por As. Os Ss eram educados, bem informados, tecnologicamente mais avançados, higienizados, atléticos e com espírito curioso. Os As viviam no mesmo sítio há milénios e estavam imobilizados por serem e possuírem menos de metade das características dos Ss (tinham outras). Quando os Ss chegaram tomaram conta de uma parte considerável da terra e construíram uma enorme tenda com um esquema muito eficaz de auto-suficiência – estavam asseguradas as necessidades básicas de sobrevivência, tais como os mais fúteis desejos e caprichos, sem que para isso fosse necessário o envolvimento com o exterior. Certo dia, a filha de um dos grandes Ss acorda sobressaltada com medo: “ há barulhos lá fora, esses animais, esses humanos, essas árvores, tudo range e faz barulho...e eu não entendo!”. No dia seguinte esse grande Ss convoca uma reunião de emergência: “antes que se instale o medo, temos que fazer alguma coisa, alguns dos presentes tem alguma ideia?”. A mesma criança, apavorada, que não sendo a única, era que conseguia expor o medo e, por isso, tentava encontrar a solução! “Chamem o Sss, que é filho de um A e de um S e que veio connosco e perguntem-lhe o que fazer”. Chamaram o Sss. Este disse amanhã vou lá fora e vejo o que posso fazer embora eu não me sinto mais A que S...”

Sss sai e espera não ser reconhecido, no entanto, depara-se com o olhar atento de um A, que por acaso é um Aaa que nasceu na terra. Igualmente, nem A, nem S tal como Sss. Sss diz: “podes-me me dizer como te sentes no teu papel? E o que fazes?”

Aaa, não defende a terra, não defende os As, defende-se a si mesmo.
Mas apaziguar o medo não é com ele.

E diz: “Estender tendas de campanha de ensino e evangelização, oferecer bolos e esferográficas, cobrir-nos com tecidos não resolve...”; “Levares-nos à tua tenda para beber chá, sabermos que tens brilho, luxo e excedentes, também não!”
“Em ambas reconheceríamos que és bom e talvez superior. Para nada isso nos serve”

Aaa também não reconhece hierarquias embora seja um curioso.

O mistérios do apaziguamento têm solução.
Nem que seja com um encolher de ombros.
1.
A quantidade de postais que começam por:
eu não sei o que te escrever;
eu ia escrever uma carta, mas não consigo;
é uma pena que as férias acabem;
no início isto tinha piada;
desculpa, mas;

2.
O meu cabelo está formatado para ter franja e está preso.
Sempre quis mudar este formato, mas o cabelo tem design e, por vezes, é difícil mexer em design deste – ainda por cima natural.
Hoje percebi que toda a gente tem esse mesmo problema, não pode mudar de risca, nem de formato, facilmente.
3.
Os livros em segunda mão:
O Comunismo
O Marxismo
O Evangelho
A vida espiritual
A vida de Cristo
Memórias de uma libertina
Vénus das peles
Conheça a sua vida sexual
O Prémio
A Família Forsyte
Ben Hur
A enciclopédia juvenil
A electricidade
O demónio do capitalismo

4.
Isto somos nós: cristão, comunistas, espiritualistas, hiper-sensuaalistas, fur-freaks, espertalhões da técnica de mudar lâmpadas e vivemos a saga Forsyte.
5.
Os nossos livros de hoje, numa prateleira daqui a uns anos, o que vamos dizer de nós?
6.
Os livros em segunda mão estrangeiros são franceses. Mas nós – quase - não lemos francês.
7.
Os emigrantes e os turistas arriscam a sair do País e enviam postais. Portanto, distinguem-se os que ficam e os que vão. Os que vão enviam mais postais. E para a Barbearia Apolo, aqui no porto, foi um postal de Leninegrado.
8.
E um postal nunca enviado é pior que um a dizer que não se quer dizer nada porque não se consegue - quem está fora experimenta muitas vezes isso, falha a voz e já não se telefona, falha a mão que não quer escrever. E um postal da casa, da piscina, da prancha, da Esther Williams, a não dizer nada?
9.
E um tipo de óculos escuros, muito bom aspecto, mão atrás da cabeça, dentro de um mapa de Portugal? Estávamos em 1986.
É um convite guardado entre muitos outros convites para exposições – no Porto, em Braga, raros sãos os que vêem de Lisboa e alguns até da Alemanha e Brasil.
Trouxe alguns. Queria recuperar – eu quando me perco nestes cantos com cheiro a leite podre é para recuperar qualquer coisa. Aqui era para ver se ganhava uns anos de arte. Estava ver se enganava o tempo e se via mais para além dos meus limites de idade.
De qualquer maneira, eu conheço este tipo com pinta.
E fiquei mais tempo a olhar e a admirar como ele era e como ficou a ser igualmente assim igual até hoje. Bem, só visto, mas não se arranja fotografia para já.
O Pedro Tudela devia ter bailado nos anos oitenta.
10.
“Portugal Emigrante”, ei, explica lá melhor?
11.
Encontrei postais com todas as barragens de Portugal – não vá o dia tece-las e calhar de fazer um trabalho sobre águas, mas eram mais cinco euros. Não se preocupe, desanomoro-me já.
12.
Pior é não fazer uma exposição chamada Portugal Emigrante.
13.
E os postais vêm do estrangeiro e dos emigrantes.
14.
A partir de hoje, o cabelo vai ser solto. Não é bonito, mas é comprido e claro e claro dá-me brilho.
15.
Por agora é tudo.
Há apenas a destacar que na peixaria, do peixe fresco, o único peixe que eu identifiquei foi a pescada e o salmão, fiquei com as cores de quem fica corado.
Com carinho e amizade, deste lindo, lindo sítio, com uma casa e um lago, um grande beijinhos, Isabel

Monday, October 06, 2008

Collection artistes de ce temps


Depois do texto sobre a burocracia, o senhor director das finanças retirou-me os benefícios e pôs-me num buraco;
Depois do texto da amizade falo com a minha amiga sobre assuntos que antes não falava;
Depois do texto das férias deixei de pensar em ir para aquele bungalow galego.

Sunday, October 05, 2008

1.
Elas estavam numa cabana.
À beira da praia.
Estavam perto do mar
Uma não falava.
Ficaram iguais.
2.
Ao domingo - ao teatro.
Antes era ás 16.30 da tarde.
3.
A Anabela já não é - para já - actriz.
4.
Não entendi porque não.

Thursday, October 02, 2008

- Eu estava numa cabana e disseram-me: não vais ter medo?
- Eu fui lá para a praia e sabes como é, estava cheia de medo;
- Eu estava lá e logo no primeiro dia só pensava que ia ter medo e liguei a alguns amigos;
- Aquilo fica perto do mar, sim, e assim no meio de nada e tinha medo;
- Eu tinha uma navalha;
- Liguei-lhe e disse-me para levar um machado também;
- Eu levei o machado;
- Fui a casa e peguei numa navalha, na minha;
- Sabes, isto não adianta de nada;
- Eu estava cheia de medo:
- Logo no primeiro dia, pensei: fogo estou mesmo bem;
- Mal cheguei já estava bem comigo mesma, sabes…?
- Sentia-me bem comigo mesma ali;
- Estava cheia de medo e no primeiro dia estava bem;
- Comigo mesma, sabes?

Sunday, September 28, 2008

CATASTRO-SOPHIE COMMANDS THE SEA
No Fim de semana: auto-combustão da minhota mais pequena do mundo e a charlatã medrosa. Inesquecível.
(performance partilhada, partida e usada)

Friday, September 26, 2008

uma flecha na testa no wordpress, obrigado Mário e Sr. Ostra.
Há uns tempos uma amiga minha disse-me que já não saia como antes, que preferia investir em conversas que mereciam a pena. Desde então assinalo todas as conversas que são assim, densas ou ligeiras, curtas ou demoradas, mas que, pela intensidade, nos satisfazem com o tal “ merece a pena”. E com rigor, no meu vocabulário, uso a expressão com alguma raridade.

Na sexta feira passada aconteceu estar a conversar com um amigo e, a certo momento, ele ter dado exemplos de como se conseguiam, lá fora e cá em Portugal há uns tempos atrás (se bem que eu não me lembro) de forma totalmente inovadora, apoios financeiros para projectos artísticos. O momento chave foi: ”burocracia, para quê?”. O entusiasmo com que falava, mostrava que todo o seu interesse recaía apenas sobre um só aspecto - na forma como era feito o pedido e como muitas vezes era usado para o desenvolvimento de um projecto artístico em si. Estou de acordo, novas propostas serão bem-vindas, principalmente as mais criativas para a desburocratização dos processos de financiamento e para, consequentemente gerar crise no meio.

Alguns argumentos serão necessários para expôr este ponto de vista. A burocracia excessiva não atesta qualidade da proposta apresentada nem faz justiça às capacidades e competências do seu autor; o preenchimento de inúmeras folhas de candidatura e a utilização da linguagem verbal não faz justiça às propostas de projectos nas áreas da música, da dança, da performance, do teatro, da pintura, do vídeo, das publicações; os critérios de avaliação não são os mais adequados; a burocracia cria uma imagem de seriedade e legalidade que pode ser facilmente manipulada de acordo com vários tipos de interesse e favoritismo; a selectividade considerada essencial constitui uma ameaça à liberdade de expressão, logo, empobrece o que o público recebe enquanto arte e cultura; entre outros argumentos.

Genericamente, a burocracia é entendida como uma forma organizativa, uma ordem que se estabelece, que nos devia ser minimamente útil. Mas não é, na prática da sua aplicação porque se torna rapidamente numa forma de exclusão relativamente arbitrária.

Na construção da minha opinião, estimulada pela tal conversa “da pena”, pesou a constatação que a burocracia, como processo de aceder a financiamentos públicos e semi-públicos ou privados, tal como a conhecemos, está desactualizada.

Existem duas propostas concretizáveis que considero interessantes. A - apresentações de propostas e provas de competências nos formatos que o artista considere mais adequado não recorrendo necessariamente à linguagem verbal para isso; apresentações orais que ajudem um júri (competente e isento) a melhor avaliar ambos os factores. B – apresentação mínima de um diploma de ensino (não é obrigatório que seja na área) e de uma proposta que demonstre iniciativa própria; aprovação de todas as propostas apresentadas às quais seria oferecido o mesmo valor.

Entre as vantagens de propostas semelhantes, a promoção da diversidade cultural parece-me a mais importante.

(texto a ser continuado, um dia, destes)
Volto da Croácia no fim de semana para apresentar, com a Girafa, a mulher mais pequena do mundo em carrinho de rolamentos.
Sinto falta das minhas gatas.
Sinto falat de poder entrar em sítios onde estou proibida de ir, mas protno! Que posso fazer!?

Wednesday, September 24, 2008



1.Persona Persona Per-sona! Vou às boas raparigas. Alguém se junta?
2.Politica Personal e Social: casamento só com uma mulher.
3.Eu gostava de escrever para revistas suspeitas todas as semanas.
4.Que opinais vosotros?

Entretanto a Isabel vai ordenar leituras e meter livros nos correios.

Friday, September 19, 2008

ALVA E AURORA

Wednesday, September 17, 2008


Parte I
Conto do século XIX, para (a Ana) ler nas viagens de comboio

Sou uma casa com três pisos – se não fosse eu a contar o que vou contar não se saberia o que tinha acontecido, porque no final não ficou aqui ninguém para escrever uma linha ou gravar um som. Quando me descobriram, no estado em que estava, abriram-me ao público – nem a múmia, nem os outros cadáveres os impressionaram. Tiveram que desenterrar alguns objectos escondidos, cuidaram de os limpar e envernizar, encobriram o cheiro com perfumes e revelaram as minhas ruínas.

Ajudaria se houvesse um calendário com um dia marcado para mostrar quando é que tudo começou. De qualquer maneira, penso que deve ter sido por volta de Maio, com sol e calor. Sou testemunha material do sucedido, mas mais do que isso, confesso que fui cúmplice.

No início tinha cinco quartos revestidos de papel castanho padronizado todo diferente, o chão coberto de alcatifas, duas grandes varandas, um jardim, duas casas de banho, uma cozinha, uma sala, corredores e um sótão. Alguns armários, mesas e o número de cadeiras básico, quatro bancos, louça, talheres, peças de cera, porcelana, vidro, madeira, que decoravam a sala – mais nenhum sítio tinha decoração. Uma casa típica da altura que tinha pertencido a um comerciante e que mais tarde foi arrendada.

Segundo a minha orientação, o sol atravessa-me diariamente. O sol é o elemento mais atractivo desta casa – dizem que irradio luz. Nos quartos entra uma brilhante luz matinal, na sala e na cozinha a luz do entardecer, pelas varandas recebo a luz mais forte.

Duas das moradoras, Aurora e Alva, tinham perto de vinte anos, eram típicas raparigas a viverem por conta própria numa pequena cidade portuária, profissionalmente ambiciosas, que saíam à noite, com amigos e romances, estudavam e liam, praticavam desporto e eram atentas à vida cultural da cidade. Conheceram-se aqui por casualidade e, antes que se imagine o contrário, não se davam particularmente bem. Em relação aos outros com quem compartiam o espaço, eram companhias agradáveis, prontas a partilhar histórias e cigarros, mas não se pode dizer que fossem afáveis. Alva contrastava com a personalidade de Aurora por ser tímida, observando com cuidado tudo ao seu redor. Aurora era impulsiva e com um comportamento que se podia considerar, para a altura, excêntrico.

Em Maio a Aurora saiu com um rapaz e a Alva com uma rapariga. Assisti à chegada das duas, por volta da mesma hora, já perto do amanhecer. Cruzaram-se na cozinha prontas para se deitarem. Já o sol se levantava aos poucos e em breve os raios entrariam sorrateiramente para inundar todo o espaço. Conversaram sobre si mesmas e acabaram por confessar as suas incertezas sobre o futuro. Entenderam que tinham muito em comum. Tinha-lhes sido até então impossível compreender e explicar certos acontecimentos e fenómenos pelos quais tinham passado e concluíram que precisavam de tempo e de espaço para se concentrarem – pelo menos em alguma coisa.

Aurora disse: “Com o sol que faz durante o dia, o que me apetece é não voltar a sair daqui!”, Alva concordou sorridente.

Não houve realmente, a partir do encontro entre as duas, um plano. O que aconteceu foi de improviso – até ao final. As duas em consenso propuseram aos restantes moradores a abolição do pagamento da renda, as obrigações de abrir e fechar a porta da entrada e decidiram dar novas funções aos compartimentos, nomeadamente aos espaços privados, permitindo, inclusive, que os corredores pudessem funcionar como dormitórios.

Os três moradores foram saindo por incompreensão das novas regras e por falta de simpatia pela nova ordem das coisas. Estavam confusos e deixaram-nas sozinhas para o início da construção de um puzzle de ligações que ocuparia os meus três pisos.

Aurora e Alva dialogavam em perfeita sintonia como se fossem a mesma pessoa com a vantagem de serem duas cabeças a funcionar (criativamente). Arrastaram a cama do sítio e amontoaram as peças de mobília – por baixo as maiores e mais pesadas, em cima as pequenas e leves. Levou-lhes dias a preparar o espaço e a esvaziá-lo tanto quanto era possível. Duas mesas redondas foram colocadas no centro da sala e num dos quartos, respectivamente, para que, durante o empreendimento, acompanhassem a luz natural.

Os livros e as bibliotecas rareiam neste século e não são acessíveis ao público em geral. As duas tiveram a vantagem de descenderem de famílias economicamente capazes de lhes permitir este luxo e por isso estavam habituadas a ocupar os seus tempos livres com leituras. Mas dos livros só lhes interessava agora a possibilidade de arrumar ideias e não os livros em si. Daí preferirem chamar cadernos às folhas de registos que preencheram compulsivamente durante meses.

Primeiro
Lista de cadernos que Aurora e Alva escreveram, desenharam e pintaram, para descrever e ilustrar assuntos escolhidos.

Caderno das regras
As regras eram importantes e escrevê-las era indispensável. Os “não” eram mais fáceis, daí a lista extensa. Alva disse: “Lá fora é tudo não, aqui também!”
Mas a listagem integrava apenas duplos “não”.
Não não fumar, não não comer fora das refeições, não não correr e saltar em casa, não não dormir até tarde, não não tocar órgão à noite, não não... Os “sim”, o que se permitiam fazer uma à outra, ficaram em branco porque não valia a pena dizer que sim a tudo.

Caderno dos animais conhecidos
Classificaram os conhecidos por espécies de animais fazendo uso de aguarelas sobre papel humedecido. Os rastejantes ficaram associados aos mais antipáticos. Os peludos para os que sentiam dó e piedade. Os mochos aos professores; as avestruzes às senhoras aprumadas; os peixes e os sapos para certos amantes. Os morcegos, os pinguins e as cegonhas ficaram em lista de espera.

Ao chegar ao final do dia, com chapéus de plumas e sombrinhas pequenas, enfeitaram as fêmeas que se pareciam com os parentes fêmeas, com roupa a condizer fizeram o mesmo aos machos e prepararam-se para um desfile de modas – uma das curiosidades foi como os meteram sentados nas cadeiras e como lhes dobraram as pernas, a outra foi como lhes empurraram cigarros para a boca. Confesso a minha perplexidade a assistir a tamanha crueldade ilustrada!

Caderno dos haveres
Lista de haveres: classificados por cor, ano de origem, material, textura, consistência, dimensão, função, som e cheiro. Registo por escrito, detalhado, do percurso de cada um dos objectos: do fabricante ao consumidor. Partiram a louça toda nisto, mas enfim, o mais importante era classificar. É de pouca relevância, mas a Aurora cortou-se no pé com um pedaço de um copo de vidro. Anotaram que o corte era importante se tivessem que organizar conteúdos para um caderno ou actividade relacionada com “acidentes domésticos”, “pés”, “feridas” e “vidros”.

Caderno dos poemas
Redacção de poemas cantados pelo vento e ouvidos por um canudo de papel. A começar pelo som mais agudo. Alva, que tinha melhor “caixa de ar”, repetia o som que ouvia enquanto Aurora tentava encontrar as notas certas para traduzir em pauta. O suporte eram os antigos lençóis da cama – ambas, por esta altura, teimavam em dormir no corredor como morcegos, daí os lençóis não servirem senão para isto.

Caderno do sol
Apontamento exaustivamente descritivo da influência do sol na temperatura, nas plantas, nas montanhas que se viam pela janela, na cor da pele, na abertura das pupilas dos olhos, no humor, nas cores e na água. Sem recorrer a nenhum desenho. Alva tinha a pele tão branca e suave que era quase transparente, por isso era ideal para fazer os testes de exposição solar numa escala de um minuto a oito horas seguidas. A pele de Aurora era morena e dura e não tinha qualquer peso no estudo.

Caderno dos pensamentos
Anotação de pensamentos comuns e divergentes, contraditórios, singulares, aborrecidos, impróprios e obscenos, violentos e agressivos. Os pensamentos que mereciam correcção foram escritos e logo apagados com a borracha.

Segundo
Lista de actividades desenvolvidas por Aurora e Alva

Actividade 1.
Açúcar em ponto pérola transformado em algodão doce. A cozinha foi convertida numa fábrica que produzia aquela matéria pegajosa que aos baldes era colada às minhas paredes. Atiravam-se à vez a ver qual delas ficava suspensa na zona mais alta. O objectivo era caminhar nos planos verticais, mas isso não chegaram a conseguir. Não tomaram banho depois.

Actividade 2.
Substituíram algumas das minhas paredes ainda livres por colunas gregas, aproveitando as vigas de suporte e recombinando os estilos clássicos conhecidos. Para além de poderem passar entre os espaços vazados ganhavam luz.

Actividade 3.
Converteram as escadas em rampas.

Actividade 4.
Furaram o telhado e os tectos, tipo peneira, sem que os buracos coincidissem, de modo a que não chovesse ou nevasse com demasiada abundância, apenas o suficiente para reproduzirem uma estância de esqui – daí as rampas.

Actividade 5.
Acenderam dezenas de velas num quarto para jogarem ao teatro das sombras.

Actividade 6.
Desviaram a água por tubos irregulares, abertos, para que se assemelhasse a uma corrente de água natural. Os tubos passavam no meio do chão e não junto à parede.

Actividade 7.
Desenharam-se uma à outra, no corpo, a respectiva silhueta com carvão. Ficaram boquiabertas por resultar, desta experiência, um desenho sem piada nenhuma.

Actividade 8.
Agrupamento de todas as superfícies espelhadas com um fio. De destacar nesta actividade: as duas passaram horas a olhar os reflexos das maçanetas das portas. O esmalte dourado sobre o volume, consideravelmente grande da maçaneta, mostrava uma nova dimensão do espaço. Rodaram a cabeça à volta da maçaneta e não pensaram em fazer o contrário.

Actividade 9.
Dos gatos fizeram sapatos. Os animais já estavam mortos e amontoados a um canto. Estavam prontos para ir, através do túnel até ao contentor do lixo do rés-do-chão. Mas antes disso e enquanto a pele ainda estava com bom aspecto, retiraram-na para a limpar. A vaidade deu-lhes coragem. Cada uma ficou com um par de botins e uma sacola a condizer.

Actividade 10.
Construíram um tanque num quarto do piso superior, tapando portas e janelas com pedaços de madeira e pedras e impermeabilizando com sebo de porco. Nadavam nuas horas a fio.

Actividade 11.
Como existiam infiltrações nos pisos de baixo, entretinham-se a contar gotas e a engoli-las.

Actividade 12.
Castigavam-se por diversão.

Actividade 13.
Esticavam o cabelo amarrando pesos nas extremidades. Assim, caminhavam com a cabeça erguida e a coluna muito direita. O cabelo muito para trás, arrastava-se parcialmente no chão e formava um ângulo de 45º com o plano horizontal.

Actividade 14.
Muitas vezes ficavam quietas e silenciosas. Alucinavam. Uma vez, Alva contou a Aurora que tinha visto dois cães a dançar muito apaixonados. Uma outra vez viu uma paisagem povoada de dinossauros e comboios gigantes.

É muito difícil lembrar-me de tudo. Passámos anos juntos nisto, sem dar conta das estações do ano e das festividades. Num domingo de tarde assolou-se sobre as duas um imenso cansaço. Aurora e Alva estavam pálidas e mal se moviam. Estavam subnutridas e não se lembraram de comer e não tinham tido nenhum plano que envolvesse satisfazer esta necessidade. A cozinha cheirava a leite estragado e a carne podre. Ainda restavam pedaços de alimentos rançosos e frutos fermentados em cima de uma banca de mármore. Aurora meteu serrim num prato, agarrou num pombo da janela e verteu o sangue em cima. Mexeu e comeu. Alva tentou fazer o mesmo, mas agarrou-se à barriga e vomitou. Desde então não se mexeu mais. Aurora calçou Alva com os seus botins de um dos gatos preferidos, sentou-a numa cadeira em posição de faraó, voltou-a de olhar para o sol do amanhecer e escreveu no chão – Alva Joyce.

Aurora ficou comigo ainda por muitos anos, alimentando-se dos pombos e das ratazanas. Executou, sozinha, actividades com dimensões modestas, completou alguns cadernos começados e deixou outros por acabar. Deixou-me à chegada dos novos senhorios, que por herança ficaram proprietários de metade da cidade. Naturalmente que nunca mais a vi. Ao sair escreveu o seu nome ao lado de Alva, completando-o com uma dedicatória – Alva Joyce & Aurora James aperfeiçoaram-se aqui.

Tuesday, September 16, 2008

(As presentes declarações são da responsabilidade dos seus autores)

Amizades Seleccionadas part I
Rapaz t-shirt echo beach, mangas caviadas, arrasta um casaco de ganga com correntes fala das suas experiências:
•Perto das 23h conduzo a bicicleta até à praça e fico à espera que passes por lá. Entretanto leio um livro com a luz laranja dos focos. Combinei contigo às 23.30, mas cheguei mais cedo porque sei que, por esta hora, aparecem os tipos dos cães. Às custas de pedir emprestado um isqueiro acabamos por falar sobre cães, gatos e criminalidade. Quando tu chegas eles desaparecem. Parece que se esqueceram de qualquer coisa em casa. Vão-se embora nervosos e com os cães atrás. Tiro da mochila uma cerveja que te ofereço e baixa completamente toda a excitação anterior. Começamos por um assunto qualquer e acabamos por discutir, mas não sinto nada. Não estou nem acelerado nem aborrecido. Estou contigo. Ficamos horas limitados às regras que estabelecemos – há assuntos interditos e muitas das nossas conversas são subentendidas. Por isso talvez possa não parecer uma amizade. Mas tu compreendes-me e eu não vou ter com mais ninguém quando preciso de um conselho ou de um abraço que nunca chegamos a dar.
•Da última vez fiquei tão mal disposta por ter estado contigo que mal tive oportunidade desatei aos berros a chamar-te imbecil. "Lembras-me sempre que tu é que decides, porque podes decidir, e decides por mim, o que vou ser". Somos completamente incompatíveis porque eu é que sou, porque quero ser, responsável por aquilo que me vai acontecer. E a dúvida que tu crias cresce e eu já não sei se estou capacitado a controlar o que quer que seja. Daí, depois do ataque de nervos ter passado, os dois dias a seguir vagueio pela cidade como se nada me dissesse respeito. Fico a tentar recuperar e a pôr as ideias no sítio. Com a regularidade que nos vemos, mês a mês, ontem dei-me conta que talvez sejas meu amigo. Secretamente admiro-te e é por isso que isto se repete. Depois, tens aquele péssimo hábito de me oferecer alguma coisa. É uma generosidade de quem se desculpa ou de quem quer comprar a atenção do outro. Penso que esta é uma amizade para durar.
•Se eu tivesse um irmão mais novo seria exactamente como tu. E como teu irmão vou proteger-te.

Rapariga 28 anos, de vestido preto, colar de pérolas falso e bolsa de napa preta, fala das suas experiências:
•Cresci a dosear as emoções e a tentar aprender com os erros. No entanto, quando posso decidir não dosear e perder o equilíbrio eu sigo, vou a onde me levarem. Não me lembro ao certo de como foi a vez anterior, mas aos catorze, perdi todas as resistências e pensei, de novo, que uma amizade não tem limites. Correu mal, naturalmente e poupo os detalhes. Aos quinze encontrei uma oportunidade para voltar a experimentar uma forte amizade, desta vez com mais precaução. Resultou porque criei um reservatório de energias à parte que iam para outras direcções. Pensei, as amizades estão resolvidas, não volto a pensar no assunto, estas já não me assustam.
•Crescemos juntas e isso não basta para sermos amigas. Um dia disseste-me que não era possível mudares mas ainda era muito cedo para dizeres isso, podias tê-lo feito. Mas eu não mudo ninguém, porque não posso retirar o que há de próprio e de irrepetível em cada um. Pensei, então, que um dia ia gostar de ti como és e que nos íamos aceitar mutuamente – mas isso nunca aconteceu. Passaram-se alguns anos e desconfiamos agora uma da outra e se dialogamos é como se fossemos duas estranhas. Em certos momentos arrependo-me de ser eu mesma ao teu lado, sinto uma fraqueza, de ser sincera, porque é uma perda de tempo.
•Crescemos juntas e eu admiro-te. A ti não te prendo com emoções excessivas, não posso porque tu és igual a mim neste aspecto. Às vezes saímos juntas e eu penso que toda a gente te admira e eu fico encantada.

Outra rapariga, de botas vermelhas, fala das suas experiências:
•Penso que vejo a realidade sempre distorcida, porque tento vê-la como tu a vês. És um dos fantasmas do passado que não vai embora. E há anos que funciono com um reizinho a mandar fantasmagórico. Ontem, numa viagem de carro contaram-me dos bebedores modernos de sangue – quase vomitei na bomba de gasolina. Os fantasmas bebem sangue pensei eu?
•Dizes que gostas de mim até aos poros. Isso é bonito. Não nos vemos muitas vezes e por isso não exercitamos a amizade. De qualquer maneira, penso que não gosto de amizades fáceis, por isso esta vai sendo adormecida.
•Estávamos as duas num concerto. Tu chamavas a atenção de toda a gente e por isso meti conversa. Disse-te que parecias ser muito criativa e eras. Um horror de tanta criatividade. Não há uma palavra que não rime com outra. Acontece o mesmo com as cores e com tudo que se possa ligar entre si. Cansas-me muito e por isso estamos juntas até duas horas menos de uma vez por mês. Parecemos duas desconhecidas em momentos sociais, mas quando pudemos estar sós não perdemos tempo e somos totalmente honestas e generosas em tudo o que partilhamos. Falamos de amor como se não existisse outro assunto. Falamos de amizade como se fosse o modelo de todas as relações. Eu nunca penso em ti.
Matisse Hurt Rejection
Tradução: My-teeth-hurt;

Matisse (Letónia) hóspede é escultor after Matisse, impressionista;
Matisse, alugou outro quarto em outro canto da cidade;
É igual a: logo, vou ao dentista.
E no início começou assim:
Clare:
–“Isabel look at this (showing me a book with jokes for & about artists), it’s about your new guest! One artist goes to the dentists and says: ‘Matisse hurt’”

Monday, September 15, 2008


1. O leão de Bristol
O conselho foi generoso: ou és brava e corajosa ou não mergulhas.
2. Em breve texto sobre a amizade.

Tuesday, September 09, 2008

www.bfeditora.net

MINOR BREAST


1. Minor Breast a imprimir amanhã. E na sexta-feira a sair da Hogarth Press.
(imagem de joli compositora, uma das melhores participações)